quarta-feira, 11 de junho de 2008

Estás...


Estás na imensidão deste vazio. Apenas tu. Estás nessa simplicidade distante onde o silêncio mora... Naquele local onde a recordação perdeu intensidade mas o amor não desvaneceu.
E, cada vez mais forte, esse amor por ti percorre o meu corpo e toma nos meus lábios a forma indefinida de não haver mais nada para dizer.
Então, como um rio que perdeu a água e um céu que perdeu as estrelas, pergunto onde deixei as palavras... o eco desta pergunta é a única resposta que percorre o tempo entre o que fui e o que sou hoje.
Talvez as tenha perdido nesse vazio que apenas tu colmatas, talvez o tenha perdido no meu leito de morte que foi feito de dois braços em redor dos meus sonhos, abraçando uma esperança que, se calhar, nem era real.
Talvez eu tenha perdido as palavras quando calei tudo o que era importante proferir, escolhendo um mundo de momentos efémeros. Talvez eu as tenha perdido quando me perdi no tempo, naquele tempo irreal que era somente a recriação fugaz de um passado que jamais seria futuro.
Estás em mim! Sinto-o, sei-o! Estás em cada passo, em cada pensamento deste mundo que, apesar de tudo, continua vazio. Tão vazio como os meus lábios onde secou a promessa de um amanhã e onde morreram as palavras.
O silêncio que restou é feito do mais profundo vazio, o mesmo vazio que é feito da dor que percorre o meu corpo em cada minuto deserto.
Olho em redor e não há nada. Olho para mim e vejo o abismo de quem já perdeu o amor, as palavras e os sonhos. É o mais profundo dos vazios. Um vazio que só não o é porque há um fantasma teu percorrendo o horizonte do nada, daquele nada que há muito deixou morrer a minha alma, a minha vida e que apagou todas as palavras bonitas que tinha gravado para te dizer... mas que não ousou sequer tentar arrancar-te do meu coração.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet