terça-feira, 29 de abril de 2025

Rescaldo

 


Ontem foi Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho e dia de apagão. Hoje é Dia Mundial da Dança e de rescaldo nas redes sociais. Há dias para tudo!...

 

Mas hoje... hoje é um dia especial. E é um dia especial porque ontem foi um dia especialíssimo. Se a luz ao fundo do túnel já se tinha apagado (ou pelo menos esmorecido até ao ponto em que se torna impercetível a olho humano), a decisão súbita de toda a outra luz fazer o mesmo pareceu despertar algo há muito adormecido nas pessoas. Então, hoje é um dia especial. Hoje, nas redes sociais, é dia de rescaldo, de reflexão, de explorar o apogeu da auto-sabedoria. Dia de verbalizar literariamente o fruto da sua meditação. Dia de dizer, no fundo, qual a lição dada pela emergência mestre da véspera.

 

Quero fazer diferente e vou dizer o que não aprendi. Eu não aprendi que a luz é fundamental. Eu não aprendi que a água é fundamental (sim, também fiquei sem água!). Eu não aprendi que estar dependente de terceiros é limitador. Eu não aprendi que ter um fogão a gás é melhor do que ter uma placa elétrica. Eu não aprendi que faz falta podermos contactar quem amamos. Eu não aprendi nada disto ontem. Aprendi isto mais ou menos pela altura em que me levantava às sete da manhã porque queria ver os bonecos animados e em que a minha noção de sucesso para o futuro seria tornar-me a Power Ranger Amarela.

 

Ontem, quando muito, comprovei os limites da minha própria preguiça. Tinha garrafas de água para encher, que permaneciam vazias na bancada... porque tive preguiça de as encher quando havia água nos canos. Aproveitei que não havia eletricidade e descongelei o gelo para ter água... porque tive preguiça de ir comprá-la. Fiquei por casa porque, honestamente... é um oitavo andar e, como devem imaginar, o elevador não funciona durante um apagão.

 

Ontem, pensei nos hospitais, em pessoas que pudessem estar presas em elevadores ou no metro, nas atarefadas funcionárias que provavelmente fizeram o trabalho mensal de bíceps a passar aos vinte garrafões de 5L de água de cada vez, açambarcados por imbecis que não entendem que os recursos devem ser para todos e não para seu uso pessoal, único e exclusivo. Pensei na minha família e decidi – nada novo, também aqui... é uma decisão que já tomei noutras alturas, incluindo durante a pandemia – que se isto continuasse iria ter com eles, porque detesto não saber como estão. E pensei nos povos em guerra, nos sem abrigo, nas pessoas que vivem em condições deploráveis, em países de terceiro mundo, de segundo mundo, de falso primeiro mundo. Pensei como nos achariam ridículos por nos queixarmos tanto, por tão pouco.

 

Estou muito longe de ser o espelho da moralidade... e também não quero sê-lo. Honestamente, ontem estive entretida a trabalhar enquanto o computador teve bateria, continuei a ler O Adeus às Armas que estou quase a acabar, bebi vinho tinto numa caneca do Star Wars (porque, vocês sabem... há que poupar a água... o gelo não era muito...), fiquei a ver as luzes acender ao longe e as estrelas na minha marquise...

 

Depois a luz voltou também ao meu bairro. As pessoas celebraram na rua, com gritos, palmas e assobios, como se fosse um novo ano que começava. E, hoje, transportaram a emoção do momento para o registo do aprendizado numa longa e detalhada lista digital, que só puderam publicar porque há luz...

 

Eu sou a mesma pessoa que eu era há dois dias. Se calhar, durante um tempo, vou combater a preguiça e encher as garrafas com água. Se calhar, vou comprar uma lanterna. Mas fundamentalmente não mudei, não me tornei melhor, não descobri a importância de nada novo...

 

As pessoas querem sempre que tudo seja um momento de epifania. Bom para elas! Talvez sejam, na verdade, mais felizes que eu... melhores do que eu...

 

Mas fica a pergunta... foi a rede elétrica que caiu. Já alguém lhe perguntou se se magoou?


Marina Ferraz




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terça-feira, 22 de abril de 2025

Terra (Olha para mim)

Vídeo de ADN Agência de Notícias

Documentário: @Paulo Oliveira | Texto e interpretação: @Marina Ferraz | Drone: @David Duarte



Olha para mim.

 

Não. Não olhes como olha quem tem olhos e não vê.

 

Olha para mim.

 

Olha-me quando sou semente, quando sou sol, quando sou vento. Olha-me e vê-me no correr do rio. No estalar da argila. No dançar das canas. Olha-me e vê-me na espuma que fica depois da onda, na onda que vem, e vai, e volta... para partir novamente.

 

Não vás. Não vás pelos caminhos de estrada e betão.

 

Segue-me até ao trilho de montanha. Desce comigo ao vale. Encara o nascimento e morte dos dias.

 

Olha-me. Olha-me na noite. Olha-me os ornamentos cintilantes das estrelas. A luz reflexa do luar. Aprende a amar o que fica longe demais para tocar. Aprende a amar o que tem fases. O que mingua e desaparece, para aumentar e ser farol noutro dia.

 

Olha para mim.

 

Olha para os seres que correm entre as ervas. Olha para os pássaros que voam. Observa como planam e cantam. Aprende, com eles, a arte de migrar. Tudo é viagem...

 

Olha para mim. Conhece a arte da serenidade. Descobre que o ciclo, o círculo, é vida. Mesmo quando culmina num último sopro.

 

 

Escuta-me.

 

Não! Não escutes como quem apenas ouve.

 

Escuta o som das minhas entranhas. Quando falo. Quando canto. Quando grito. Quando expludo. O vulcão. O grilo. O restolhar das folhas. O eco do trovão. O canto das ondas, essas sereias de tempo imemorial e sonho. Ouve o borbulhar das águas vulcânicas. O ceder da pedra na encosta. O pássaro. A cigarra. O roer inconstante da madeira velha pelos bichos-gente que a povoam. Ouve o clamor leve das estações que passam. O ranger dos troncos. O correr da ribeira. O adormecer do sol no oceano. O som que os dedos da via láctea arrancam das teclas negras da noite.

 

 

Toca-me.

 

Não! Não me toques breve, inutilmente, com essas mãos que não sentem.

 

Toca-me num mergulho inteiro. Mãos enterradas na areia e acariciando os troncos. Corpo dado à maré-cheia. Enlace de dedo com folha. De dedo com flor. De dedo com pelo. Toca-me como quem ama. Sente o veludo e a rugosidade da minha pele sem corpo. Crava o toque nas entranhas viscosas das minhas vísceras. Toca-me. E sente-me.

 

Descobre que sou tecida de texturas dispares. Que sou camada sobre camada sobre camada de muitas sensações que não são para quem fica à superfície. Madeira e água. Pedra e terra e corpo. Corpo-escama. Corpo- pena. Corpo-pelo. Carapaça e nudez anfíbia, fria e furtiva.

 

 

Prova-me.

 

Não. Não me proves. Saboreia-me.

 

Lambe o tecido férreo dos meus minerais. Entende a subtileza dos frutos sadios que crescem na orla das montanhas. Trinca a maçã verde e a amora silvestre e a laranja de inverno.

 

Sente o sabor da chuva e do trovão a picar nas línguas atentas. E o sal que fica na pele depois do mergulho. E a sensação doce e fresca da água colhida nas nascentes.

 

Saboreia-me em pratos de respeito. Honrando a morte de cada vegetal e fruto, assim como a de cada ser que te alimenta. E conhece-me o acidulado, o dulçor, a mistura inebriantemente agridoce do meu âmago.

 

 

Cheira-me.

 

Não! Não como quem busca o perfume encapsulado e constrito. Não me conhecerás em qualquer perfumaria. Mas vem...

 

Vem cheirar o começo do verão. A neve. A floresta cerrada, encerrada, onde as folhas fazem cama que será alimento. Os jardins floridos. Os pomares. O pelo molhado dos animais. A erva pisada, cortada, crescida. O vento do sul. O vento do norte. A areia beijada de mar. A salina. O fogo. A terra sulfurosa das ilhas. O ar marinho pela madrugada. O ar.

 

Vem sentir o aroma do outono, diferente na queda de cada folha. E sente o cheiro da poesia, que emana. Sempre. Se escolheres cheirar como quem vive.

 

 

 

E, depois, entende.

 

Não entendas como os doutos eruditos das academias, mas como os despretensiosos sábios do burgo...

 

Quando me olhares. Quando me escutares. Quando me tocares. Quando me provares e cheirares. Terás então marcado encontro contigo mesmo.

 

 

Descobrirás quem és: Espelho e pertença... A raiz do átomo e do universo.

 

Tu és eu e eu sou tu.

 

Natureza.

 

 

Pena que não olhes. Pena que não escutes. Nem toques ou proves ou inales essa essência de ti.

 

Porque sou tua Mãe.

 

E, doce humano, por mais cruel que sejas, por pior que faças... quando te olho, escuto, toco, provo e cheiro... vejo essa raiz de matéria sonho.

 

Então dou-te abrigo e embalo-te.

 

Até que acordes os sentidos.


Marina Ferraz




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terça-feira, 15 de abril de 2025

A cama-baú

 

Imagem gerada por I.A.

Comprei uma cama-baú. Julgo que este foi o começo dos meus problemas. Comprei uma cama-baú. Dentro da minha cama há cobertores e mantas, lençóis e colchas. Comprei-a por isso. Porque me dava jeito o espaço de arrumação, numa casa onde o único armário embutido fica na entrada (o que só faz sentido quando nos recordamos de que a maioria dos arquitetos na época de construção do prédio eram homens!).

 

A colocação absurda do armário na entrada, no entanto, não foi o começo dos meus problemas. O problema foi mesmo a igualmente absurda decisão de comprar uma cama-baú. Tenho a certeza de que foi esse o começo do problema. Porque os monstros deixaram de poder esconder-se debaixo da cama, não tinham armário no quarto, e decidiram, todos de uma vez, voltar para casa da mãe... assentaram arraiais no meu peito e, desde então, é um vê-se-te-avias.

 

Dentro de mim anda tudo desarrumado. Tenho meias espalhadas por todo o lado (seriam inteiras, mas eles partiram quase tudo), está tudo sujo com uma poeira datada e negra, cheira a mofo e a desassossego. Não contentes com a confusão, foram à caixa das recordações e começaram a emoldurá-las. De repente, todas as faltas me fazem mais falta. Uma reposição de sentimentos que estavam resolvidos, lutos desfeitos e espalhados nos recantos de mim.

 

Gostava de poder pagar-lhes um quarto algures, para lhes dizer, de uma vez por todas que o meu peito não é uma república coimbrã. Mas – bênçãos da inteligência artificial – o que ganho agora mal dá para pagar as minhas contas, quanto mais as deles.

 

Não devia ter comprado a cama-baú. É certo que tem arrumação e que até foi baratinha... mas devia ter comprado uma cama com pernas, para o diacho dos monstros se manterem na sua saudável vidinha e só me fazerem cócegas à noite, com tentáculos permeando os sonhos notívagos.

 

O meu peito é, agora, o armário embutido onde se escondem. Sinto-os debruçados nas janelas dos meus olhos, em plena noite, acordados como se os alimentasse a cafeína. Lá ficam, a atirarem balões de água aos transeuntes. Eles rebentam e molham-me a almofada.

 

Sinto-me cansada como se nunca dormisse. Apesar de ter uma cama-baú com um colchão suave e macio.

 

Sinto-me cansada. A culpa é dos monstros desalojados. E também dos que se alojam em altos cargos, fazendo a mesma triste figura, mas dentro de fatos que eu não poderia pagar.


Marina Ferraz




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terça-feira, 8 de abril de 2025

Sobrevivência

 

Imagem retirada do Pixabay

Há um motivo para que a palavra sobrevivência seja feminina. Desengane-se quem acha que não existe um alvo nas costas de todas as mulheres. Um medo que não é inerente à condição, mas que nasce, muito cedo, em pequeníssimas coisas gigantes.

 

Reconhecemos a que classe pertencemos muito cedo. Começa com coisas tão simples como um “quando fores grande podes ser...”. Tão inocentemente dito. Com tão boa intenção. Sem que mães e pais e cuidadores entendam que beberam do patriarcado. Até esse segundo, nenhuma menina imaginou que não pudesse fazer o que quer que fosse... Ali. Assim. Nasce. A dúvida. O entendimento. Amargo. Há caminhos vedados porque, se estivessem abertos, deles não se falaria.

 

Dessa frase nascem outros desafios. Podes ser o que quiseres. Dizem. Mas, mulher no meio de homens, perceberás que existem lugares onde trabalharás o dobro para receber metade. Perceberás que serás encarada como um pedaço de carne laboral, onde chefes e colegas frequentemente querem meter os dentes, e que chefes e colegas provavelmente verão apenas na condição de mulher. E todo o trabalho mal feito será porque o és. Mulher. E todo o trabalho bem feito será apesar de o seres. Mulher.

 

Esta é uma realidade transversal, para a qual felizmente há exceções. Felizmente existem. Infelizmente são raras. Raras, como o é o acesso a trabalhos que se consideram apenas masculinos ou cargos de poder muito elevados. E dirão. Existem mulheres nesses cargos. Nesses trabalhos. Eu sei. E, mais uma vez, raros são os casos em que o que temos, nesses cargos e trabalhos não sejam, na verdade, mulheres que se vergam ao seu lado mais masculino para pertencer. Lembro-me sempre de uma história que me contou um Técnico de Petróleos sobre uma mulher que, estando na messe, foi questionada sobre o que achava do assédio, tendo respondido um categórico “acho que há pouco”, que levou todos ao riso. É a ânsia de fazer parte, quando se sente que não se faz parte. Quando o mundo não deixa que desapareça a nuvem que chove sempre nas cabeças femininas. A ambição obriga à adaptação. Temos muitos camaleões. E, das suas bocas, frequentemente saem comentários que querem ofender (e por vezes ofendem mesmo) as mulheres livres, que se recusaram a vergar.

 

Podes ser o que quiseres. Mas não livre. Porque tens de ter cuidado com o que vestes. Com a hora a que vens para casa. Com a forma como falas. Sorrir? É insinuação! Chorar? Estás com o período! Brincar? Flirt! Um ar sisudo? Falta de sexo! Fora de casa - se não for também dentro – uma mulher não pode ser tudo o que quiser. Pode ser tudo o que o patriarcado deixa. E, frequentemente, o que a mulher pode ser é vítima de violência doméstica, psicológica, laboral, sexual...

 

Sobrevivência não é uma palavra feminina por acaso. E não, este texto não tem piada nenhuma, porque não consigo encontrar forma de me rir. Talvez esteja com o período, talvez seja falta de sexo, talvez seja a maldição de ter olhos na cara e neurónios funcionais...

 

A minha mãe também me disse que eu podia ser o que quisesse, quando era pequenina. Mas disse-me já mais de vinte vezes, depois disso, que eu não posso mudar o mundo. Acho que até ela sabe que isto é antagónico.

 

Gostava de ser bomba. Mas sem violência. Explodir compaixão e entendimento. Filosofias válidas e noções de empatia. Não podendo ser o que quiser, sou o que me permite o código legal. É proibido por bombas dessas, não vá a ordem mundial reorganizar-se e mandar abaixo um sistema que serve tantos! Sem poder ser o que quiser, sou hoje uma pessoa a escrever este texto, que provavelmente não será lido por muita gente.

