sábado, 13 de dezembro de 2008

Lágrimas de Pedra


Ouço a tua voz. Acho-a linda. Como se a noite entrasse nela e as estrelas a iluminassem. A tua voz carente de menina irresponsável que não tem de pensar em nada. A tua voz de velha sonhadora que pode perder toda a sanidade nas últimas histórias de embalar. A tua voz de princesa e de plebeia, de miséria e de ostentação.
Ouço a tua voz. E não há nada senão o silêncio. O silêncio desta noite que me afogou na tua água como se ela fosse feita de todas as lágrimas que choro e me sepultou na tua pedra como se ela fosse parte do meu coração.
Conto-te o que se passa… tu passas-me a mão no ombro como se me entendesses, como se pudesses saber ou sequer sonhar o que se passa dentro deste incoerente peito onde cai toda a certeza de que me proibiram de amar.
Mas eu percorro ruas e vielas. Sempre na mesma solidão. A solidão de não haver mais do que ilusões e desilusões na minha vida! E chego até ti, nua de enganos e de certezas, despida de orgulho e de esperança, como se apenas tu pudesses levar os meus medos para um qualquer lugar onde jamais poderia chegar sozinha.
E tu fazes tudo isso sem ninguém notar! Dizes-me que está tudo bem, que não tenho culpa de sofrer, que foi um anjo negro que sussurrou ao meu ouvido que as minhas lágrimas seriam de pedra (tal como tu és!) e que, sendo de pedra, jamais poderiam desaparecer.
É a tua voz que me acalma… São as tuas doces palavras que me fazem acreditar que existe sempre um porto para ancorar e um horizonte a ser alcançado. São sempre elas que me fazem desejar o que não posso ter e que me fazem mentir ao coração quando ele pensa que tudo está errado.
Ouço a tua voz. Essa voz que, no silêncio, mais ninguém consegue ouvir. Ouço-a e decoro-a. Quando dou por mim, há um imenso amor que não controlo em torno dessa vontade de te ouvir, um desejo incandescente de estar sempre ao teu lado, mesmo quando estar ao teu lado é somente estar sozinha no mais escuro dos silêncios.
Porque te ouço mesmo sabendo que jamais proferiste uma palavra. Porque entendo a tua magia mesmo quando permaneces imóvel e cega, no mesmo local onde nasceste. Porque preciso de ti mesmo quando o meu mundo é só um fragmento de ruína e destruição.
E as minhas lágrimas de pedra caem sobre ti. Sobre a tua voz que apenas eu posso ouvir e sobre a tua bondade que ninguém conhece porque ninguém te ouve.Ouço a tua voz. Acho-a linda. Porque faço parte do teu misticismo, como se eu própria fosse uma extensão de pedra que não sabes que te pertence mas que jamais se desprendeu de tudo o que és. E eu ouço a tua voz… preciso dela ainda que ela seja feita de silêncios e ilusões. Porque é a tua voz, é para mim e estará sempre aí quando eu precisar. És a fonte das minhas lágrimas de pedra e o anjo negro que a elas me condenou sabia que em ti encontraria o consolo de haver sempre um abrigo, ainda que ele não ficasse na montanha!

Marina Ferraz

sábado, 29 de novembro de 2008

Carta à solidão



Querida solidão:

Bem sei que de pouco me serve escrever-te. Estás tão próxima de mim que ouvirias os meus pensamentos com a mesma facilidade com que lerás esta carta. Mas eu escrevo-ta. Não a escrevo porque acho que lhe darás algum valor mas antes para ter a certeza de que, dia após dia, te lembrarás que me lembrei de escrever para ti e não apenas sobre o que me fazes ou representas.
Esta carta não precisa de sair daqui. Certamente não precisará de envelope ou de selo. Porque neste exacto momento estás a lê-la, como se tu própria fosses os meus olhos fitando este papel ou a minha caneta, deslizando levemente e rabiscando de azul a brancura desta folha.
Começo por te agradecer por seres uma presença constante na minha vida. Porque todos se vão embora mais cedo ou mais tarde. Há quem o faça porque não mais encontre em mim as virtudes de outrora e quem desapareça da minha vida com altruístas pretensões de fazer de mim alguém mais feliz. Mas tu nunca vais a lado nenhum. Continuas comigo mesmo quando a multidão que me rodeia tenta provar que desapareceste numa qualquer curva deste caminho sinuoso chamado vida.
Demasiado assustada para te arranjar um quarto na minha casa, arranjei-te um espacinho dentro do meu próprio quarto. Aos poucos e poucos foi dentro de mim que te alojaste. Encontraste um espacinho naquele inevitável vazio que tenho no coração e preencheste-o de um modo inexplicável.
A cada passo que dei tu cravaste um punhal no meu peito. Fizeste de cada pessoa que conheci apenas mais uma pessoa que acabaria por ficar no passado e que jamais tornaria a encontrar.
Tomaste conta de mim e da minha vida. Invadiste o meu mundo, a minha casa, a minha vida. E depois fizeste-me sentir que se te fosses embora estaria ainda mais triste.
E eu dei-te sempre ouvidos. Não sei bem porquê! Não faz qualquer sentido, pois não?
Hoje que estás aqui, a ler esta carta enquanto a escrevo, eu venho pedir-te que fiques. Não te peço já que vás embora e me dês uma segunda oportunidade…. Aceitei que não irás a lugar algum, que jamais me deixarás ser feliz. Porque me darias uma segunda chance se não deste a primeira?
Pois fica, então! Fica comigo se é o que queres. Mas segue as minhas regras. Deixa-me imaginar que foste quando o meu coração acelerar. Deixa-me chorar quando me fizeres perder alguém. Deixa-me fingir que todas as pessoas que me rodeiam bastam para te anular. Deixa-me viver como se não existisses, ter um sorriso no rosto…
E, à noite, quando já ninguém estiver junto a mim, eu prometo que te dedico as sagradas horas de sempre, chorando por haver um vazio impossível de preencher nesse espaço que devia estar repleto de amor à vida. Dir-te-ei, como sempre, que quero morrer. E tu, fiel a ti própria, poderás dizer-me que só te tenho a ti e convencer-me de que não posso sobreviver sem que estejas comigo.
Minha querida solidão, hoje escrevo-te porque estou sozinha e porque estou triste. Escrevo-te porque és tu que estás aqui mesmo quando finges não estar. Escrevo-te porque já tens até as minhas palavras. Entrego-me toda a ti, ciente de que a felicidade e o paraíso são lugares que jamais conhecerei.
Tua,
Marina Ferraz

