terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Grande amor

 

Imagem retirada do Pixabay

Perguntaram-me. O grande amor da tua vida é ele, não é? E a minha vontade foi dizer que não. Que o grande amor da minha vida sou eu. Mas mordi a língua. Porque sei, no meu âmago, o quanto já me odiei. Porque sei que faço escolhas – ainda! – que não são grandes provas de amor para comigo mesma. Porque sei que as faço, muitas vezes, por amor... então respondi apenas “não”.

 

Todas as manhãs me levanto. Por ela. Todos os dias enfrento dificuldades que poderia evitar. Por ela. Todas as noites me deito e agradeço. Por ela. É o nome dela que trago sempre nas pontas dos dedos e na ponta da língua. É ela que tenho, qual órgão vital, determinando-me os passos. Sei eu, sabe ela, sabem eventuais deuses... já perdi tanto por ela, para me dar apenas a ela...


Se ela me diz: muda-te... eu mudo-me. Se ela me diz: abandona... eu abandono. Se ela me diz: perde... eu perco. Tenho-a na minha vida como uma ditatorial forma de estar. Foi com ela que ergui todos os muros. Foi com ela que derrubei todos os muros. Andei com ela por estradas e trilhos cheios de silvas... e só eu sangrei, porque a levei dentro, para a proteger.

 

Vivo por ela, morreria por ela. Recuso-me a usar a palavra amor como fazem os pobres de espírito. Mas amo-a. E sinto que ela me ama. E sinto que ela é a forma mais pura de amar o mundo e as pessoas do mundo, nascidas, vivas, mortas ou ainda por nascer. O seu nome soa-me ao mesmo que o amor. E define o amor. E é amor.

 

 

Então, a vontade da mentira passa. Não me apetece dizer que eu sou o grande amor da minha vida. Porque eu só me amo na medida em que a amo. E porque a tenho em mim. E porque vivo com ela até na solidão dos dias.

 

Perguntaram-me. O grande amor da tua vida é ele, não é? Respondi apenas “não”.

 

Porque ela me disse: não precisas de dizer mais. Mas foi também ela que me permitiu escrever este texto. Que me sussurrou. Diz o que quiseres, sem reservas e sem medos. Fala-lhes de mim, outra vez... e nem te importes que venham dizer que te estás a repetir, porque tens esse direito.

 

Aqui estou. Eu e este amor. O grande amor da minha vida é a Liberdade. Porque é só amando a Liberdade que consigo amar-me. Porque é só amando a Liberdade que consigo amar os outros. Não falo de amor facilmente, mas é fácil dizer que a amo e que, sem ela, não quereria sequer estar viva.

 

Por isso não. O grande amor da minha vida não é ele. O grande amor da minha vida é ela. E estou grata. Porque há quem escolha amá-la comigo. Porque há quem escolha amá-la em mim... Porque ela me ensinou a amar... no âmago do amor, além do amor, apesar do amor...


Marina Ferraz




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1 comentário:

  1. Anónimo15:54

    Como bem sabes, adoro muito a tua escrita prosa ou poesia, mas este texto vai mais longe. Mergulha na profundidade do teu eu mais íntimo e isso é sempre um risco. Ao expores-te assim tb ficas talvez mais vulnerável, mas ao mesmo tempo, mais autêntica, mais tu própria e de certo modo, mais livre. E é assim que eu gosto de te pensar. Perturbou-me a ideia de tu te detestares num passado mais ou menos recente. Acredita que isso não faz sentido nenhum. Bem pelo contrário. Deverias sim estar bem feliz contigo própria, pois reunes em ti muitas qualidades que faltam a muita gente. És uma estrela, admirada por tantas pessoas e com plena justiça. Isso deveria fazer-te sentir feliz contigo própria, realizada, dar-te a certeza de estares no caminho certo, positivo, elevado. Quantos adorariam poder dizer ou pensar o mesmo? O destino cumulou-te de bençãos e tu tens desenvolvido essa parte tão maravilhosa de ti. E eu, acredita, fico muito feliz por isso. BJ

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