 

Sabem que mais? Se fizer a diferença para uma pessoa... nem que seja para que não se sinta só na sobrevivência... já fico feliz. Mas, Deuses, não devia ser preciso este texto. Nem lutar assim. Nem sobreviver. Devia ser só viver. Devia.


Marina Ferraz




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terça-feira, 1 de abril de 2025

72 horas

 

Imagem gerada por I.A.

Um alerta da União Europeia veio informar as famílias de que devem preparar-se para ter em casa mantimentos para sobreviverem durante 72 horas. Esta, que é uma estratégia de preparação para “eventos externos”, atingiu os europeus qual sismo, fazendo-os tremer face ao futuro. E, de súbito, eu fui também abalada por questões - algumas fruto do meu próprio privilégio, admito – mas outras da observação do mundo.

 

A minha primeira pergunta foi: quem raio não tem em casa os essenciais para sobreviver durante 72 horas? Certo é que, quando vou aos supermercados e me deparo com as filas infernais, quase parece que toda a gente vai lá diariamente. Mas eu sou a pessoa que equipa o carrinho com o suficiente, no mínimo, para tentar não lidar com as pessoas e as filas todos os dias... E, claro, há dias em que se abre a despensa e não há aquilo que nos apetece... mas em caso de absoluta necessidade, tenho a certeza de que se inventa qualquer coisa para comer, nem que seja com aquele produto enlatado que se comprou já-nem-se-sabe-quando-ou-porquê, mas que ainda está dentro do prazo de validade. Além disso, diz a ciência, o corpo humano está preparado para sobreviver entre 30 e 60 dias sem comida e entre 3 e 7 dias sem água. Ou seja: os essenciais para sobreviver durante 72 horas são, literalmente, porra nenhuma!

 

Seja como for, a União Europeia está preocupada e a alarmar os europeus. O alarmismo já provou que funciona. A trela do medo é curta e as suas lentes transformam facilmente tiranos em salvadores.

 

O kit de sobrevivência de 72 horas, no entanto, não parece incluir enchidos, vinho tinto e lugares para jogos de futebol. Acredito que os portugueses continuem a assobiar para o lado... evento externo, por aqui, é quando o Benfica não joga em casa. E, seja ele campeão... tudo se resolve!...

 

Portugal - e nisto temos que lhe tirar o chapéu! - está a preparar os cidadãos para este tipo de notícia há anos! Hoje, a maioria das pessoas sabe sobreviver! Sabe-o, principalmente, porque não consegue viver... Em algumas casas, quando há festa e se comete a loucura de fazer cozido, ele tem sobrevida em massa de carne, pataniscas de carne, arroz de cozido, arroz de carne, massa com carne e enchidos, sopa de cozido e sopa de osso. E, isto é no mundo das famílias ainda beijadas de privilégio... Porque casa em que acontece poupar-se é casa que ainda se tem... e tanta gente não tem...  

 

As tendas – onde não há cozinha ou despensa - criam pequenos condomínios públicos... tão públicos que ficam na via pública, não há despensa para guardar mantimentos para 72 horas. (Se isto vira lei, ainda os multam por isso!) Seja como for, a verdade é que estamos a falar de seres humanos treinados para a crise. Seres humanos que facilmente aguentam 72 horas sem comer. Alguns deles, andam a treinar há anos...

 

Na União Europeia deviam estudar Portugal!

 

Somos um país de gente cada vez mais capaz de sobreviver a eventos externos! É sobreviver aos eventos internos que está a tornar-se complicado...

 

 

(Sabem? Os nossos partidos são como aquele produto que se comprou já-nem-se-sabe-quando-ou-porquê, mas que ainda está no armário. Se estão dentro do prazo de validade? Não sei! Tenho as minhas dúvidas... mas tudo bem cozinhado, apesar de alimentar infinitamente os media, é tão poucochinho, que estou certa de que não daria para alimentar uma família real por 72 horas!)


 Marina Ferraz




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