*Imagem retirada da Internet

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Ir embora...


Tenho as malas feitas à porta e o quarto vazio. O coração, esse está demasiado cheio e demasiado cansado mas, habituada a conviver com o seu peso, já nem eu o noto.
Imagino que tenho um sorriso nos lábios. O sorriso de ter as malas feitas e nenhum destino. A alegria de ir embora outra vez. A alegria que sempre me deu virar costas ao passado.
As malas feitas sempre foram uma promessa. Uma promessa de que a seguir virá algo melhor, ainda que essa promessa seja apenas mais uma mentira que nem sequer conseguirei ouvir.
Faz-me feliz fazer as malas, faz-me feliz ir sozinha até uma qualquer estação e ir embora sabendo que não volto. Faz-me feliz deixar para trás os lugares onde não sou feliz.
Mas hoje tenho as malas feitas à porta, o quarto vazio e a melancolia do que estou a deixar para trás. Porque desta vez sei que estou a fugir. Não estou a fugir pelos mesmos motivos nem das mesmas coisas. Estou a fugir de mim.
E aquelas malas à porta já não me trazem sorrisos. Falam-me apenas alegremente de todas as pessoas que já sabiam há muito tempo que eu ia desistir. Troçam de mim por não ter mais força. Mas e daí? As pessoas que se riam…eu faço-lhes somente uma gigante vénia. Agradeço no final qual actriz que desempenhou o bom papel de fingir não se importar. E essas pessoas serão apenas fantasmas de um passado que nem saberei bem se vivi.
Porque tenho as malas cheias de recordações e não de pessoas. Porque levo comigo apenas o que me tocou a alma e não aqueles que tentaram anular-ma.
Hoje tenho as malas feitas e o quarto vazio. Ou talvez imagine apenas que tenho as malas feitas e o quarto vazio. Porque hoje quero ir embora e estou acorrentada, nem sei bem a quê…
Tenho saudades do passado, desse passado que aconteceu há anos e do passado que aconteceu há minutos atrás. Tenho saudades do passado porque o presente não dura e o futuro é incerto. Tenho medo. Muito medo. E, além disso, tudo o que tenho, são malas por fazer e lugares onde ainda não tentei ser feliz.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Um pedido e uma oração



Este é um pedido e uma oração. Um pedido que de tantas vezes dito está gasto e uma oração que sei que jamais será ouvida.
Mas este é mais um pedido e mais uma oração. Igual a tantas outras orações e a tantos outros pedidos. Iguais como tantas coisas o são… Iguais com a diferença nítida de nada se repetir realmente nesta vida.
Não sei o que fizeste! Não te entendo porque estás em mim e bates levemente sem que realmente proves que estou viva. E, quando rezo baixinho sem saber para quê, tu mantens-te mudo como se tivesses descoberto a arte de bater imperceptivelmente quando mais preciso de ti.
E então, por entre as minhas palavras fúteis lançadas ao vento, eu sussurro para que apenas tu o ouças “hei… é amor!” e tu bates mais forte como se apenas esse pensamento te desse força.
Saberás por acaso, nesse teu bater, o quanto me dói dizer essas palavras? Não acho que saibas! Não acho que entendas os pedidos que ninguém satisfaz ou as orações que ninguém ouve. Acho que moras em mim sem compreenderes sequer qual foi o furacão que passou na nossa vida e me fez desistir de tentar curar-te.
E, se entendesses, sei que baterias debilmente, tal como o fazes agora sem saberes bem porquê.
E dizes que a culpa é minha. Culpas-me de erros que não conheces e fazes com que o meu rosto se inunde dos mais tristes sentimentos.
Se pudesses ver, meu coração, se pudesses ver com toda essa tua inocência o mesmo que os meus olhos vêm dia após dia, saberias porque te digo que é amor ainda que essas palavras me magoem mais do que tudo o que os meus olhos veêm.
Mas tu não sabes e hoje é a ti que peço para não vacilares. Hoje a oração é para ti. Hoje apenas quero que nesse teu leve e compassado bater compreendas que esta vida é um labirinto cuja saída jamais será achada.
E esta oração, igual a todas as outras, é diferente porque, hoje, quero que tu sejas forte, quero que tu ouças e quero que sejas tu a acalmar os meus medos e as minhas ilusões dizendo “hei… é amor”.
Hoje quero que tomes conta de mim com o mesmo cuidado com o qual tomo conta de ti. Hoje quero que digas aos meus lábios que não sintam falta de outros lábios e às minhas mãos que não sintam falta de outras mãos, do mesmo modo que eu sempre te disse que o amor jamais te abandonaria.
Este é um pedido e uma oração. É um pedido que começa com “era uma vez uma menina” e que não tem fim.
Dorme e acorda, coração. Respira fundo. Encontra-te em ti próprio. Porque hão-de te atirar pedras. Porque hão-de te dizer mentiras. Porque hão-de te criticar. Mas escuta esta oração que hoje me vejo proferir: eu tomarei sempre conta de ti e, se tomares também conta de mim, então nada nem ninguém poderá derrubar o que construímos. Conformados com a ironia da vida, a única coisa que nos hão-de poder dizer é “hei… é amor!”. E tu baterás mais forte. E eu sorrirei. E haverá uma espécie de tranquilidade na nossa dor. Não mais estaremos sozinhos. Eu tenho-te a ti e tu tens-me a mim e nós os dois teremos sempre este pedido e esta oração.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Uma palavra...


"Ainda é muito cedo para falar de amor” – lembro-me destas palavras, cruzando a barreira dos meus lábios, tornando-se som sem que, no entanto, houvesse alguém para as ouvir.
Essas palavras nasceram do medo num momento em que o amor gritava alto dentro de mim, querendo libertar-se e voar rumo ao infinito.
Hoje sei que apenas o medo era real! Sei que nenhuma palavra devia ser presa dentro de uma alma quando os sentimentos são reais.
Mas eu pensava que era cedo para falar de amor. Cedo para dizer o quanto desejava um futuro.
No fundo, eu sabia que as mais belas palavras de amor eram abismos e que havia uma linha muito ténue separando o certo do errado e impedindo-me de cair no nada.
Ainda era cedo. Era cedo demais para dizer “amo-te”. Era cedo demais para admitir que sonhava com um “para sempre”! Era cedo demais! E, quando deixou de ser cedo demais, já era demasiado tarde.
Quando me apercebi de que o tempo era apenas mais uma invenção do Homem, que ele próprio condensara em dias e horas, relógios e calendários. Quando percebi que o meu tempo era suficiente para dizer o que sentia, quando compreendi que havia somente uma palavra a ser dita e que tinha de a dizer… já não podia fazê-lo.
Hoje existe uma palavra tatuada no meu silêncio. Existe uma palavra no negro das roupas que trajo. Existe uma palavra nos sorrisos que forço e nas lágrimas que deixo cair no meu rosto. Hoje existe uma palavra presa na minha alma, acorrentada em mim, desesperada por se soltar ainda que depois caia no esquecimento.
Era tão cedo para te dizer o quanto te amava... tão cedo que os meus medos me traíram e te disse apenas que gostava de ti, sem te deixar saber o quanto.
Sim, era cedo demais… e não to disse! Porque há regras que ninguém fez mas que têm de ser cumpridas e há um calendário na parede que diz que alguns dias não bastam para que se fale de amor.
Hoje eu sei que é tarde demais. Hoje não posso dizer-te o que sinto porque já foram riscados muitos dias na confusão de milhares de horas…
Entre ser demasiado cedo e tarde demais, não houve um momento certo no qual pudesse dizer-te que te amava.
Mas isso não mudou apenas porque não to disse. Estava em mim, no meu olhar, no meu pensamento enquanto me ouvia dizer “Ainda é muito cedo para falar de amor”.
E ainda está em mim! Está em mim porque palavras não ditas e sentimentos puros cruzam o tempo num “para sempre” verdadeiramente eterno que começa no momento exacto em que nos ocorre falar de amor e nos assusta a sensação de que ainda é cedo demais…

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Dorme, coração...


Fecha os olhos e dorme, meu doce coração. Vou cantar-te uma música de embalar. Baixinho, quase em sussurro. Depois vou ler-te um poema. Será o último poema que hás-de ouvir.
Dorme, coração sofrido. A culpa foi minha, não carregues mais o peso desse amor. Abranda um pouco, acalma toda essa dor, respira devagarinho o ar frio desta noite de Verão.
Não tenhas medo… hei-de estar sempre contigo. Guardar-te-ia em mim ainda que tal pudesse ser diferente.
Dorme. As estrelas do céu sabem a tua história. Podes adormecer nessa linda memória que é o teu único e real amor. Essa memória que te amarra e te magoa. Nada mais te irá magoar, eu prometo.
Repousa um pouco, meu doce coração. Tu e eu vamos embora. Vamos sair deste lugar e procurar um outro. Um local onde as histórias bonitas, como a nossa, possam realmente cruzar as muralhas da minha alma em forma de som e encantar aqueles que jamais se sentiram como nós.
Entre as notas da música que te cantarei e as estrofes do velho livro de poesia, encontra a tua paz e adormece. Abranda um pouco e um pouquinho mais… então, quando estiveres preparado, pára de bater.
Dorme, amargurado coração, que eu dormirei contigo nesse sono eterno que ninguém poderá perturbar. Nada mais te magoará, eu prometo!
Hão de dizer que fomos fracos mas riremos deles enquanto atravessamos os mais belos jardins, rodeados de rosas e lírios brancos. Só nós saberemos qual a força que tivemos, qual a força de que precisávamos para abdicar da nossa linda história de amor.
Fecha os olhos e dorme. Nunca mais hão-de te apunhalar. Não o permitirei… não mais terás culpa.
As nossas lágrimas secarão. Seremos apenas a voz do vento. Então, espreitaremos pela sua janela uma última vez. Enquanto dormir, dir-lhe-emos que o amamos sem que ele possa magoar-nos.
Voaremos juntos e para bem longe. Teremos a eternidade nas mãos, a tão desejada paz no olhar.
Dorme, meu doce coração, dorme somente… Não tenhas medo! A noite caiu. Chegou a hora de sonhar…

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Parte de mim...

Costumo dizer que me basto. É o modo mais simples e rápido para explicar porque estou sozinha. Talvez não seja o mais verdadeiro, mas é um modo de aprender a viver comigo própria sem chamar solidão a cada respiração sem nexo.
Costumo fingir que gosto de mim. É uma peça de teatro que me habituei a representar e cujo papel me agrada. Representando-o amo-me por momentos, acredito em mim!
E a vida, essa que estende sob os meus pés um tapete escarlate de espinhos, sorri-me ao de leve cada vez que finjo ser feliz.
Mas, depois, eu acordo e estou sozinha, olho para mim e estou vazia, vagueio pelas ruas e ninguém me vê. Qual fantasma invisível de alma e coração quebrados, pergunto a mim própria porquê enquanto as nuvens dos meus olhos fazem chover na minha face.
Querendo dar um pontapé ao mundo, sou eu mesma a responder à minha pergunta: “Porque me basto” – digo convicta. Mas as minhas palavras, quando ditas pelos meus lábios e escutadas pelos meus ouvidos, não soam reais.
Sem mentir, tento enganar-me e não consigo.
Então, vexada pelos meus próprios pensamentos, procuro o pedaço de mim que me falta. Não o encontro nas ruas, nem na praia, nem no mar…
Cega pela mágoa, rasgo-me em mil pedaços como se fosse uma folha velha, procurando-te em mim. Encontro-te naquele pedaço rasgado em forma de coração.
Então, fragmentada, uno-me como um puzzle ao qual irremediavelmente faltam peças. Agarro essa memória de ti junto ao peito e durmo tranquila.
Não tento enganar-me: não gosto de mim mesma! Mas gosto do pedaço de ti que mora em mim. No final é somente isso que me basta.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Castelos de Cartas


Castelos de cartas caem com o vento e reconstroem-se com paciência e cuidado, com vontade e amor.
Carta a carta, ousei construir o maior dos castelos que este mundo já viu, num estranho jogo de equilíbrio onde sempre predominou uma enormíssima tendência para o caos.
Talvez eu não tenha colocado as cartas certas nos locais correctos, talvez toda a estrutura daquele frágil castelo estivesse errada. Mas, contra o vento e os encontrões, a verdade é que o construí. Construí-o sozinha, sem a ajuda, o companheirismo ou o apoio de ninguém.
Cada vez que o vento soprava mais forte e ele era derrubado, eu respirava fundo e construía aquele castelo e de todas as vezes que o construía, o fazia com mais cuidado, com mais amor. E, naquela constante construção de castelos débeis que iam morrendo e renascendo, aprendi a amar o castelo. Amei-o mais de cada vez que o construí. Não sei porquê! Talvez o primeiro fosse o mais sólido, mas não era o que eu lembrava melhor nem o que me fazia sorrir nas horas de desespero…
E então, loucamente, houve um dia em que o castelo desmoronou e eu resolvi construir um maior, mais bonito…
Esse castelo surgiu à minha frente no momento em que o desejei. Com uma frágil e inexplicável imponência e eu confiei que aquele castelo, maior e mais bonito, aquele castelo que eu amava mais… aquele não cairia e dar-me-ia tudo o que os anteriores me tinham feito perder.
Mas o vento que soprou em brisa, derrubou-o como se fosse o mais pequeno de todos os castelos que havia construído.
Vê-lo cair abriu-me os olhos e fechou-me o coração. Percebi que querer um eterno castelo de cartas é como esperar que a vida seja construída apenas de sorrisos.
Nunca mais me sentei naquela mesa, criando castelos. Amontoei as cartas e atei-as com um elástico. Depois, como se fossem velhas amigas, pousei-as com todo o carinho. Passo por elas todos os dias e todos os dias amo os meus castelos. Jamais os esquecerei…
Aquelas cartas, pousadas e sem um novo sentido, servem apenas para eu me lembre que agora o vento pode brincar com as cartas mas já não brinca mais o meu coração.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Olha-me hoje...


Olha para mim hoje, hoje que eu sou a rapariga que conheceste numa encruzilhada de ilusões e da qual não esperavas outra coisa.
Olha para mim hoje. E hoje decora-me…
Hoje, abraça-me como abraçaste sempre, exactamente do mesmo modo, com a mesma ternura. Hoje diz que me achas estranha e que a minha maneira de ser e de agir é a mais errada de todas…
Olha para mim hoje. E hoje acredita nos teus olhos… lembra-me assim!
Entre gargalhadas forçadas e memórias menos boas, confessa que achas que sou demasiado pessimista e depressiva. Admite que gostas do modo natural com que encaro as coisas e que te confunde esta minha mudança em segundos que me transforma num oposto de mim. Faz tudo isto hoje.
Hoje, diz-me o que sentes por mim. Não me importa se me amas, se gostas de mim ou se me odeias. Já nem me importa que digas que te sou indiferente.
Hoje podes dizer e fazer comigo tudo o que quiseres. Podes troçar das minhas idiotices e dos meus erros, criticar as coisas que faço mal e até as coisas que estão bem, podes elogiar-me de todos os modos, ainda que sejam apenas mentiras formando frases ilusórias.
Hoje, cria a tua imagem de mim. Imagina que nunca mais me vais ver e que tens de te despedir. Imagina que amanhã vou de viagem e não pretendo regressar. Hoje imagina…
Hoje, vive-me como nunca me viveste, sente-me como nunca me sentiste, cai na minha alma, lê os meus pensamentos.
Quero que me vejas assim, como sou! Sem máscaras nem mentiras, sem ninguém para te dizer se estás a ver-me com olhos turvos ou se é clara a tua visão de mim. Quero que vejas a minha alma nua.
Hoje agarra numa foto minha, grava nela todos os traços da minha personalidade e guarda-a de modo a que essa imagem jamais se desvaneça.
Eu sou a pessoa que conheceste, a pessoa de quem gostaste, a pessoa que (bem ou mal) esteve lá.
Olha para mim e vê-me hoje.
Amanha estarei aqui e não serei esta pessoa. Amanhã tentarás entrar na minha alma e o meu corpo estará deserto. Amanhã procurarás o meu sorriso e as lágrimas estarão tatuadas. Amanhã não vou reconhecer-te e o meu olhar será vazio.
Lembra quem eu sou hoje e nunca te esqueças!
Digam o que disserem de mim, não te sintas na obrigação de ripostar...
Tu sabes e eu sei: Eu sou esta pessoa… e é nos teus olhos que eu quero continuar assim. É para ti que quero viver no Hoje, traga o “Amanhã” o que trouxer.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Abrir asas...

