quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Dorme, coração...


Fecha os olhos e dorme, meu doce coração. Vou cantar-te uma música de embalar. Baixinho, quase em sussurro. Depois vou ler-te um poema. Será o último poema que hás-de ouvir.
Dorme, coração sofrido. A culpa foi minha, não carregues mais o peso desse amor. Abranda um pouco, acalma toda essa dor, respira devagarinho o ar frio desta noite de Verão.
Não tenhas medo… hei-de estar sempre contigo. Guardar-te-ia em mim ainda que tal pudesse ser diferente.
Dorme. As estrelas do céu sabem a tua história. Podes adormecer nessa linda memória que é o teu único e real amor. Essa memória que te amarra e te magoa. Nada mais te irá magoar, eu prometo.
Repousa um pouco, meu doce coração. Tu e eu vamos embora. Vamos sair deste lugar e procurar um outro. Um local onde as histórias bonitas, como a nossa, possam realmente cruzar as muralhas da minha alma em forma de som e encantar aqueles que jamais se sentiram como nós.
Entre as notas da música que te cantarei e as estrofes do velho livro de poesia, encontra a tua paz e adormece. Abranda um pouco e um pouquinho mais… então, quando estiveres preparado, pára de bater.
Dorme, amargurado coração, que eu dormirei contigo nesse sono eterno que ninguém poderá perturbar. Nada mais te magoará, eu prometo!
Hão de dizer que fomos fracos mas riremos deles enquanto atravessamos os mais belos jardins, rodeados de rosas e lírios brancos. Só nós saberemos qual a força que tivemos, qual a força de que precisávamos para abdicar da nossa linda história de amor.
Fecha os olhos e dorme. Nunca mais hão-de te apunhalar. Não o permitirei… não mais terás culpa.
As nossas lágrimas secarão. Seremos apenas a voz do vento. Então, espreitaremos pela sua janela uma última vez. Enquanto dormir, dir-lhe-emos que o amamos sem que ele possa magoar-nos.
Voaremos juntos e para bem longe. Teremos a eternidade nas mãos, a tão desejada paz no olhar.
Dorme, meu doce coração, dorme somente… Não tenhas medo! A noite caiu. Chegou a hora de sonhar…

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Parte de mim...

Costumo dizer que me basto. É o modo mais simples e rápido para explicar porque estou sozinha. Talvez não seja o mais verdadeiro, mas é um modo de aprender a viver comigo própria sem chamar solidão a cada respiração sem nexo.
Costumo fingir que gosto de mim. É uma peça de teatro que me habituei a representar e cujo papel me agrada. Representando-o amo-me por momentos, acredito em mim!
E a vida, essa que estende sob os meus pés um tapete escarlate de espinhos, sorri-me ao de leve cada vez que finjo ser feliz.
Mas, depois, eu acordo e estou sozinha, olho para mim e estou vazia, vagueio pelas ruas e ninguém me vê. Qual fantasma invisível de alma e coração quebrados, pergunto a mim própria porquê enquanto as nuvens dos meus olhos fazem chover na minha face.
Querendo dar um pontapé ao mundo, sou eu mesma a responder à minha pergunta: “Porque me basto” – digo convicta. Mas as minhas palavras, quando ditas pelos meus lábios e escutadas pelos meus ouvidos, não soam reais.
Sem mentir, tento enganar-me e não consigo.
Então, vexada pelos meus próprios pensamentos, procuro o pedaço de mim que me falta. Não o encontro nas ruas, nem na praia, nem no mar…
Cega pela mágoa, rasgo-me em mil pedaços como se fosse uma folha velha, procurando-te em mim. Encontro-te naquele pedaço rasgado em forma de coração.
Então, fragmentada, uno-me como um puzzle ao qual irremediavelmente faltam peças. Agarro essa memória de ti junto ao peito e durmo tranquila.
Não tento enganar-me: não gosto de mim mesma! Mas gosto do pedaço de ti que mora em mim. No final é somente isso que me basta.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet