terça-feira, 7 de outubro de 2025

Funcionários

 

Imagem gerada por I.A.

Não entendo. E não sei se me faço entender. Por isso, vá... vou largar a literatura por dois minutitos e tentar explicar como se fossemos todos crianças prestes a pôr os dedos na tomada.

 

Imaginemos alguns cenários.

 

Uma funcionária de limpeza é contratada para tratar da higiene de um apartamento. Uma vez contratada, ela inicia – não de forma momentânea e num ímpeto, mas de forma coordenada e regular – o roubo de objetos de maior ou menor valor a todos os residentes do referido imóvel. Os patrões despedem a funcionária porque não querem pagar a quem os assalta.

 

Numa loja de centro comercial um trabalhador é contratado. Vai trabalhar nos dias em que lhe apetece, nos outros não vai. Não apresenta justificação e nem sente que precise de se justificar. Nas horas vagas diz que é a única razão pela qual a loja continua a ter clientes. O patrão despede-o por justa causa porque não quer continuar a pagar ao funcionário sem saber com o que pode contar.

 

Numa redação é contratado um jornalista para fazer as reportagens que lhe são incumbidas. Todos os dias este jornalista decide escrever sobre assuntos diferentes daqueles que lhe são encomendados, com base nos seus gostos e interesses pessoais. O chefe de redação reporta a situação. O jornalista acaba por ser dispensado por incumprimento das suas funções.

 

Um motorista é contratado para entregar encomendas ao domicílio. Em vez disso, começa a utilizar para fins pessoais a carrinha da empresa e, se acaso a entrega é comida, aproveita para lanchar... Adivinhemos... é despedido...

 

Em comum todas estas situações têm o seguinte: os funcionários não cumpriram o que deles era esperado. Dirão, provavelmente, que o despedimento faz sentido. Que não estavam à altura do serviço, que eram desonestos, que não tinham responsabilidade ou seriedade... Toda a gente o vê. Toda a gente entende. Toda a gente se indigna com estas situações e as critica habilmente, destacando que “basta ter bom senso”. Até que... o dinheiro é o nosso e os funcionários pagos com o nosso dinheiro usam fato e gravata e se sentam no pódio parlamentar.

 

Aí, que roubem. Que faltem. Que usem os meios públicos para interesses pessoais. Que evitem os temas de maior importância para cumprirem a sua própria agenda... Façam o que quiserem...

 

O povo olha para o Estado com a soberania que a velha senhora lhe quis dar, como se estivessem acima do proletariado e quase tivessem bênção divina. Mas o dinheiro que lhes paga o salário é o nosso... e, pergunto eu, do alto do meu ponto de vista,... isso não faz deles os nossos funcionários?

 

Se fosse a funcionária da limpeza, o motorista, o jardineiro, a babysitter, o jornalista, o varredor de ruas, o empregado de balcão não o toleraríamos... alguém me explique assim, de forma simples e básica, como se eu tivesse três anos, esta falta de indignação.

 

A política é uma tomada em que continuamos passivamente a enfiar os dedos. O choque é de quem o faz e de quem assiste.

 

E ainda somos nós a pagar a conta da eletricidade.


Marina Ferraz



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