segunda-feira, 8 de maio de 2006

Poesia da vida























O mundo cai na sua estúpida e utópica perfeição, enquanto nós, meros fantoches, somos guiados para um palco e humilhados sob o olhar curioso de gente que apenas sabe como nos magoar. Não há quem mande flores, quem bata palmas, apenas quem nos humilhe, quem nos atraiçoe e quem, mesmo sem saber, nos vira as costas quando precisamos de um abraço.
Por vezes ficamos á espera que nos tragam flores em vez de plantarmos um jardim, ficamos à espera de um sorriso em vez de dizer algo que faça os outros sorrir e depois sofremos porque ninguém faz nada por nós.
Nada nos é fiel neste mundo! Nem mesmo as folhas brancas nas quais escrevo a minha poesia. Na verdade, essas vão-me matando aos poucos, vão-me roubando a alma, vão deixando a minha dor impressa como se o que sinto se pudesse ler.
Eu sei que não podem... as palavras não podem explicar a dor, as pessoas não podem entender os corações alheios e, acima de tudo as não podem entender os corações lendo essas palavras que nada explicam.
Eu não me sinto como um mero fantoche do mundo, sou também escrava das palavras e da poesia, sou escrava deste estúpido defeito que me leva a escrever o que sinto em vez de me deixar ser triste sozinha, longe de tudo o que é mau.
A poesia não me ajuda, ao contrário do que todos pensam, deita-me abaixo, lembra-me o que perdi, do que desisti e prova-me que, bem no fundo, preferia que a vida fosse mais matemática do que literária.
Na matemática tudo é fácil porque tudo é certo. Tudo tem uma solução e, quase sempre, apenas uma, sem necessidade de escolher através deste nosso céptico coração que escolheu, há muito tempo, apenas acreditar que não se pode acreditar em nada.
Mas, para mim, a vida é poesia e a poesia, tal como o fado, traz mensagens tristes, taciturnas, melancólicas, que os corações mais maduros e mais saudáveis não podem descortinar.
Basta-me pois esconder nos números aquilo que não posso explicar com palavras, esperando e desejando, que a vida seja como uma soma em que os medos e a tristeza não podem entrar e sorrir á vida mesmo quando esta não me sorrir.
Pois, tal como sempre ouvi dizer: "Os mais fortes são aqueles que plantam o seu jardim, ao invés de esperar que alguém lhes traga flores" e a poesia, sendo o meu mundo e o meu castigo, será para sempre, sem sombra de duvida, o jardim que tenho de plantar...

Marina Ferraz

*Imagem retirada da Internet