Abri as minhas asas e percebi que estou proibida de voar.
Não sei quem me impede. Sei apenas que o céu, lindo e distante, já não é azul. Anoiteceu. Anoiteceu para sempre.
Abri as minhas asas e construí toda a minha vida sobre as mais belas palavras ainda que tais palavras não fossem mais do que o reflexo de uma alma macerada.
Abri as minhas asas porque me fizeram acreditar que, ao abri-las, poderia voar e, se voasse, poderia chegar até àquele local onde toda a dor desaparece por entre os sonhos.
Abri as minhas asas... abri-as e dei-me ao mundo. Deixei que ele provasse o meu sangue e as minhas lágrimas. Dei-me ao mundo e o meu mundo eras tu.
Sei que abri as minhas asas. Sou tudo o que sei ser. Não sei ser mais do que eu mesma, não sei ser melhor. Isto é o que sou... sem disfarces, sem adornos. Não é o mais belo dos quadros este que me mostra de asas abertas mas de coração quebrado...
Hoje sei que não posso voar. Mas abri as minhas asas...
Abri as minhas asas e não estás aqui!

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Estás...


Estás na imensidão deste vazio. Apenas tu. Estás nessa simplicidade distante onde o silêncio mora... Naquele local onde a recordação perdeu intensidade mas o amor não desvaneceu.
E, cada vez mais forte, esse amor por ti percorre o meu corpo e toma nos meus lábios a forma indefinida de não haver mais nada para dizer.
Então, como um rio que perdeu a água e um céu que perdeu as estrelas, pergunto onde deixei as palavras... o eco desta pergunta é a única resposta que percorre o tempo entre o que fui e o que sou hoje.
Talvez as tenha perdido nesse vazio que apenas tu colmatas, talvez o tenha perdido no meu leito de morte que foi feito de dois braços em redor dos meus sonhos, abraçando uma esperança que, se calhar, nem era real.
Talvez eu tenha perdido as palavras quando calei tudo o que era importante proferir, escolhendo um mundo de momentos efémeros. Talvez eu as tenha perdido quando me perdi no tempo, naquele tempo irreal que era somente a recriação fugaz de um passado que jamais seria futuro.
Estás em mim! Sinto-o, sei-o! Estás em cada passo, em cada pensamento deste mundo que, apesar de tudo, continua vazio. Tão vazio como os meus lábios onde secou a promessa de um amanhã e onde morreram as palavras.
O silêncio que restou é feito do mais profundo vazio, o mesmo vazio que é feito da dor que percorre o meu corpo em cada minuto deserto.
Olho em redor e não há nada. Olho para mim e vejo o abismo de quem já perdeu o amor, as palavras e os sonhos. É o mais profundo dos vazios. Um vazio que só não o é porque há um fantasma teu percorrendo o horizonte do nada, daquele nada que há muito deixou morrer a minha alma, a minha vida e que apagou todas as palavras bonitas que tinha gravado para te dizer... mas que não ousou sequer tentar arrancar-te do meu coração.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Envolve-me no teu abraço

Envolve-me no teu abraço! Em cada toque teu o meu mundo pára e, subitamente, os problemas deixam de o ser, as feridas abertas da minha alma saram e a chuva que cai sobre o meu rosto transforma-se em pétalas de rosa.
Quero que me abraces, um abraço simples, daqueles que até um amigo pode dar. Quero encostar a cabeça no teu ombro e sentir o teu cheiro, desejar beijar-te e conter os meus desejos, calá-los como se não fossem importantes ou, simplesmente, como se não os sentisse.
Abraça-me simplesmente como se não me visses há muito tempo e tivesses saudades minhas. Aperta-me contra ti e diz uma daquelas expressões só tuas que quase sempre me fazem rir. E se, ao ouvi-la, em vez do habitual sorriso, me vires chorar, deixa que o abraço continue num espaço infinito e finge que as minhas lágrimas são de felicidade.
Abraça-me nesse horizonte de coisas proibidas. Deixa-me fechar os olhos e ver somente o que vai dentro de mim. Encontrar, por entre este emaranhado de pensamentos e modos de sentir fúteis, a minha alma. Porque eu só encontro a minha alma nos teus abraços, quando o coração, mono existencial de batalhas à tanto tempo perdidas, começa a bater mais forte contra a minha vontade e te dá a derradeira certeza de que ainda não te esqueci.
Eu dei-te a minha alma, a minha vida... tudo o que quero que me dês é esse abraço que fica suspenso em promessas que os olhares proferem e que os nossos corpos jamais cumprem.
Envolve-me no teu abraço e leva-me até mim. Leva-me àquele local onde o tempo está parado em ampulhetas de saudade e o espaço se comprime até caber nas minhas mãos.
Envolve-me nesse abraço que só tu sabes dar que, enquanto me abraças julgando sentir o meu corpo, eu voo para além do mundo e encontro, algures, o que perdi em cada um dos abraços que eu quis e tu não me soubeste dar.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Cá dentro...


Para ti, Kelinha, por me teres conseguido provar que nem tudo na vida é triste!

Naquele mundo que habito, o da tristeza constante que me arrasta para o precipício e nele me condena, existem nuances de felicidade que jamais passam disso mesmo: nuances!
Sinto-me sozinha na maior das multidões, sinto-me triste no melhor dos dias e as coisas nunca são diferentes.
Cá dentro costuma morar a maior das dores: a dor de quem sofre por amor,a dor de quem, no meio do mais infernal dos vazios, já não encontra uma alma onde se refugiar.
Mas hoje, cá dentro, mora outra coisa, sabias? Mora o orgulho! Tenho tanto orgulho em ti!!!
Sabes? O amor tem muitas formas... talvez eu não seja bem sucedida em todas elas mas sei que neste amor, o amor de amiga, o amor de afilhada, neste amor sei que o sou e sei-o porque me mostraste que estás comigo onde eu estou, que vais comigo aonde eu vou, que queres verdadeiramente saber.
Eu acredito em tudo o que esta noite gritei! És, sem dúvida, a melhor madrinha do mundo e este texto fala dos sentimentos mais bonitos que podem existir dentro do peito de uma menina que vive num mundo de sombras.
Obrigada por tudo! Obrigada por me mostrares que eu tinha toda a razão, obrigada por confirmares as minhas decisões e por me mostrares que posso sentir, ainda que apenas por momentos, algo que não é nem mau nem vazio mas, pura e simplesmente, especial.
Obrigada por, neste momento no qual eu não sinto que as coisas possam melhorar, me mostrares que ainda há coisas que valem a pena.
Obrigada, acima de tudo, madrinha, por valeres a pena!
Gosto-te muito! Longe ou perto, o que sei é que estás e estarás eternamente cá dentro, dentro da minha alma que afinal ainda existe e dentro deste coração onde terás sempre lugar!

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

domingo, 4 de maio de 2008

...vazio...


Vejo-me atravessar a noite qual fantasma triste, vagueando sem destino nem vontade. Não sou melhor nem pior do que um dia fui... estou simplesmente vazia. Despida de vida, despida de amor, despida de todos os sonhos, mesmo dos que já realizei.
E atravesso a noite. Os meus pés, ao tocarem o chão, fazem ecoar o passado. Renascem tantas vozes dos meus passos... e eu ouço-as vibrando dentro de todo o meu vazio.
Não tenho sombra nem esperança. Não há luz para que as tenha... há apenas a noite da noite que atravesso e um corredor que não leva a lado algum.
E, qual fantasma deambulando pelos sonhos alheios, fico imóvel e olho em redor. Não sei se procuro o teu rosto ou se me certifico de que o não vejo. Vazio, sempre este vazio...
Não foi assim que imaginei os sonhos! Imaginei que, em algum momento ias chegar e eu já não ia ser apenas um fantasma taciturno vagueando nas noites de tristeza; aquelas noites que não amanhecem e que ficam dentro desta alma, acorrentando-me ao chão frio de não saber o que vem amanhã. Imaginei que ia sorrir mas fazê-lo com todo o sentido. Sorrir de verdade, com aqueles sorrisos que não esmorecem e que ninguém rouba.
Mas vejo-me atravessar a noite fria, passando pelos mais frios penhascos e pelos corredores mais vazios de uma vida sem vida. E, num momento de desespero, vejo-me, qual fantasma, saltar sem medos para o precipício, desejando mais do que tudo um fim para esta farsa à qual ainda há quem chame vida.
E acordo dos meus sonhos. Não sou já um fantasma mas não julgo ser mais...
Ficou para trás o penhasco e o corredor e até os mil sonhos dos meus sonhos. O vazio, esse velho amigo de todas as horas, continua aqui!

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

domingo, 6 de abril de 2008

Insónias


A dor trilha um qualquer caminho dentro desta alma infame que ama demais. E eu aproximo-me da janela e olho a noite. Quem me dera que o meu coração tivesse esta calma tardia que restou no final de tudo. Porque a noite é o que resta de um dia que já foi e já não é... e a dor é a noite que me resta após o fim de tudo o que foram os meus dias.
O sofrimento entranha-se nos meus sonhos e não me deixa dormir! É uma eterna insónia na qual apenas a memória de um amor entra pela porta e vem de mansinho abraçar-me.
E eu estou profundamente sozinha olhando a noite nesta insónia em que não dormir é o que menos custa.
Quantos fantasmas existem para lá desta janela? Onde estás tu, meu amor?
Eu não sei! Não sei se esta dor que caminha pela minha alma e me invade os sonhos algum dia irá embora, deixando-me finalmente entregue ao vazio.
Eu não sei... mas já não importa!

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

quarta-feira, 19 de março de 2008

Silêncio


As palavras são feitas de silêncio, Leonor...
Eu, por exemplo, queria falar e todas as minhas mudas palavras se calam num olhar ou num gesto mais dorido, construído na mágoa do silêncio.
E depois, quando sem razão ele é quebrado por outra voz, eu minto e digo que não há palavras por proferir.
A vida é assim, meu amor, fica tanto por dizer... Ás vezes calamos a voz dos nossos próprios sentimentos e pensamos que existe sempre o amanhã para dizer o que não conseguimos dizer hoje. Mas o amanhã é feito de silêncio... porque amanhã nenhuma das palavras que hoje tinhamos para dizer fará sentido.
Sabes, Leonor?... é estranho amar alguém no silêncio de palavras que foram proibidas pelo tempo e pelas pessoas que o tempo tratou de pôr na nossa sina.
A palavra mais difícil de dizer é “amo-te”... sabias? Normalmente, em vez de falar de amor, fechamos os olhos e damos tudo o que somos. Porque é mais fácil envolver dois corpos no silêncio do que envolver a alma na promessa que fica em cada palavra proferida.
Eu já nem tenho medo da solidão dos meus silêncios. Trato as memórias trocistas como se fossem amigas de longa data e o vazio que ficou como a imensidão de tudo o que um dia tive.
As minhas palavras são silêncio, meu anjo, e quanto mais falo mais percebo que há um mundo de coisas por dizer. Porque tudo o que é realmente importante fica sempre para dizer amanhã e o amanhã nunca mais chega.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

domingo, 2 de março de 2008

Quem eu era...



