terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Filosofia

 


“Nenhuma doença faz bem à saúde.”

- António Costa

 

 Filosofia. Pura. Da que faria corar Aristóteles e equivocaria Platão. Epicuro poderia discordar, já que defendia que “não se pode não ter medo quando se inspira o medo”. Mas não deixa de ser filosofia. A filosofia da constatação do óbvio. Algo similar à que pinta nas retretes das estações de serviço, de Norte a Sul. E que, de tão óbvia, parece certa, embora, na prática, dois dedos de testa cheguem para a questionar.

 

Eu poderia, no geral, concordar. Sobre a doença. Que não faz bem à saúde. Mas não é verdade. E não o é por várias razões.

 

Para começar, toda a imunidade que construímos ao longo da vida provém – literalmente - de uma reação física à doença. É ficando doentes que o corpo cria anticorpos. À medida que combate vírus e bactérias e partidos políticos. É assim que, ao longo do tempo, nos tornamos imunes às viroses, às infeções e à estupidez mórbida.

 

Na maior parte dos casos, a doença é o que cura a doença futura, com ou sem a ajuda de medicação extra – sim! Que ninguém nega o papel incrível da ciência no processo! – Mas, aqui, um aparte: se não fosse a doença e a curiosidade humana sobre a doença, nenhuma cura teria saído dos laboratórios. Diriam, com toda a sua sabedoria, os homens que os ocidentais tomam por incultos, que é preciso o veneno da cobra para se curar a mordida.

 

E se a doença não for curada, numa análise muito pessoal, acho também que faz bem à saúde. Nunca se ouviu falar de um morto que ficasse doente. Talvez todas as doenças mortais façam, na realidade, bem à saúde.

 

Sobre a classe política portuguesa e todas as suas demonstrações de eloquência, posso ainda asseverar que me fazem sentir que a doença teria, se em escala e proporção letais e ubiquamente orientadas para esta categoria social, o potencial de fazer muito bem à saúde do país, que continua num remoinho de decadência às mãos de pobres tontos que vivem de chavões, lugares comuns, usura e contas offshore.

 

Simone de Beauvoir, também ela filósofa, desta feita existencialista, disse um dia que “começamos a morrer assim que nascemos”. É nesse caminho que estamos. Eu estou. Estou a morrer. Cada dia a mais é-me um dia a menos. Estou a esgotar o tempo. A subtrair as respirações. A ter uma contagem cada vez menor de sístoles e diástoles.

 

A vida é curta. Não quero vivê-la com medo. E recuso a ideia da doença que faz mal à saúde. O que faz mal à saúde é isto. Saber que vou morrer. Que não tenho medo da morte. Mas que me assusta a ideia de morrer sem ter vivido. E que é isso que querem que faça. Para não adoecer...


 Marina Ferraz





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