quarta-feira, 30 de julho de 2008

Castelos de Cartas


Castelos de cartas caem com o vento e reconstroem-se com paciência e cuidado, com vontade e amor.
Carta a carta, ousei construir o maior dos castelos que este mundo já viu, num estranho jogo de equilíbrio onde sempre predominou uma enormíssima tendência para o caos.
Talvez eu não tenha colocado as cartas certas nos locais correctos, talvez toda a estrutura daquele frágil castelo estivesse errada. Mas, contra o vento e os encontrões, a verdade é que o construí. Construí-o sozinha, sem a ajuda, o companheirismo ou o apoio de ninguém.
Cada vez que o vento soprava mais forte e ele era derrubado, eu respirava fundo e construía aquele castelo e de todas as vezes que o construía, o fazia com mais cuidado, com mais amor. E, naquela constante construção de castelos débeis que iam morrendo e renascendo, aprendi a amar o castelo. Amei-o mais de cada vez que o construí. Não sei porquê! Talvez o primeiro fosse o mais sólido, mas não era o que eu lembrava melhor nem o que me fazia sorrir nas horas de desespero…
E então, loucamente, houve um dia em que o castelo desmoronou e eu resolvi construir um maior, mais bonito…
Esse castelo surgiu à minha frente no momento em que o desejei. Com uma frágil e inexplicável imponência e eu confiei que aquele castelo, maior e mais bonito, aquele castelo que eu amava mais… aquele não cairia e dar-me-ia tudo o que os anteriores me tinham feito perder.
Mas o vento que soprou em brisa, derrubou-o como se fosse o mais pequeno de todos os castelos que havia construído.
Vê-lo cair abriu-me os olhos e fechou-me o coração. Percebi que querer um eterno castelo de cartas é como esperar que a vida seja construída apenas de sorrisos.
Nunca mais me sentei naquela mesa, criando castelos. Amontoei as cartas e atei-as com um elástico. Depois, como se fossem velhas amigas, pousei-as com todo o carinho. Passo por elas todos os dias e todos os dias amo os meus castelos. Jamais os esquecerei…
Aquelas cartas, pousadas e sem um novo sentido, servem apenas para eu me lembre que agora o vento pode brincar com as cartas mas já não brinca mais o meu coração.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Olha-me hoje...


Olha para mim hoje, hoje que eu sou a rapariga que conheceste numa encruzilhada de ilusões e da qual não esperavas outra coisa.
Olha para mim hoje. E hoje decora-me…
Hoje, abraça-me como abraçaste sempre, exactamente do mesmo modo, com a mesma ternura. Hoje diz que me achas estranha e que a minha maneira de ser e de agir é a mais errada de todas…
Olha para mim hoje. E hoje acredita nos teus olhos… lembra-me assim!
Entre gargalhadas forçadas e memórias menos boas, confessa que achas que sou demasiado pessimista e depressiva. Admite que gostas do modo natural com que encaro as coisas e que te confunde esta minha mudança em segundos que me transforma num oposto de mim. Faz tudo isto hoje.
Hoje, diz-me o que sentes por mim. Não me importa se me amas, se gostas de mim ou se me odeias. Já nem me importa que digas que te sou indiferente.
Hoje podes dizer e fazer comigo tudo o que quiseres. Podes troçar das minhas idiotices e dos meus erros, criticar as coisas que faço mal e até as coisas que estão bem, podes elogiar-me de todos os modos, ainda que sejam apenas mentiras formando frases ilusórias.
Hoje, cria a tua imagem de mim. Imagina que nunca mais me vais ver e que tens de te despedir. Imagina que amanhã vou de viagem e não pretendo regressar. Hoje imagina…
Hoje, vive-me como nunca me viveste, sente-me como nunca me sentiste, cai na minha alma, lê os meus pensamentos.
Quero que me vejas assim, como sou! Sem máscaras nem mentiras, sem ninguém para te dizer se estás a ver-me com olhos turvos ou se é clara a tua visão de mim. Quero que vejas a minha alma nua.
Hoje agarra numa foto minha, grava nela todos os traços da minha personalidade e guarda-a de modo a que essa imagem jamais se desvaneça.
Eu sou a pessoa que conheceste, a pessoa de quem gostaste, a pessoa que (bem ou mal) esteve lá.
Olha para mim e vê-me hoje.
Amanha estarei aqui e não serei esta pessoa. Amanhã tentarás entrar na minha alma e o meu corpo estará deserto. Amanhã procurarás o meu sorriso e as lágrimas estarão tatuadas. Amanhã não vou reconhecer-te e o meu olhar será vazio.
Lembra quem eu sou hoje e nunca te esqueças!
Digam o que disserem de mim, não te sintas na obrigação de ripostar...
Tu sabes e eu sei: Eu sou esta pessoa… e é nos teus olhos que eu quero continuar assim. É para ti que quero viver no Hoje, traga o “Amanhã” o que trouxer.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Abrir asas...

Abri as minhas asas e percebi que estou proibida de voar.
Não sei quem me impede. Sei apenas que o céu, lindo e distante, já não é azul. Anoiteceu. Anoiteceu para sempre.
Abri as minhas asas e construí toda a minha vida sobre as mais belas palavras ainda que tais palavras não fossem mais do que o reflexo de uma alma macerada.
Abri as minhas asas porque me fizeram acreditar que, ao abri-las, poderia voar e, se voasse, poderia chegar até àquele local onde toda a dor desaparece por entre os sonhos.
Abri as minhas asas... abri-as e dei-me ao mundo. Deixei que ele provasse o meu sangue e as minhas lágrimas. Dei-me ao mundo e o meu mundo eras tu.
Sei que abri as minhas asas. Sou tudo o que sei ser. Não sei ser mais do que eu mesma, não sei ser melhor. Isto é o que sou... sem disfarces, sem adornos. Não é o mais belo dos quadros este que me mostra de asas abertas mas de coração quebrado...
Hoje sei que não posso voar. Mas abri as minhas asas...
Abri as minhas asas e não estás aqui!

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet