sábado, 11 de junho de 2011

No dia em que te conheci

No dia em que te conheci não havia sol. Nem nuvens. Nem qualquer indicio de chuva. Havia as estrelas e a lua, marés de ondas sem sal e copos vazios.
No dia em que te conheci, o mundo parou. Parou de girar sobre si mesmo. Ou em torno do sol. As pessoas não andaram. Não falaram. O vento não soprou.
No dia em que te conheci eras tu e eu. Só nós no meio de uma multidão que não existia. Tu e eu. Só nós.
No dia em que te conheci perdi o Norte e o Sul. O Este e o Oeste. Perdi o rumo e o horizonte.
No dia em que te conheci esqueci tudo o que tinha vivido, todos os meus sonhos e todos os meus desejos.
E foi tudo para mais tarde descobrir que, na verdade, nunca te conheci.

Marina Ferraz

*imagem retirada da Internet

quarta-feira, 1 de junho de 2011

No teu son(h)o

Fica quieto. Vou deitar-me na tua cama e ficar acordada a ver-te dormir. Quero imaginar as paragens e as gentes que te povoam os sonhos. Imaginar se são pessoas como eu, se são diferentes de mim, se pensas que alguém pode ser igual a mim. Se sabes que existo...
Quero ver o teu sorriso ligeiro, ouvir o teu respirar pesado e ausente, contar às estrelas que te descrevo em quatro letras. E, se as estrelas responderem, invejosas, vou dizer-lhes com a maior altivez que não te podem ter. Não podem porque eu não posso. Porque ninguém pode. És demasiado especial para seres de alguém...
Podes dormir. Vou afastar-te o cabelo dos olhos e acarinhar-te o rosto, enquanto sossegas. E vou pedir à lua que cale a serenata tonta com a qual me conquistou, para poderes dormir em silêncio.
E, então, o sol vai começar a nascer e as minhas asas negras vão abrir, em aviso, porque eu pertenço à noite. E vou deixar uma lágrima cair na almofada, antes de voar, por entre as sombras, rumo a um lugar perdido, enquanto espero que anoiteça novamente.
Somos de mundos diferentes. Toda a gente é. Ainda assim, nesse lugar perdido entre sombras e luar, vou imaginar que acordas e me vês a sair pela janela dos teus sonhos, a tempo de selares a minha noite com o beijo do teu dia. E vou adormecer para o sol, sorrindo, sem saber como posso ser eu a fada e seres tu, mero humano, um imortal. Um imortal que viverá para sempre nos dias das minhas noites, enquanto houver dias e noites, enquanto as minhas asas negras sobrevoarem esse mundo que nem sabes que existe.


Marina Ferraz
*imagem retirada da Internet