sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Contos de fadas




















Lembro-me tão bem daquelas noites de infância nas quais liam para mim. As histórias eram sempre iguais. Havia uma princesa e um príncipe encantado, envoltos pela certeza arrebatadora de um amor impossível e proibido. Havia sempre alguém a tentar separá-los mas no fim, como se fosse obrigatório seguir um ritual de finais felizes, todas as histórias acabavam com «e viveram felizes para sempre».
Nessa parte, normalmente, eu erguia o sobrolho e perguntava a mim mesmas milhentas coisas, cada uma mais confusa que a anterior mas, com vergonha dos meus pensamentos, despedia-me e adormecia sobre as perguntas.
Eu não sabia se existiam mesmo príncipes encantados ou o que era o amor, aquela palavra que repetiam vezes sem conta nos contos de fadas. Existiria mesmo esse sentimento ou seria ele tão utópico como as fadas e os reinos longínquos?
Eu não sabia mas, mesmo assim, durante a noite sonhava que era uma princesa e que tu chegavas com uma rosa branca, lutando contra tudo para estares do meu lado.
Entretanto cresci e revoltei-me contra os contos de fadas. A minha vida nunca seria assim, por isso, o melhor que eu tinha a fazer era esquecer as minhas ilusões e apagar dos meus sonhos a ideia de que algum dia apareceria o meu “príncipe”.
Revoltei-me contra as princesas, contra os “era uma vez”, contra os mundos de bela e pura utopia e revoltei-me contra a ideia de que “para sempre” era o tempo certo. Comecei a ver a vida como um hoje e talvez um amanhã porque, para mim, a eternidade parecia sempre tempo demais.
Só que entretanto cruzei-me contigo e, vil erro o meu, olhei os teus olhos e entreguei o meu coração nesse olhar, sem sequer pensar se havia algo a separar-nos.
Pois bem, agora “para sempre” já não parece assim tanto tempo, o amor já não parece uma utopia e a ideia de se estar disposto a lutar contra tudo também não parece tão impossível.
Mesmo assim continuo um pouco revoltada contra os contos de fadas, não pelo mesmo motivo, o serem completamente irreais, mas porque agora sei que o amor é muito mais do que aquilo que os contos dizem.
Não existe conto ou poema algum capaz de retratar o verdadeiro amor porque esse, com toda a sua complexidade, é impossível de explicar!

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet