quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Mentira


Ontem, eras a minha guarda inteira. Eras o meu exército, sempre disposto a lutar pelas coisas mais pequenas, acreditando que eu não merecia sair magoada. Hoje, se perguntarem, vou dizer que não és ninguém.
Ontem, eras o meu Abrigo, o refúgio da minha guerra interior, onde podia enterrar o rosto e fechar os olhos, esperando acordar no País das Maravilhas. Hoje, se perguntarem, vou dizer que não és ninguém.
Ontem, tinhas a altura do céu, o brilho das estrelas, a imensidão do oceano. Eras, sozinho, o meu mundo inteiro, o meu jardim proibido, onde reinavas sobre tudo o que existe. Hoje, se perguntarem, vou dizer que não és ninguém.
Ontem, eras o amor da minha vida, a rosa sem espinhos, o caminho sem obstáculos, o pote dourado no fim do arco-íris. Tinhas descido do Olimpo, dominado os mortais e conquistado o meu coração de mulher. Hoje, se perguntarem, vou dizer que não és ninguém.
Ontem, eras o amor da minha vida, o meu Universo, uma linha de certeza entre o tudo e o nada. Hoje, se perguntarem, vou dizer que não és ninguém.
Vou dizer que não és ninguém e vou mentir. Mentir somente, porque aprendi a verdade: ontem, eu estava cega. Cega de não saber que não existem portos seguros, nem deuses, nem certezas, nem países encantados, nem pessoas do tamanho do céu.
Estava cega de não ver além da tua perfeição. Da perfeição que ainda tens na cegueira, agora atenta, dos meus olhos.
Ontem, eu estava cega. Não há rosas sem espinhos…

Marina Ferraz
*imagem retirada da Internet

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