quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Tumores

 


 

É um tumor estranho, o luto.

Nasce da morte e é irmão gémeo – mas falso - da saudade. Não cresce. Ele não. A saudade sim. Cresce como se, mais do que irmã, fosse metástase. E, por vezes, numa onda, embate contra nós. E ri-se. Com ela, traz fotografias e momentos que não voltam. Por segundos, sente-se nos braços um calor que já não há. E ouve-se o andar pela casa de patas que não estão. Arranca lágrimas atrás de sorrisos de pedra. Faz chorar o chão, que se diz forte. E não se conforma.

O luto é um tumor estranho.

E a saudade, sua irmã, é raiz a envolver um coração que dói.

 

Mas ainda olho para a fotografia com o mesmo sorriso. A memória também é tumor. Benigno, para todos os efeitos. E quero tê-la comigo. Porque, embora doa um pouquinho no roçar dos dedos da ausência, pensar em ti faz-me bem...

 

(e... um segredo... escrever sobre isso... também!)


Marina Ferraz




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