segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Uma palavra...


"Ainda é muito cedo para falar de amor” – lembro-me destas palavras, cruzando a barreira dos meus lábios, tornando-se som sem que, no entanto, houvesse alguém para as ouvir.
Essas palavras nasceram do medo num momento em que o amor gritava alto dentro de mim, querendo libertar-se e voar rumo ao infinito.
Hoje sei que apenas o medo era real! Sei que nenhuma palavra devia ser presa dentro de uma alma quando os sentimentos são reais.
Mas eu pensava que era cedo para falar de amor. Cedo para dizer o quanto desejava um futuro.
No fundo, eu sabia que as mais belas palavras de amor eram abismos e que havia uma linha muito ténue separando o certo do errado e impedindo-me de cair no nada.
Ainda era cedo. Era cedo demais para dizer “amo-te”. Era cedo demais para admitir que sonhava com um “para sempre”! Era cedo demais! E, quando deixou de ser cedo demais, já era demasiado tarde.
Quando me apercebi de que o tempo era apenas mais uma invenção do Homem, que ele próprio condensara em dias e horas, relógios e calendários. Quando percebi que o meu tempo era suficiente para dizer o que sentia, quando compreendi que havia somente uma palavra a ser dita e que tinha de a dizer… já não podia fazê-lo.
Hoje existe uma palavra tatuada no meu silêncio. Existe uma palavra no negro das roupas que trajo. Existe uma palavra nos sorrisos que forço e nas lágrimas que deixo cair no meu rosto. Hoje existe uma palavra presa na minha alma, acorrentada em mim, desesperada por se soltar ainda que depois caia no esquecimento.
Era tão cedo para te dizer o quanto te amava... tão cedo que os meus medos me traíram e te disse apenas que gostava de ti, sem te deixar saber o quanto.
Sim, era cedo demais… e não to disse! Porque há regras que ninguém fez mas que têm de ser cumpridas e há um calendário na parede que diz que alguns dias não bastam para que se fale de amor.
Hoje eu sei que é tarde demais. Hoje não posso dizer-te o que sinto porque já foram riscados muitos dias na confusão de milhares de horas…
Entre ser demasiado cedo e tarde demais, não houve um momento certo no qual pudesse dizer-te que te amava.
Mas isso não mudou apenas porque não to disse. Estava em mim, no meu olhar, no meu pensamento enquanto me ouvia dizer “Ainda é muito cedo para falar de amor”.
E ainda está em mim! Está em mim porque palavras não ditas e sentimentos puros cruzam o tempo num “para sempre” verdadeiramente eterno que começa no momento exacto em que nos ocorre falar de amor e nos assusta a sensação de que ainda é cedo demais…

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet