terça-feira, 29 de julho de 2025

Jogos equilibrados

 


Quando tens uma mente agitada, todos os momentos são de análise. Não importa se está calor. Se estás na praia. Se a companhia é boa e levaste um livro. Não há nada que te distraia do mundo, da injustiça, da triste realidade que se abate diariamente sobre ti. Não é só o cartaz sorridente da menina que se candidatou à câmara do teu município, provavelmente para o limpar dos ratos ou para incentivar crianças violadas a manterem a gestação. É tudo. A conversa da pessoa que passa a defender o genocídio com o “não foi Israel que começou”. A rapariga a ler na toalha em permanente estado de alerta e que se encolhe um bocadinho sempre que passa um homem a falar mais alto. O jogo de... vólei?!... que acontece à tua frente e que te lembra a realidade da mulher na sociedade de hoje.

 

Atentai, senhoras e senhores, penso com ironia, ao jogo mais equilibrado de todos os tempos! De um lado temos quatro homens, físico relativamente treinado e experiência de jogo. Do outro, sete raparigas, todas pequenas e jovens – a maioria não terá mais de um metro e quarenta e a mais velha (a única mais velha) não terá mais de treze ou catorze anos, enquanto a mais nova não terá mais de seis ou sete. Jogo equilibrado, julgam eles! Estou absolutamente certa, porque os ouvi, à chegada, dizerem: vocês fazem uma equipa. Para equilibrar forças, certo? Condescendentemente, até permitem que elas, não sendo um jogo formal, possam dar mais de três toques na bola, enquanto eles – coitados! – têm de se ater às regras.

 

O jogo começa. Eles passam a bola com facilidade uns aos outros e por cima da rede. Elas atrapalham-se na confusão de ter gente demais em campo e algumas – normalmente as mais baixinhas – nem chegam a tocar na bola. Ocasionalmente, quando uma atravessa o campo e embate no campo deles, entreolham-se e permitem que elas marquem um ponto.

 

Claro! Todos se riem. Estão bem-dispostos e divertidos. Elas também. Tento pensar, dentro dos meus calções de ganga e t-shirt oversize preta - nada contra o bikini que tenho por baixo, mas as nortadas portuguesas transformam frequentemente a praia numa experiência de crioconservação! – que estou a ser demasiado crítica.

 

Penso-o assim: Eles estão a divertir-se, por que raio é que isto me incomoda tanto? Estou a ser demasiado crítica. E estou. Raios! Não faz de mim nada boa pessoa, pois não? Irrito-me comigo própria. Mas, depois, penso melhor. Não é o jogo que me irrita, mas a metáfora. Irrita-me que se equilibre o jogo da vida quotidiana com estratégias que não dão qualquer vantagem à mulher, servindo apenas para dar argumentos aos homens. Como assim, estás em desvantagem? Vocês eram mais e até vos permiti regras mais suaves? A falta de espaço para agir, a falta de altura para competir, a falta de força e de experiência... nada disso é olhado. As falsas vantagens cobrem a desvantagem óbvia com uma capa de condescendência. Como a mulher que tem sorte em ficar em casa com os filhos porque o pobre do marido trabalha. E o sonho dela que se lixe. Como a mulher que trabalha na empresa X e até chega ao cargo que ambicionava. E as horas extra, o esforço extra, invisível. Como a mulher que caminha na rua, vestindo o que lhe apetece. E os riscos que corre, que se ignorem.

 

Uma vez perguntaram-me se o feminismo ainda era necessário. E eu respondi: cada vez mais. Ainda não sabia que o mundo iria para onde, atualmente, está a ir, e já o dizia. Hoje, não ser feminista, é ser conivente com um sistema no qual a mulher é aniquilada por estratégias diretas e indiretas. Diria uma grande amiga: é um mundo de homens que odeiam as mulheres. Eu acrescento, porque nasci com jeito para a advocacia de belzebu... com exceções, felizmente!

 

Seja como for, e sem querer estragar a diversão destas onze pessoas que jogavam algo que pretendia ser vólei na praia, fico à espera de jogos mais equilibrados. Mas eles não se equilibram sozinhos. Eu sei que gasto esta palavra... mas sinto a areia a correr vertiginosamente na ampulheta da vida, e sou fã de repetições. Lutemos, gente! Lutemos!


Marina Ferraz




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terça-feira, 22 de julho de 2025

Mal entendido

 

Imagem gerada por IA

Creio que tenho sido profundamente injusta com a classe política portuguesa. Talvez lhes deva um pedido de desculpas. Talvez devesse dar as costas à chibatada e, por minha própria iniciativa, permitir ou até incentivar que continuem - agora com maior facilidade de sua parte e voluntarismo de minha – esse árduo trabalho de me reduzir o corpo a carne moída para lhes alimentar as anafadas contas bancárias. Sim! Eu tenho sido injusta. Cruel. Dona de um esquerdismo incompreensível. Woke. No mínimo, talvez devesse reunir os textos antigos em frente ao parlamento, atar-me à estaca central e pedir que lhes ateiem o lume.

 

Eu realmente interpretei mal o texto. A intenção. Com olhos cheios de mães a terem e perderem filhos em ambulâncias, pessoas a verem casas (podemos chamar casas a barracas?) demolidas, gentes trabalhadoras sem dinheiro para rendas, que se reúnem nas ruas para viver a vida frugal da miséria, imigrantes atirados para fora das fronteiras outrora hospitaleiras. Com olhos cheios de mulheres a serem violadas e mortas, de uma desatenção crítica às crianças que morrem à fome além-fronteiras, de florestas queimadas por interesses económicos, de empregos roubados pela inteligência artificial, de impostos sufocantes que dão aos trabalhadores independentes a vontade de não viver de todo, de ódio assassino nas ruas. Com os olhos cheios de tudo isto e tanto mais do que isso, eu falhei na arte de ver a realidade. Foi um mal entendido! Como queria, agora, redimir-me de todas as críticas que fiz! Como queria, agora, ter a máquina do tempo que me permitisse retirar toda a verborreia que utilizei para atribuir títulos malogrados e toda uma diversidade de impropérios àqueles que, claramente, tentavam apenas manter-se coerentes com as ideias propagadas.

 

No centro das suas intenções – escritas em programa – ditava-se a intenção, desde o começo: erradicar a pobreza.

 

Calhou-me a mim – logo a mim, que tanto estudei e fiz por ganhar alguma cultura – a asnice de não entender que tudo o que foi feito foi neste sentido. O de permitir um país melhor. Menos pobre. Mais convidativo. Deveria ter entendido, antes de discursar contra o sistema. Pobre tola! Tudo era estratégia. Tudo era tática. E poderá estar a correr sobre rodas, rumo ao futuro que se quer. Afinal, qual a melhor forma de erradicar a pobreza, do que erradicar os pobres?

 

Génios! São génios que temos a governar-nos. E realmente talvez salvem Portugal.

 

Pena tenho de quem votou neles, julgando que faria parte desse Portugal que vai ser salvo.

E que agora espera na fila, para arder comigo.

Para que a pobreza seja erradicada.


Marina Ferraz




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terça-feira, 15 de julho de 2025

A palavra difícil

 

Imagem gerada por I.A.

Apodítico, exórdio, prosápia ou ubérrimo. Incentivo-vos a abrir um dicionário a sério. Daqueles clássicos, feitos de uma tecnologia intemporal chamada papel. Incentivo-vos a folhear esse dicionário – por favor, sem o desfolharem! – e a beberem, não tanto o significado de palavras como as que iniciam este texto, mas a variedade de vocábulos similares. Raros. Difíceis na língua e no entendimento. Incentivo-vos a descobrirem, entre as palavras que saem à rua, aquelas que ficam nas bibliotecas, nas prateleiras, sentindo-se inúteis. Devem ser mulheres, porque dizem que são difíceis...

 

Às vezes, eu abro o dicionário para olhar para elas. Peço-lhes desculpa. Apresento-me àquelas que ainda não conheço. Algumas são pedantes e não me respondem, porque o meu nome é simples. Entendo-as. Quem é renegado raramente confia nas vozes brandas, com medo do abandono ou da traição... Outras, ainda assim, atraem-me, cativam-me. Dizem-me para lhes conhecer os sentidos. De todas, no entanto, recebo o mesmo queixume. Aprenderam sobre si próprias que são difíceis. E é então, ao ouvir esse lamuriar, que me sento no trono de azulejo do chão da casa e inicio o monólogo.

 

A palavra mais difícil do dicionário sai à rua. Prostitui-se na boca de toda a gente. Imprime-se em cartazes políticos, grita-se nas altas instituições e nas tabernas. Nas escolas e nos jardins. Nas casas de família, sejam as famílias tradicionais, monoparentais ou queer. Essa palavra é de entoação básica, curta para não atrapalhar a vocalização, rápida para não gastar o precioso tempo de uma geração digital, permanentemente ocupada com merda nenhuma. Vem no dicionário, mas desconfio que ninguém alguma vez a procurou, porque uma criança a usa entre as cinco primeiras que aprende, quando não calha ser logo a primeira, para desanimar mãe, pai, avó e avô, que tanto fizeram para soltar a língua do petiz com a comprovada evidência vocal de que são os grandes favoritos do bebé. A palavra mais difícil do dicionário não é, portanto, difícil de conhecer, difícil de dizer, difícil de identificar. Mas – vá-se entender – todos os dias deseja ser antes uma espécie de apodítico, exórdio, prosápia ou ubérrimo, para que se justifique a falta de entendimento.

 

Por esta hora, estão as palavras todas do dicionário na página aberta, focadas em mim, que sou só uma desinteressante Marina – “local, dentro de um porto, dotado de vários cais e de instalações de apoio, destinado ao estacionamento e abrigo de pequenas e médias embarcações, geralmente barcos de recreio” – tentando descobrir do que estou eu a falar. Mas as palavras são como cerejas, já lá dizia a minha avó. E continuo a verborreia.

 

A palavra mais difícil da língua portuguesa não é longa ou técnica. Não exige um conhecimento lexical profundo, nem qualquer perícia semântica. Não é extravagante, exagerada, fácil de ser confundida com outras, seca ou estranha. Não usa letras estrangeiras. Não tem acentuação incomum. Não.

 

As palavras do dicionário estão agora aos pulos de curiosidade. Sorrio-lhes. Continuo:

 

Exatamente! Como vocês, que ainda não perceberam que vos dei já a resposta. Não. É essa a resposta. Não. E ainda me irão explicar um dia como é que da pessoa mais simples à mais erudita se mantém esta imensa dificuldade de ouvir, dizer, entender e respeitar o “não”.

Porque desconfio que se o “não” fosse fácil, teríamos menos violações, violência e assassinatos. Teríamos mais vozes a dizer “não” ao racismo, à xenofobia, à guerra, à precariedade. Haveria manifestações que levariam a palavra na bandeira. Pessoas exaustas que o diriam aos amigos e amantes nos dias em que, simplesmente, é melhor ficar em casa. Mas não. Não se diz o não. Não se entende o não, mesmo quando alguém o diz.

 

Apodítico, exórdio, prosápia ou ubérrimo, assim como outros irmãos de elevada complexidade podem dormir em paz. São palavras que vivem felizes no anonimato. O “não” é um sem-abrigo. Palavra de rua. Tantas vezes inaudito. Tantas vezes dito e ignorado. Tantas vezes dito e contestado. Tantas vezes violado e maltratado. Tantas vezes sacrificado. Tantas vezes desrespeitado. É uma palavra difícil. Verdadeiramente difícil.

 

É por isso que, quando a uso, se a insistência vem, acrescento: abre um dicionário a sério. Daqueles clássicos, feitos de uma tecnologia intemporal chamada papel. Folheia-o – por favor, sem o desfolhares! – vai até ao “N” e vê se entendes que não é não. Mas efetiva, verdadeira e realmente! Afinal, nem todos somos um partido político, para pôr um “a menos que” no fim de todo e qualquer advérbio!

Marina Ferraz




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terça-feira, 8 de julho de 2025

Permanentemente

 

Tatuagem: Karls Tattoo

Quero gravar permanentemente na minha pele esse conceito. Quero injetá-lo nos poros, agarrá-lo com a força férrea da agulha e com a inexorável robustez da definição. Trazê-lo visível em mim. Não dona, mas portadora e espelho de toda a vastidão de significado. Trazer nessa palavra o mundo inteiro. Levar o mundo inteiro até aos olhos fugidios das gentes. Dizer-lhes que bebam da bênção, enquanto há bênção. Que lutem por ela, quando a não houver.

 

Houve muitos anos que foram um dia muito breve, e gente como nós celebrou a palavra. O conceito. Agarraram cravos como se fossem glória. Disseram “nunca mais”, qual criança que acredita na magia e jura, pés reunidos e cabeça na lua. Prometeram que depositariam nas mãos dos filhos a palavra. Para que os netos a herdassem. E depois os bisnetos. E assim sucessivamente, até que o “para sempre” se fizesse. Mas, da tirania, os filhos pouco se lembravam, os netos nada... e os bisnetos viram os pais cuspir no prato em que comiam, fervendo em fogo lento o despotismo de antigamente. Receita amarga, essa. Feita de muita saliva gasta em vão, com as ervas tóxicas do jardim dos abonados, fervido nos fornos nucleares da violência e mexido com a madeira suave de um lápis.

 

O caldo é azul e vermelho. O primeiro traçado. O segundo derramado. Tons que se reúnem no mesmo rio tirano. Tantos bebem dele. Tantos nadam nele. Tantos se afogam nele. Estou à margem. Foi assim que vivi a vida, e assim permaneço. À margem. Na margem. Odiando o ódio. Odiando quem me faz saber o que o ódio é, obrigando-me a senti-lo, porque não o sentir seria ofender os meus avós e todos os que, como eles, lutaram.

 

Quero gravar permanentemente na minha pele esse conceito. Com tinta, cravo o cravo em mim. Identifico-me como soldado na luta ingrata de uma minoria – será?!? – que ainda acredita. Sou a criança de pés reunidos e cabeça na lua. De cabeça na lua e corpo na luta.

 

Dizem que não se deve tatuar o nome do amor da nossa vida no corpo. Que pode não ser para sempre... eu sei. Sei que pode não ser para sempre. Desconfio que não será. Mas quero gravá-lo na pele por isso mesmo. Porque, mesmo acabando, assim o trarei na pele até ao último suspiro, escrito pela minha própria mão. E, depois da expiração final, depois de reduzida a fogo, poeira e nada... terei a eternidade para o viver. Entre as árvores e a ribeira, com os pássaros e as borboletas e os vermes. Até lá, quero ter no corpo o nome desse amor. Esse conceito herdado. A Liberdade.

 

Perguntam: E depois? Da tatuagem? Nada... Do conceito? Bem... não tenho filhos. Que o meu herdeiro seja o mundo!


Marina Ferraz




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terça-feira, 1 de julho de 2025

O Grito

 



Razão tinha Edvard Munch. Corria o ano de 1893 e ele sabia. Mas não era pioneiro de saber. Antes dele, tenho a certeza de que outros souberam. Beethoven, por exemplo, deve tê-lo sabido antes de 1796, quando a surdez começou a dar sinais. E, se fossemos a andar para trás, na busca dos cautos, acabaríamos nas cavernas, como acabou Platão em cerca de 375 a. C., a descobrir que, mesmo antes, já se sabia o que, agora, parece novo. Há coisas que, não sendo para que todos as saibam, são tão senso comum...

 

Hoje, falo de Munch porque olho a janela do mundo e vejo o grito. Um céu em chamas. O ar que ondeia, deserticamente, fazendo alucinar o dicionário. Sigo, como olhos ocos, as palavras dos outros. Tantas palavras para tão pouco pensamento. O ódio ao termómetro. O ódio aos outros. Até este calor é culpa do imigrante, do gay, das mulheres. E o termómetro vai acusando a subida. 40ºC. 46ºC. É demais. Ouvimos. Não se entende. Queixam-se os que vão a caminho da praia e os que têm de ir para o trabalho, onde o ar condicionado trabalha sem horário. Queixume atrás de queixume, no segredado riso da Terra, que reage sem culpa a anos e anos, e décadas, e séculos de agressão.

 

As alterações climáticas são, é claro, a mentira do nosso século. Discurso de uma esquerda caviar que quer fazer com que nos esqueçamos do importante: a raça. E todos sabemos que a raça portuguesa é de mar e glória, onde o clima é temperado e tirano. Está pouco habituada a este calor. Descrição que continuaria se não estivesse a ter um ataque de nervos só de o reproduzir. São mariquices, alergias, maleitas de gente de esquerda, de sintomas inevitáveis quando, ainda que ironicamente, se tenta reproduzir esse discurso semi-arbóreo, nascido mentes adubadas a estrume neonazi.

 

Volto a Munch que, mal por mal, é arte. Olho a janela do mundo e vejo o grito. Um céu em chamas. O ar que ondeia, deserticamente. E, voltando ao artista e ao famoso quadro, deixo um pensamento que nada mais quer do que tranquilizar aqueles que julgam que vos escrevo de uma piscina ou de uma casa com ar condicionado, toda cheia de privilégios: Também estou com calor! Não tanto como os escravos modernos que estão a palmilhar ruas para ganhar trocos, nem como os sem-abrigo. Não tanto como as pessoas que trabalham sem condições ou que passaram a tarde na fila para as repartições públicas. Mas também estou com calor.

 

O meu país está a derreter. Nos seus valores. Na sua política. Na sua economia. Na sua forma de ser, estar e pensar. O meu país está a derreter. Os termómetros acusam temperaturas impensáveis. E ainda agora começou julho... O meu país está a derreter. Mas sabem que mais? Estão a queimar as nossas vidas. A nossa liberdade. A nossa voz. E, longe, perto e dentro, Gaza está a arder. Vamos falar sobre isso? Ou é só um discurso da esquerda caviar? Ou também é a mentira do nosso século?

 

Estão 46ºC na capital, eu sei. Custa? Custa! Escrevo-vos suando. Mas não é só calor... também é areia nos olhos. Como Munch, sabemos... Falemos do que importa... Gritemos.


Marina Ferraz




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terça-feira, 24 de junho de 2025

Livros usados

Imagem gerada por I.A.

Gosto de ler livros usados. Principalmente livros usados que já foram lidos. Que trazem alguns traços de manuseamento. Páginas amarelecidas do tempo. Lombadas com pequenos riscos verticais, acusando abertura e que nos permitem saber que a espinha vertebral da obra, ali colando ou cosendo o miolo, sofre já os males da idade. Como entendo esses livros! Já lá vai o tempo em que a minha não tinha dano...

 

Um livro usado é um livro que já fez companhia a alguém. Que já se deu a alguém. Que, possivelmente, já dormiu na cama de alguém. Que, provavelmente, andou de mãos dadas com o absurdo da paragem, permitindo que o cansaço mergulhasse na história, na aventura da página seguinte.

 

Um livro usado já transformou pessoas apáticas em super pessoas. Já lhes deu alento. Já lhes segurou a solidão, agitando-a até que fosse apenas solitude. E já beijou na boca o tempo, já se estendeu pela imortalidade da mente humana e enraizou ideias, como quem rega a planta do canteiro.

 

Alguns livros usados não foram usados. Chegam-me às mãos, ansiosos e desconfiados dos meus intentos. Como se tivessem medo de que a capa lhes seja aberta pela primeira vez. Será que dói? Perguntam-me isto. Tento ser gentil com os livros usados que ninguém quis ler. Prometo-lhes que não os vou magoar, à medida que folheio uma página e outra. Carícia suave e terna, que eles acabam por amar, silenciando as perguntas e rendendo-se, enquanto descobrem que as mãos são mais suaves do que as prateleiras, e aprendem a respirar com os pulmões todos, sem a compressão dos irmãos-livro renegados que os apertavam.

 

Alguns livros antigos são arrancados das mãos de donos negligentes. Muitas vezes nem foram lidos, mas apenas maltratados. Estes são os mais difíceis de domar. São livros que não sabem aceitar um carinho, porque nunca viram carinho. Que têm medo de entrar na carteira, porque foram fechados e arrastados em mochilas, batendo contra todo o tipo de material, sem cuidado. Trazem capas e folhas amassadas. Encolhem-se, quando tentamos pegar neles. São desconfiados, difíceis de conquistar. Demoram a aquietar-se. As páginas vêm muitas vezes sublinhadas e riscadas, pendurando aqui e ali um homem-traço enforcado. Às vezes, quando perdem a vergonha, contam-me que foram à escola, mas não ensinaram nada a ninguém. Dizem isto com mágoa. Não era o que esperavam quando os tiraram da prateleira, na livraria. Tiveram os sonhos vilipendiados. Apetece-me beijar estes livros. A pouco e pouco, vendo-me o cuidado, eles aquietam-se. Quando o fazem, tornam-se os livros mais fiéis e dóceis. São livros que se lembram, depois de esquecer, o tamanho do verbo amar.

 

Quando arrumo estes livros nas prateleiras, depois de lidos, eles esperam que eu saia e falam uns com os outros. Contam que fiz chamadas apenas para ler frases soltas a outras pessoas. Que, sozinha, fiz comentários em voz alta, enquanto os lia. Que lhes disse “boa noite” sempre que me deitei depois de ler algumas páginas ou capítulos. Que, por vezes, me veem a levantar a custo porque me deitei três capítulos mais tarde do que o previsto. Ouço-os a rir, nas prateleiras. Soam todos gentis e felizes. Calam-se quando eu entro, evidentemente... só me falam para me contar as histórias que trazem dentro. Mas o que dizem uns aos outros, é muito mais...

 

Na caixa ao lado da prateleira, estão os livros que ainda não li. Ouvem estas conversas e aguardam pela sua vez. E, lançando as mãos ao próximo, eu amenizo-lhes a ansiedade. Calma, já aí vou! Irei. Enquanto puder.

 

Um dia, a capa da minha própria vida será definitivamente fechada. Encerrará o seu último capítulo. Espero que alguém cuide dos meus livros. Que alguém diga: foi a sua única pena, morrer antes de os ler a todos. Que alguém seja bondoso ao manuseá-los. Que alguém saiba que eles foram – são – o motivo pelo qual nunca fui e não sou só.


 Marina Ferraz




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terça-feira, 17 de junho de 2025

Receita do dia: Pedigree à Portuguesa

Imagem gerada por I.A.


Hoje apresentamos uma receita de dificuldade média, ideal para servir em dias frios, amenos ou quentes, e que serve cerca de 9,03 milhões de pessoas. Daria para os 10,2 milhões, não me entendam mal! Mas sabemos que aproximadamente 1,17 milhões são intolerantes e não engolirão o preparado, nem acompanhado de um bom vinho. O tempo de preparação varia, mas a receita tem sido aprimorada desde há mais de 5 mil anos. Os ingredientes? São variados! Ideais para uma dieta rica e completa.

 

Se quiserem preparar uma comida bem portuguesa, limitem-se a utilizar produto adquirido em território português. Vão precisar de Iberos, Celtas, Celtiberos, Lusitanos, Galaicos, Túrdulos, Fenícios, Cartagineses, Romanos, Suevos, Visigodos, Árabes, Berberes... opcionalmente podem também adicionar Espanhóis, apesar de eu continuar a insistir que isso é juntar um bocadinho da própria massa que estamos a criar (como quem faz caril com pó caril de compra... em vez de fazer efetivamente caril). Se não fizerem questão de ter um prato 100% luso, podem também acrescentar alguns produtos importados de países como o Brasil, a Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Goa, Macau ou Timor. Juntem tudo ao molho no liquidificador e voilá: um português com pedigree!

 

Era isto que queríamos: a mistura mais ousada de todos os tempos, feita do cruzamento meio louco entre gente e gente, e criando massa de humano. Com osso e carne, com sangue. Crenças dissolvidas e integradas, costumes que vêm do tempo em que o sol era Deus e outros que se criaram com a queda da chuva, com a queda das rosas, com o orgulhoso arco-íris que nasce e se põe nas ruas, com baldes e baldes de brilho dourado, purpurina e esperança.

 

O sabor desta receita é doce, porque a mistura se fez aos poucos. A massa foi descansando. Os travos mais inusuais e os mais típicos foram encontrando um equilíbrio. E a gente se fez gente, como a gente sempre se faz: um por cima e um por baixo, num encaixe perfeito, no momento em que só importa o agora.

 

O pedigree português é ser vira lata. E, por isso, se aclamava a cultura aberta, os braços abertos, a mesa da casa portuguesa onde fica bem pão, vinho e hospitalidade. O abanar da cauda aos outros, o dar uma história, uma família e uma merendazinha para o caminho de quem vem por bem.

 

Mas há quem não se alimente destes conceitos. Porque algumas pessoas foram criteriosas na abertura dos livros de História, fazendo esta receita apenas com uma porção de terra – possivelmente de Guimarães – uma laranjinha do Algarve, dois robalos da costa nacional e umas gotinhas de Atlântico. Quem cozinha com este leque limitado acha que o português, como o Mondego, nasce e desagua dentro da limitada linha da fronteira. E, no medo da falta, quer a fronteira fechada, para que não nos falte a matéria para cozinhar futuros amargos. Criam o seu prato simplista e feito de ignorância. Espalham a notícia de que fazem a receita original. O verdadeiro português com pedigree. O português de bem. Aquele que é de raça pura! O segredo da receita é Deus, Pátria e Família. Na cozinha, a velha senhora vai mexendo o tacho. Rega-se tudo isto com o sangue de inocentes. Vão os alienados comer, com ou sem reserva, ao Tacho do Facho. Comida semipronta e que evita os alérgenos que incomodam aqueles sensíveis 1,17 milhões de intolerantes.

 

Proponho uma entrada de bondade, antes de se servir o português com pedigree, aquele que é de mistura e faz tradição da diversidade. Proponho que se sirva uma sobremesa bem doce a seguir, que se prepare com especiarias internacionais e tenha sabores de cana e de café e de canela. Sirvamos isto tudo numa mesa ornamentada de cravos vermelhos e rebeldia. E para beber, uma sugestão, antes que alguém me considere traidora à pátria: um tinto encorpado da Adega Belém!


 Marina Ferraz




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terça-feira, 10 de junho de 2025

Pescoço

 

Imagem gerada por I.A.


O problema é o pescoço. Que o digam as pessoas com dívidas até ao pescoço, que vivem de corda ao pescoço, sofrendo o mal de uma economia que constantemente lhes põe os pés ao pescoço. Penduram ao pescoço o letreiro que diz "Persona non Grata". Se não produz, não serve. Adeus. As pessoas culpam-se umas às outras. Atiram-se ao pescoço uma das outras. A culpa mais culpada é do pobre mais pobre do que o pobre que se queixa. Vêm as forças policiais com meios insuficientes, e os jornalistas com o estúdio inteiro atrás. Pagam-se uns trocos pela narrativa que interessa. Corta-se o mal pelo pescoço. Que é como quem diz raiz. Mas a fala popular tem destas coisas, porque não saber pescoço é apanágio da educação moderna. Nas notícias, descobrimos que o Portugal futebolista volta para casa de taça na mão e medalha ao pescoço. Mais nenhum pescoço interessa. E seguimos, de pescoço sobre os ombros.


Inquilina das águas furtadas do pescoço, a garganta às vezes seca de calar. Causa desconforto. Não é um torcicolo, nem laringite. Não é refluxo, descansemos! É uma secura extrema, promovida pela enchente de palavras que inundou o peito, e condicionada pela dificuldade de organização coerente, que permitiria vociferar insulto digno de verbalização ou informação com real tempo de antena. Ocasionalmente, lá está: um pescoço que se ergue. Uma mensagem que importa. Um Presidente da República que lança mãos a pescoços alheios, em vãs tentativas de lhes manter seca a garganta. O silêncio é de ouro, dizia-lhe a mãezinha, essa outra senhora. Outra porque não é a minha. Outra porque é outra. E entenda cada um como quiser. Se puder. Fica a dever-se um pedido de desculpas e uma condecoração. Que mais uma, menos uma, também já não faz muita diferença... e há que ornamentar os pescoços agredidos, para que contribuam para movimentos mais anuentes de cabeça.

 

Abanamos a cabeça. Assistindo a isto. Precisamos do pescoço para o fazer. Damos graças pela brevidade da mudança no mais elevado quadro político. E depois recordamos. Há quem, de candidato, traga ainda o arrasto das palavras ditas sobre a tentação política. Se isso acontecer, deem-me uma corda para me enforcar. O problema, aqui, não é o pescoço, mas a falta de patriotismo, que Portugal sempre foi conhecido pela sua hospitalidade e pronta anuência... e, por despeito à pátria e seus bons costumes, parece que ninguém fez ainda a gentileza de ceder a corda ao homem!

 

Nas ruas, gente de pescoço caído faz da calçada portuguesa, mal cuidada em chão que o turista rico não pisa, o horizonte. Escavam o chão com os olhos. A sepultura já não parece mau destino. Ninguém faz nada. Enterram cabeça e pescoço na terra, como avestruzes. A garganta seca-me enquanto tenta pescar estruturas frásicas lógicas no meio do milhar de milhão de palavras que queria cuspir. Obrigo-me a endireitar o pescoço e a ver tanta opressão, tanta miséria, tanta aceitação.

 

É o filme mais triste de todos. O deste país, no qual o problema é o pescoço. E a falta da coluna vertebral. E da cabeça que perdeu...


 Marina Ferraz




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terça-feira, 3 de junho de 2025

A cozinha da casa-corpo

 

Imagem gerada por I.A.

O meu coração é a cozinha da minha casa-corpo.

 

Apercebo-me disto enquanto faço mais um auto-de-fé à casa, libertando-me de quase tudo o que é mundano. Desapego-me de bibelôs, essa espécie de apêndice. Atiro roupas para dentro de sacos, libertando espaço pulmonar para novas respirações. Desapego-me até de livros. Livros! Para que as sinapses aconteçam de forma mais leve e livre. Deles, percebo, basta-me o conhecimento que ficou.

 

Vou libertando as divisões de quase tudo. Dividindo o que é de quem. Oferecendo as coleções que tanto amei aos meus sobrinhos. Dando a mão ao tempo do desapego, dizendo: não levo nada para o caixão.

 

E a cozinha ali fica. Com todos os seus tachos e todos os seus pratos. Como se eu precisasse de todos. E sei que não. Sei que só tenho duas mãos e uma boca. Detergente da louça e esponja. Até o luxo de uma máquina de lavar. Mas fica difícil arrumar as coisas. Há uma sensação agarrada às coisas, quase tão entranhada como a gordura que fica depois de fritar rissóis... a sensação de que preciso de ter tudo aquilo à mão. De que preciso de ter tudo aquilo ao pé.

 

Não me entendam mal! Quase tudo o que mora nos armários da minha cozinha é desnecessário. São amores antigos. E crónicas de uma vida que já foi. Chávenas rachadas que contam a história bonita de um tempo que já está reciclado. Talheres que foram roubados de restaurantes. Formas de bolo que não podem ser usadas... mas que fizeram aquele bolo, naquele dia... aquele, que ficou partido num canto, justamente porque a forma já estava a precisar de reforma!

 

A casa leva uma razia e a cozinha ali fica, impávida e serena, com o seu ar altivo, a dizer que é melhor do que as outras divisões. O corpo leva uma razia e o coração ali fica, impávido e sereno, com o seu ar altivo, a dizer que é melhor do que os outros órgãos.

 

Sim! O meu coração é a cozinha da minha casa-corpo.

 

Talvez venha a esvaziar a cozinha antes de esvaziar o coração. E talvez, um dia, cansada, decida limpar igualmente esse espaço confinado do meu peito. Mas eu sei... quando o fizer, ainda que desapareçam talheres e pratos e chávenas rachadas, formas de bolo e esperança... ficará nele um nome... entranhado em todas as frestas e recantos, como a gordura persistente depois de se fritar rissóis.


 Marina Ferraz




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terça-feira, 27 de maio de 2025

Desculpa, Saramago...

 

Imagem gerada por I.A.


Há alguns dias, cruzei-me com esta frase de José Saramago: “A harmonia é compatível com a indignação e a luta; a felicidade não, a felicidade é egoísta”. Algo estranho aconteceu. Discordei.

 

Não é comum, entendam, que eu discorde do “nosso” Prémio Nobel da Literatura – como é engraçado que algo se torne “nosso” apenas e só porque nos traz o sucesso que, enquanto povo, não temos. Como se nos arrastasse da pequenez e nos aproximasse dos feitos de outrora, lembrados em hipérbole heroica, como se a crueldade não fosse a única imensidão da história. Sempre achei que Saramago tinha uma aura de iluminação, daquelas que cabem aos vanguardistas e aos visionários. Sempre achei que a veia (assumidamente comunista e de esquerda) continha uma sabedoria rara. Sempre achei que as críticas que tantas vezes ouvimos são constructo de pessoas que nunca se deram ao real trabalho de abrir uma das obras para a ler. Prova disso, se me perguntarem, é o facto de continuarem a dizer que Saramago escreve sem pontuação... e ainda espero encontrar esse livro sem pontos e vírgulas, que tanto criticam... o que tenho encontrado são livros com pontuação não convencional, que seguem o ritmo e a lógica do pensamento... e talvez por isso causem estranheza e incómodo a quem não pensa.

 

Tendendo a concordar com Saramago e, ainda que seja capaz de acompanhar a ideia e de entender por que o diz, esta frase deixou-me desconfortável. Deixou-me desconfortável, talvez, porque a minha noção de felicidade não existe desligada do outro, mas ancorada nele. Não é egoísta, está longe de ser incompatível com a luta, com a indignação, com Abril.

 

Nascida na Jangada de Pedra que anda por aí à deriva, sinto-me já afastada até dos espanhóis, que pertencem à Península, mas não à náusea cívica que veio substituir as noções de cidadania. As circunstâncias remetem-me para outras narrativas, mais dantescas e miseráveis. Lá fora, o ódio cospe-se em horário nobre e gente dorme na rua. A caixinha mágica mostra-nos gente que morre. Crianças que morrem. Bebés que morrem. Fome. Miséria. Guerra. Genocídio. A indignação e a luta dissipam-se na inexistência. Assim como a harmonia e a felicidade. Mas recuso-me a pensar que a felicidade é egoísta.

 

Recordo a frase da série After Life, de Ricky Gervais. Esse pedaço – talvez mainstream – de existencialismo episódico traz consigo pérolas de sabedoria. È Anne, uma viúva que encontramos num banco de cemitério, que nos leva à vida, dizendo “A felicidade é incrível, tão incrível que não importa se é nossa ou não. É algo maravilhoso. Uma sociedade cresce bem quando um homem velho planta uma árvore à sombra da qual sabe que nunca se sentará. Boas pessoas fazem coisas para outras pessoas. É apenas isso. Fim.”.

 

Gosto desta perspetiva de felicidade. Esta que não é egoísta, nem incompatível com a luta. Esta que pode exigir que se pense no outro. Que se lute. É assim que quero ser feliz... e sabem os deuses que não espero o sobejar de harmonia nesse caminho.

 

Talvez seja isso. Talvez importasse pensar a felicidade como um produto simbiótico. Algo que só posso ter, dando-me. Algo que só posso querer para mim, se quiser para todos os outros. Faz falta que se alimente a felicidade. Pela manhã, como quem põe ração ao gato. Pelo dia, como quem concede esmola ao sem abrigo. Pela noite, como quem beija os filhos na testa e lhes ajeita as mantas, depois de uma história de encantar.

 

Saramago também disse "Não sou pessimista. O mundo é que é péssimo." Com isto, eu concordo. Mas recuso-me a acreditar que tenha de ser assim.

 

Peço que me perdoem. Tanto de bom já foi dito, antes que eu aprendesse a juntar as letras para formar palavras, que hoje sinto mais falta das palavras dos outros. Salto da literatura para o palco. Despeço-me nas palavras de Raul Solnado: “Façam o favor de serem felizes”.

 

Mas acrescento, do meu coração.

Para os outros, pelos outros... e lutando para que todos encontremos uma felicidade igual.”

 

Todos. Mesmo aquela pessoa de quem não gostam. Mesmo os palestinianos e os israelitas. Mesmo quem foi votar e deixou o cérebro em casa. Se toda a gente for feliz, para quê a guerra? Se toda a gente for feliz, para quê a maldade? Se toda a gente for feliz, o mundo será melhor. Desculpa, Saramago... Não há pensamento menos egoísta!


 Marina Ferraz




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