terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Gostava

Gostava que aceitasses um bocadinho da minha alma porque o meu coração não me pertence e não tenho mais nada que possa dar-te.
Gostava que a aceitasses e a guardasses no bolso, juntamente com as memórias que atabalhoadamente fechaste, querendo esquecer e julgando ser possível fazê-lo.
Por entre as sombras do olvido, nos vales tenebrosos do silêncio, dou por mim a pensar. Penso que gostava que soubesses que a minha vida está vazia desde que não fazes parte dela e que aquele pedacinho da minha alma, o mesmo que queria dar-te, vagueia por aí, à espera que o encontres e o guardes no bolso.
Desejo que, cada vez que penso em ti, o sintas na pele e isso te faça feliz. Pouco me importa se essa felicidade vem de uma espécie de amor ou de um desejo de vingança. Porque, se te sentisses feliz cada vez que penso em ti, sentir-te-ias feliz a tempo inteiro. E que doce vingança seria ser triste sabendo-te feliz!
Não vou dizer que a tua felicidade seria o bastante para me tornar igualmente feliz mas não tenho medo de afirmar que ela me faria ser menos triste.
Por tudo isto, gostava que aceitasses um bocadinho da minha alma e a guardasses. Quem me dera poder dar-te também o meu coração e a minha vida…
Porque, estupidamente, não tenho medo de sofrer e isso faz-me feliz. Não precisei de fugir de ti nem de te evitar. Não precisei de falsos moralismos! Então, em vez de amar-te, pude viver-te. E se pudesses aceitar aquele pedacinho da minha alma, saberias que nem toda a felicidade do mundo seria melhor do que chegar ao momento em que te quis dar a minha alma, sabendo que o coração já tinha sido quebrado e esquecido no fundo de uma gaveta.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet