terça-feira, 29 de junho de 2021

Amor preconceituoso

 




Tenho o amor mais preconceituoso do mundo.

 

Não vou dizer que goste de o ter. Incomoda-me. Faz-me comichão. Leva-me, muitas vezes, a chamar nomes pouco simpáticos a mim mesma, se calha ver-me no reflexo de uma montra. Detesto-o. Justamente porque se pinta todo de preconceito. Porque nem precisa dos estereótipos exacerbados para usar essa prenoção das coisas, que as reduz a muito pouco ou quase nada.

 

Quando algo nos incomoda desta forma só existem duas soluções à vista: o silêncio ou a palavra. O silêncio, filho da vergonha, é o que nos leva a fingir que o nosso amor pode ser algo mais do que preconceito. Usando dele e das suas virtudes, escondemos ativamente o estado tirânico que os sentidos nos assumem, decidindo que o mundo não saiba – não sonhe – que temos o amor mais preconceituoso do mundo. A palavra, usada como explanação, explicação ou justificativa, também serve de pouco quando os atos, totalmente independentes da língua e dos idiomas, se dirige para pontos cardeais opostos.

 

Tenho o amor mais preconceituoso do mundo. Medo de me calar, para o esconder, e de sucumbir aos seus ímpetos. Medo de falar, para me justificar, e de ouvir-me num revirar de olhos, julgando-me em primeira mão pela grande imbecilidade de transportar em mim um sentimento tão déspota, egoísta e tirano.

 

Às vezes, deixo passar o tempo. Umas horas. Uns dias. Umas semanas. Uns meses. Tento ativamente pensar noutra coisa qualquer além do amor, para ver se, esquecido numa das gavetas poeirentas do cérebro, ele migra do lado direito para o esquerdo e se racionaliza. Um amor de esquerda, penso eu, seria mais aberto à diferença.

 

O plano parece certeiro e a aplicação é eficaz, mas o resultado é nulo, falho, erróneo. Porque não pensar o amor é, ao mesmo tempo, deixá-lo livre para se construir nas suas ideologias redutoras. Quando volto a pensar nele, intensificou os idealismos que o tornam parte desse preconceito universalmente grande. Dou por mim a entendê-lo como irremediável. Incorrigível. Todo feito dessa emoção pouco sadia que desprezo.

 

É então que preciso de admitir. Mesmo sabendo que de pouco serve admiti-lo, se não consigo mudá-lo. Tenho o amor mais preconceituoso do mundo.

 

Entendam. É o amor mais preconceituoso do mundo. Não porque tenha problemas com raças, etnias, nacionalidades, idiomas, sexos, géneros, deficiências, estados de saúde ou problemas de mobilidade. Mas porque, no momento de reduzir, nem considera quaisquer destas variáveis.

 

Detesto sabê-lo. Mas é preciso saber. E, sabendo, é preciso admitir. Tenho um amor preconceituoso. O amor – diria eu - mais preconceituoso do mundo. Dono de um só preconceito e que é, sem sombra de dúvida, o maior de todos porque exclui, aparta, renega e discrimina quase todos.

 

É o amor mais preconceituoso do mundo.

 

Se não fores tu, não serve!








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terça-feira, 22 de junho de 2021

Os gritos das paredes

 


Eu até te mandava calar! Mas para quê?!

 

Tenho na cabeça despedidas que nunca me deste. Ouço tantas vezes a palavra “adeus”, que ela perde o prefixo e sinto a alma tentada a orar. Não o faço. Os deuses andam cansados de pedidos humanos vazios e eu não tenho palavras minhas. Tenho só as tuas. Essa voz permanente no recanto da minha cabeça, onde se atropelam pensamentos por falta de espaço.

 

Às vezes, imagino as palavras da minha mente a viverem como morrem as pessoas quando há acidentes em locais com saídas de emergência insuficientes. Algumas, por sorte, aproveitam-me os dedos. As outras amontoam-se na porta da boca, num aglomerado que as esmaga, que as sufoca, que as impede de sair. Fecho os lábios e deixo que morram. Não tenho palavras minhas. Tenho só as tuas. As paredes gritam.

 

Há um sopro itinerante, que se estende pelas horas incessantes, na procura pelo sossego que não tenho. O eco permanente das promessas que eu já sei, desde os anteontens, que nunca serão cumpridas. E a saudade terrível que se imiscui com a dor, fazendo um cocktail perfeito do futuro que eu não quero... nem quero querer. E lá está a tua voz... tentando agarrar-me ao passado que eu quero... e também não quero querer.

 

Eu até te mandava calar! Mas para quê?!

 

As paredes gritam. Talvez por lhes ter espetado pregos, de uma forma tirânica e opressiva, sem realmente lhes perguntar se podia. Talvez sangrem e eu não vejo. Acontece-me muito. Sangrar sem ninguém ver. Chorar sem ninguém ver. Morrer aos bocadinhos, deixando cacos invisíveis pelo chão, sem que ninguém possa recolhê-los.

 

E as tuas palavras – porque esgotei as minhas - embatem contra a saída de emergência trancada dos meus lábios. Uma masmorra de dentes e lábios que sorriem. Lavo-as com pasta aromática e uma escova macia. Mas as palavras são fétidas e duras. Sinto-me maculada por elas.

 

A repetição das ideias causa-me desconforto. Adeus. Deus. Deu. Deu o que tinha a dar. Adeus. A distância entre a promessa que não se cumpre e a saudade é exatamente a mesma que existe entre a vida e a morte. Uma distância medida, não em milhas mas em segundos. As paredes gritam. E há as tuas palavras. Eu esgotei as minhas. Há só as tuas.

 

E, sabes? Eu até te mandava calar! Mas para quê?!

 

Calas-te sozinho!

 

E o que me incomoda nem é o silêncio...

 

... é a minha ausência de palavras.

 

... são os gritos das paredes.

 







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terça-feira, 15 de junho de 2021

Os outros

 

 Fotografia de Vanessa Oliveira

Os outros também somos nós.

 

Apercebo-me disto quando noto que ganhei, com o meu avô, o hábito estranho de comer bolo de aniversário com queijo e de molhar torradas com manteiga a mais no café com leite, deixando a ondear aquela camada de gordura para a qual a maioria das pessoas olha com repulsa. Para mim é apenas normal. Carregar o meu avô em mim, nesses pequenos hábitos do dia.

 

A sensação volta quando, passando pela hera ocasional das cidades, repito mentalmente a frase da minha avó, “quem por hera passou e uma folhinha não arrancou, do seu amor não se lembrou”, ou quando, mesmo sem medo, hesito um momento antes de fazer algo, trazendo na memória a ideia de que “cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém”. E mais ainda quando deixo a luz acesa quando adoeço. São hábitos e frases que muitos julgam estranhos. Para mim é apenas normal. Carregar a minha avó em mim, nessa pequena ciência que traz a vida e o carinho.

 

Da minha mãe, trago o hábito de andar e comer sempre como se estivesse atrasada, numa correria incessante contra relógios e agendas, ou o de pôr açúcar no leite com chocolate, ou ainda o de dizer “é o que é!”, por tudo e por nada. Ganhei ainda, com o meu pai, o hábito de começar quase todas as frases por “não”, incluindo as afirmativas. E tenho pedaços dos meus irmãos dispersos na vontade de ser melhor amanhã e de me dar aos outros, de forma natural, espontânea e, muitas vezes, sem considerar os efeitos secundários dessa dose excessiva de amor. Pode ser um contrassenso para muitos. Para mim não é. É apenas normal. Carregar os meus pais e os meus irmãos em mim, nos pequenos e grandes gestos, nos passos corridos e nas negações que, afinal, ocultam uma resposta positiva.


Trago, do meu primeiro amor, expressões ocasionais. “Enfin”, “fhum fhum”. Trago dele o “erm” e o estranho encanto por uma das minhas (improváveis) bandas favoritas. Uma paixão estranha por cordas-de-viola e carros antigos. Um gosto pelos caminhos noturnos pela serra adormecida. Alguns julgam que é uma contaminação caótica de coisas que nasce de uma influência excessiva. Mas é natural. Carregar em mim o que fez desse amor o primeiro. Carregar em mim o melhor que ele tinha para dar. Trazê-lo nos lábios, em expressões que entoam ainda a mesma canção dos lábios que, em tempos, se tocaram. E que – felizmente – hoje ainda se sorriem.

 

Em mim, ressoam traços das pessoas com quem me cruzei e me cruzo. Algumas delas foram passagem muito breve. Algumas, talvez venham a sê-lo. Momento. Mas deixaram algo. Deixam algo. E, sem ser dona dessas partes que comporto, compreendo que também eu sou os outros. Que os outros também somos nós.

 

Pergunto-me se algum dia deixei algo de mim em alguém. Como deixaram em mim. Uma frase. Um traço. Um fio de cabelo de memória que se perpetue nos dias e os faça pensar em mim. Pergunto-me se algum dia deixei algo de mim em alguém.

 

Os outros também somos nós.

 

Habituamo-nos a ser, com eles, nós mesmos com algo de novo. A personalidade prevalece, mas somos, em parte, maleáveis como plasticina. E ainda bem! Se tudo em nós fosse firme, depressa o mundo nos quebraria. A rigidez magoa muito mais do que ajuda. A aprendizagem dura uma vida. Ninguém é produto acabado.

 

Trago muitas coisas dos outros. Hábitos terríveis. Hábitos maravilhosos. Manias. Conselhos. Ideias. Frases feitas. E ainda bem que os trago! Enchem-me de coisas e sei que sou mais do que eu...

 

Mas, mesmo assim, nos meus dias tristes, não gosto muito de trazer os outros em mim.

 

Porque – sabes?! – de ti trago o terrível hábito – quase mania - de ser feliz. E sinto que traio a parte de ti que há em mim sempre que choro. E parece que me imprimiste o impossível na pele. E preciso de não ser tu para poder estar triste à vontade.

 

Nos dias tristes, quando te afasto, empurrando-te com as mãos fortes do pensamento, para não gozar do prazer da felicidade inebriante à qual me habituaste, não és só tu que tiro de mim. Dispo as camadas dos outros até que não haja nem café com leite, nem canja de galinha, nem “não” nas frases, nem caminho de serra, nem passo apressado para lugar nenhum. Quando te tiro de mim, afasto também os outros. E, quando os afasto - quando te tiro de mim - sinto mais a tua falta. E a deles. E a minha.

 

De repente sou muito pequenina. Ali. Porque os outros também somos nós. E, ao despir-me dos outros, eu sou só eu. O meu pequeno eu. O meu insignificante eu sem os outros.

 

Reduzo-me ao mínimo que sou. Descubro que sou muito pouco. E fico com saudades de mim. Desse eu, quando sou eu com os outros.

 







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terça-feira, 8 de junho de 2021

Se parares

 


Sabes o que acontece se parares?

Depende.

 

 

Rasgo as palavras com respostas que ninguém pediu. Agendas caóticas, fixando planos móveis. Riscando-os. Reagendando-os. Aproveitando as frestas da tarefa para encaixar o banho corrido. O treino corrido. A chamada rápida. A barra de cereais. Os meus pulmões já aprenderam técnicas de multitasking e há conferências ocasionais nos arredores do meu fígado, com sessões de brainstorming, onde se discute se o cérebro entrou de vez em época de monção.

 

O fígado fala baixinho, apodrecendo gradualmente a vodka e absinto, levando nas mãos esse copo meio vazio. Nenhum dos outros órgãos se importa grandemente com o que ele diz. A língua decadente e ébria fala da censura evidente. Mas eles têm mais o que fazer! Não há descanso que dure o tempo das exposições hepáticas fatigantes sobre a degradação do corpo. Só a melatonina se senta nessa plateia, pequenina e abandonada, sentindo que não serve o propósito divino que lhe gerou a existência. E, mesmo ela, desaparece rapidamente quando as brigadas de café invadem a alma, expulsando-a do banquinho triste que ocupara.

 

É verdade. O meu cérebro exerce papel ditatorial sobre as entranhas do meu corpo. A verdadeira razão pela qual eu nunca adoeço, é porque ele impôs normas severas sobre a realização de tarefas a cada um dos meus órgãos. Ininterruptamente, por mais de mil dias, este foi o contexto. A pouco e pouco, ele fez de mim escrava das suas vontades, repetindo, de volta em vez, uma frase-chavão:

 

Sabes o que acontece se parares?

 

É uma pergunta e uma ameaça. Eu não tenho a resposta. Ele também não. E nenhum dos dois quer tê-la. Nenhum dos dois quer descobrir. Continuo. Tudo o que sei é que pensar dói mais do que me doem as pernas. Ou os braços. Ou as pálpebras pesadas dos olhos cansados. Bebo um café. Non stop. Enquanto trabalho. Os Deuses, digo, deram-me duas mãos.

 

Sabes o que acontece se parares?

 

Entras pela sala. Param-me todos os relógios. Menos um. Compasso. Sístole. Diástole. O sangue bombeado inebria até o fígado rezingão. A oxitocina sai para espreitar o cenário envolvente. A vida é vida, mesmo com o tempo em suspensão. E o cérebro silencia-se. Toda a gente sabe que o cérebro não consegue domar um coração que ama. Lá, na sua posição de poder, revira muito os olhos, enquanto eu fecho os meus, para descansar no embalo do conforto.

 

O cérebro funciona. Desde o berço até ao amor. E só.

 

Sabes o que acontece se parares?

 

Apercebo-me de que parei. Mesmo sem querer. Parei. Apercebo-me dos passos largos ao passado atrás do véu levantado sem querer. Saem chuvas das frestas das janelas olheirentas e sem manutenção. Estou demasiado isolada. E demasiado é pouco. O coração que batia, bate-me. E o pensamento agride. Espanca-me. Trucida-me.

 

E o cérebro pergunta-me:

Sabes o que acontece se parares?

 

Respondo:

Depende.

 

Mas deveria responder:

Depende. Depende do tempo verbal.

O coração batia no pensamento parado.

O coração dói… e antes parasse!

 

Agendas caóticas, fixando planos móveis. Riscando-os. Reagendando-os. Aproveitando as frestas da tarefa para encaixar a arte de não pensar.

 

Parar não é morrer.

É estar vivo.

E dói.








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terça-feira, 1 de junho de 2021

Confusões

 



O meu corpo é todo feito de confusões. Desarruma as gavetas mentais periodicamente. Cria tumultos e psicopatias. Tem tantos léxicos, glossários e enciclopédias privados, com juízos só seus, que, por vezes, me apetece pôr anúncios nas gazetas matutinas, em busca de quem me entenda e me traduza.

 

 

O meu corpo confunde. Já perdi a conta ao número de vezes que o fez. Continua a fazê-lo com frequência. Diziam que era coisa de adolescente. Não era. Acho eu. Ou era, e eu falhei as etapas do crescimento. Não importa. O meu corpo confunde. Isso é certo. Continua a confundir. Com frequência.

 

Muitas vezes, o meu corpo confunde solidão com saudade. São formas similares de vazio que causam azia no peito. Talvez não seja só eu! Mas é comum em mim. Recorrente. O meu corpo confunde solidão com saudade. É só quando se começam a encher os espaços de gente, as salas de chat de conversas e os telemóveis de chamadas que se compreende. A sensação agravada pela tentativa ignóbil de encontrar companhia é autoexplicativa. É uma espécie de solidão específica e orientada. Não é falta da gente mas da pessoa. E, se ela não está, o corpo bem pode chamar-lhe o que quiser… Permanece. No sossego das paredes. Na multidão. Tanto faz! E seria de esperar que o corpo aprendesse. Mas não. Nunca. Continua, insciente, a confundir. Solidão e saudade.

 

Muitas vezes, o meu corpo confunde facto com opinião. Ciente da sua condição no mundo e emocionalmente capacitado para abarcar o mundo e a sua condição nos ombros, onde se planta uma dor crónica que a própria condição do mundo causou, o meu corpo cede à escoliose e às opiniões com a mesma curvatura dúbia. Não o faz por mal. O meu corpo quer acreditar num mundo melhor e mais justo. Tem um medo terrível de acordar amanhã no mundo fascista de ontem. Às vezes, recusa-se a ver valor nos argumentos cujo sentido lhe escapa. Faz um esforço permanente. Por ouvir os outros, com todos os seus conceitos, ainda que estes carreguem muitos “ismos” nas vírgulas. Mas as sinapses passam, com rapidez, a mensagem desesperada aos lábios para que ripostem. E, assim, confundindo factos e opiniões, o meu corpo é muitas vezes mais rápido a responder do que o Lucky Luke a disparar. Já tentei silenciar essa voz instantânea de várias formas. Explicar ao corpo que existe um traço-limite. Uma fronteira. Mas não, Nunca. Ele continua, insolente, a confundir. Factos e opiniões.

 

Muitas vezes, o meu corpo confunde tédio com fome. Tristeza com fome. Medo com fome. Ansiedade com fome. A fome é uma confusão recorrente… Tão recorrente que o corpo também confunde solidão com fome, e saudade com fome… o que torna comum a própria confusão entre solidão e saudade, nesta agitação cíclica, onde tudo volta sempre ao ponto de partida. Não se cura tristeza com pão. Nem o medo. Nem o tédio. Pão resolveria, talvez, a fome dos países de terceiro mundo. E, quando penso nisso, sei que o meu corpo também confunde vontade de comer com fome. E fome com indisposição… porque aqui, no mundo do privilégio, é raro que a fome o seja de facto.

 

O meu corpo é todo feito de confusões. Desarruma as gavetas mentais periodicamente. Cria tumultos e psicopatias. Tem tantos léxicos, glossários e enciclopédias privados, com juízos só seus, que, por vezes, me apetece pôr anúncios nas gazetas matutinas, em busca de quem me entenda e me traduza. Solicita-se aos entendedores que capturem e aclarem esta forma de ser feita de contraditórios e enigmas. Mas sinto algum orgulho nas confusões que ele não faz.

 

O meu corpo, por exemplo, nunca confunde paixão com amor. Afeição com amor. Carinho com amor. Amizade com amor. Tesão com amor. Vontade com amor. Solidão com amor. O meu corpo, esse tosco iletrado emocional, parece ter gasto todos os esforços da racionalidade a descobrir exatamente o que o amor é, em factos e opiniões que não se confundem, nem poderiam confundir. Por saber exatamente o que isso significa, no entanto, o meu corpo confunde passado com futuro e vida com morte. Confunde passividade com respeito. Confunde silêncio com espaço.

 

Tento respeitar todas as confusões do meu corpo. Afastar-me um pouco delas. E percebo, quando o faço: não é das confusões que ele tem que eu quero afastar-me, mas justamente daquelas que ele não tem! E sim… eu sei que é confuso.

 

É confuso. Como o meu corpo. Como eu. Como a vida. Como o amor que só se confunde com ele próprio. Que só se funde nele próprio. Que me leva do ponto A ao ponto Z com as mesmas ideias, sem me importar se são factos ou opiniões, se estão imersas na saudade ou na solidão…

 

Surge algo em mim.

 

Um espaço. Um ardor. Um fosso.

Um eco. Uma nódoa. Um vazio.

 

Suspiro.

Acho que estou confusa.

 

Mas pode ser fome…

 







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