quarta-feira, 18 de maio de 2011

Não te preocupes


Não te preocupes.
Olhei duas vezes antes de sair pela porta. Três, se contares com o último olhar, desnorteado e de lágrimas nos olhos, com o qual confirmei que não deixava nenhum vestígio de alguma vez ter existido.
Não trago nada teu, não deixo nada de mim. Em breve serei pouco mais do que uma memória fugidia, longínqua, um sonho... a tua fantasia mais louca. E tu, para mim, serás o olhar desnorteado e repleto de lágrimas com o qual me comprometi a não voltar mais.
Talvez te tenhas agarrado demasiado aos meus regressos. Talvez eu nunca devesse ter voltado à inconstância de sequer pensar que sou incompleta sem ti. Não olhes para a porta, esperando ver-me entrar, com um sorriso que prometia tanto mais do que posso dizer.
Não te preocupes.
Fechei bem a porta atrás de mim. Tranquei-a. Deixei a minha chave na tua caixa do correio. E um dia, quando as cartas não te aparecerem magicamente sobre a mesa da entrada, vais sair e abri-la tu, para descobrires que não vou voltar. Nunca mais.
Entre nós houve a imensidão do nada. Quando dissemos que íamos dar um ao outro o universo não era para ser um universo de dor. Então porque é que foi?
Não te volto a magoar. Não me voltas a magoar. Não voltamos sequer a olhar-nos nos olhos com esse instinto esmagador de nos matarmos um ao outro. Não volto a rebaixar-me a ponto de me pisares, não volto a pisar-te quando te sentes mal por me teres magoado.
Não te preocupes.
Tenho a estrada. Tenho o que vem além da estrada. Tenho-me a mim. E tu, Amor, tens-te a ti próprio, cheio de utopias maravilhosas que, certamente, levarão muitas pessoas até tua casa. Mas no fim, todas elas saberão que estão melhor sem ti. Nenhum outro sentimento pode dar o que tu prometes mas também nenhum faz o estrago que tu fazes.
Não te preocupes.
Vou aprender a viver sem ti, sentimento irónico. E vou ser menos louca, ainda que caminhe para sempre numa estrada de Saudade, rumo a um lugar que não sei aonde fica...

Marina Ferraz

*imagem retirada da Internet