Quem eu era, já há muito tempo que deixou de importar. Hoje já não sou quem fui. Num ano envelheci séculos. Já não me conheço.
Tenho saudade do tempo em que me cansava das pessoas como se fossem coisas, saudade da vontade que me preenchia: a vontade de conhecer o mundo nem que tivesse de deixar para trás tudo o que tinha. Eu queria ir longe, sonhava com o futuro, tinha planos e a possibilidade de tornar tudo real.
Quem eu era, morreu nos olhos de alguém, da primeira vez que os nossos olhares se encontraram... desejei que todos os sonhos começassem e acabassem ali, deitei fora tudo aquilo em que acreditava e fiz de mim mesma o caminho para a destruição de todos os planos.
Antes, queria amar mas não entregava o coração e estava sempre mais preparada para dizer “adeus” do que “amo-te”.
Antes, eu era capaz de seguir e as lágrimas que derramava eram doces e, como tal, bebia-as sem me importar. Sofria de um modo simples, que era sofrendo e sorrindo, acordando aos poucos para uma realidade mais bonita e melhor. Encarava todos os fins como portas a abrirem-se para algo infinitamente mais belo e não tinha medo de seguir pelos trilhos que me podiam levar até realidades sonhadas.
Era tão mais simples a minha vida quando eu falava de amor sem saber o que isso queria dizer. Era tão mais simples abrir os olhos e ver um mundo que nunca tinha sido bom para que o pudesse julgar mau!
Hoje sou uma rapariga tola, sem metas e com o coração partido. Já não quero o mundo, quero um momento de felicidade com uma pessoa. Já não me canso de toda a gente, há alguém com quem partilharia tudo na vida. Já não é mais fácil dizer “adeus” do que “amo-te”... já não é fácil dizer “adeus”...
Tenho saudades de desejar algo que pudesse alcançar, saudades de querer algo que me coubesse na palma da mão. Hoje, séculos mais velha, não sou ninguém... afinal, ninguém ama de verdade!

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Desistir (não) é simples!

“Não desistas assim…”
Três palavras que juntas não fazem qualquer sentido. Odeio estas palavras! Dizem-me que não desista, que lute, que procure horizontes que estão para além do que pode ser encontrado. Dizem-me que ali, num lugar que não me sabem indicar, “ali” posso ser um pouco mais feliz.
Desistir devia realmente ser uma opção. Olhávamos para trás e descobríamos que num estalar de dedos tudo o que um dia quisemos foi esquecido ou, pelo menos, já não magoa. Simples, de facto! Demasiado simples para ser real…
Quando se tem sonhos, desistir não é simples! Não é simples acordar para a vida e conhecer um mundo onde cada traço está longe de ser o que quisemos para nós. Não é simples ter olhos cor-de-nada quando um dia o nosso olhar igualou os arcos-íris de sonho.
Quando se ama, desistir não é simples! Não é simples apagar nomes que um dia tatuámos no coração nem varrer palavras que foram ditas em silêncios intemporais. Não é simples coser um coração partido com linhas de esquecimento ou de traição.
Por vezes, admito, quero desistir de tudo. Mas desistir é tão difícil que as palavras que lançam ao vento não podem ter sentido. Quem sou eu para desistir dos sonhos ou do amor ou mesmo de sonhar com o amor?! Não sou nada além de joguete nas mãos da lua e desistir não é hipótese.
Os meus olhos nunca serão cor-de-nada porque eu não sou capaz de desistir assim. Por mais que diga ou que faça, haverá sempre em mim uma restea de esperança que me há-de prender à vida.
Desistir não é simples quando há em nós um coração. Desistir não é simples quando se sonha. Desistir não é simples quando se ama alguém mais que tudo nesta vida. E, se desistir não é simples, tal como não é simples lutar, porque é que alguém optaria pela desistência se a luta, embora complicada, tem mais hipóteses de tornar real tudo o que alguma vez sonhámos?
Não, eu não desisto! Não desisto de lutar pelos sorrisos que, de tempo a tempo, me marcam a expressão. Não desisto de lutar pelos sonhos que têm hipótese de ser reais. Não desisto de lutar pelo amor…
Desistir, ao contrário do que me fazem crer quando dizem para eu “não desistir assim”, não é fácil, não é simples, nem tão pouco é opção!

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Dois anos mais tarde...


31 de Janeiro de 06, postei:
Se o meu sorriso mostrasse o fundo da minha alma, muitas pessoas ao verem-me sorrir, chorariam comigo.

Se naquele tempo eu soubesse como ficaria o fundo da minha alma… teria sorrido de verdade, sem me julgar triste. Agora sim, o meu sorriso corrompe as verdades do meu rosto. Agora sim, a tristeza é tudo o que se avizinha.
Mas este texto não o vou dedicar a essa tristeza infernal que se apoderou de cada milímetro do meu corpo, que me roubou cada pensamento e afastou de mim cada pessoa.
Hoje, dois anos depois, estou aqui para falar de ti…

Vejo-te como um amigo muito querido que entrou na minha vida porque eu quis, quando eu quis. És a caixinha dos meus segredos, quem recebe as minhas palavras como presentes, sempre que me proponho a partilhá-las.
És tu que dás ao mundo a possibilidade de saber que existo. És quem não me condena. És quem me ouve sempre e quem, mesmo quando não me sinto capaz de divulgar o que sinto, guarda em rascunhos os meus piores pensamentos.
Desde que existes na minha vida, mudaste de aspecto, mudaste de nome, mudaste de ideias. Recebeste os melhores comentários, as piores criticas, alguns pensamentos e insultos idiotas que também fazem parte.
A questão é que, com o tempo, deixei de pensar em ti como algo que eu tinha feito e comecei a pensar-te como pedaço do meu mundo.
Confiei-te mais do que alguém pode perceber ao ler-te. Pus a minha alma guardada em cada texto, não direi o coração! Esse dei-o a alguém mais real…
Hoje, é o teu aniversário! Hoje fazes dois anos e hoje és muito mais maduro porque cresceste comigo.
Hoje estou aqui, não como pessoa que te escreve ou que te criou mas como a apaixonada que olha para o diário como o amigo mais querido que alguma vez teve. E estou aqui para te dizer que és o quartinho dos fundos, onde me escondo quando sinto que não tenho onde ir.
E agradeço-te por tudo. Afinal, quem não pode ver o fundo da minha alma nos meus sorrisos, pode sempre procurá-lo em cada palavra que te entrego… e assim chorar comigo!

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

domingo, 13 de janeiro de 2008

Não sei


Os meus olhos têm o brilho das estrelas quando penso em ti. Porque tu és a derradeira viagem que quero fazer. Quero viver-te como te sonho…
E quando olho para ti, os meus olhos são espelhos do meu coração e o meu coração é um espectro sem fim onde nasce o arco-íris e se perde a imensidão de tudo o que está para além de nós.
Não sei como pudeste não notar nos meus olhos as palavras que me eram proibidas…
Não sei como pudeste julgar que o meu olhar era somente o olhar de quem não vê.
Era preciso que a morte me tomasse para que o brilho destes olhos se desvanecesse… porque tu estás e quando não estás imagino-te a cada momento, tomo-te a cada respiração apenas para te sentir em mim.
O meu olhar é teu. Amo-te mais que tudo mas, num instante inócuo, compreendo que não me compreendes. Não insisto mais! Não o viste no meu olhar, não o ouviste dos meus lábios, não o verás nas minhas palavras ou nos meus textos.
E eu não te vou viver mas sonhar-te-ei sempre porque, nesta vida, quando tudo o resto acaba, resta a certeza de que, ao menos os sonhos, ninguém nos pode roubar.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Enleio da derradeira noite...















Adormeci em terrores que não tenho por já não sentir forças para sentir medo do que quer que seja. Os meus olhos cerraram, como se nada desejassem abarcar e os lábios arroxeados proferiram o teu nome…
Adormeci com o sabor da recordação do teu beijo nos meus lábios, com a ilusão de que ao dormir te sonharia…
E o teu nome ecoou na minha mente e fez com que sorrisse pela derradeira vez antes de adormecer… O teu nome rimava com amor e com saudade e, aos meus ouvidos que quase já não podiam ouvir, o teu nome dizia “boa noite”.
Adormeci com a calma das folhas de Primavera que, cedo demais, por vezes, o vento arranca, leva e arrasta até ao rio para seguirem a derradeira viagem.
Adormeci com um sorriso nos lábios, o sorriso que o teu nome sempre cravou no meu rosto e que o teu olhar sempre trouxe à minha alma.
Adormeci preparada para dormir, ter sonhos, pesadelos ou não ver mais nada.
Adormeci sabendo que adormecia contigo nos meus lábios e no meu coração.
Adormeci pela última vez… já não existia medo, já não havia dor, já não importava porque, simplesmente, já não estavas na minha vida.



Marina Ferraz

*Imagem retirada da Internet

domingo, 6 de janeiro de 2008

Acredito em ti...

Dediquei quase todos os meus textos ao amor mas a amizade nada é senão um tipo muito especial de amor… O único amor – disse alguém – que nunca morre.
Por isso este é para ti e tu sabes quem és. Porque és mais do que achas ser.




Por vezes o mundo não compreende. Mas não importa que o mundo não entenda… porque o mundo não passou pelo mesmo que tu, não passou pelo mesmo que eu e há coisas que só podem ser compreendidas quando as vivemos.
Mas tu tens, tal como eu tive um dia, de lutar contra o que tu achas errado, porque achas que há outras soluções, e não de lutar contra o que os outros pensam do que fazes ou deixas de fazer.
Eles não vão viver a tua vida. Eles não vão sofrer as tuas dores. Eles não vão seguir o teu caminho. Eles falam porque não conhecem e porque é muito mais fácil julgar os outros do que pensar nos próprios erros.
Mas hoje eu, que entendo em parte o que estás a passar, estou aqui para te dizer que mesmo quando o chão que pisas parece desabar, existe alguém que não te deixa cair e mesmo quando parece que não há soluções há sempre uma restea de esperança que não te deixa bater no fundo. Porque existem os amigos e existe gente para quem és extremamente especial apenas por seres como és. Não penses que não fazias cá falta porque, estou certa, muita gente sentiria um grande vazio se não estivesses.
És uma miúda fantástica… não te percas na ideia do que os outros podem pensar porque, se vires bem, não há ninguém que te acuse que jamais tenha errado. Podes sempre contar comigo!
Força e toca a lutar para o futuro ser melhor do que o passado. Não é o que fizemos que nos define mas sim a força que temos para fazer melhor do que fizemos antes.

ACREDITO EM TI!

Marina Ferraz

*Imagem retirada da Internet