A pergunta atravessa o ecrã. Ainda bem. Se viesse num frente a frente, acho que o rosto me denunciaria. Até a mim, que me considero moderadamente boa atriz. Atravessa o ecrã. É só uma pergunta, mas também é uma mina terrestre num percurso de meia-maratona. Tento procurar a suavidade dos eufemismos. Aproveito para reler. Como é Portugal? E respondo da única forma possível:
Portugal é um espetáculo!
A televisão portuguesa é um espetáculo. O parlamento português é um espetáculo. Os políticos portugueses são um espetáculo. O jornalismo nacional? Espetáculo! A saúde é um espetáculo. A educação é um espetáculo. A função pública, então, é tão espetacular, que é ver as filas para assistir na porta das Finanças e da Segurança Social...
Tudo em Portugal é um espetáculo. Mas principalmente os debates políticos! Nem imaginas! Olha: são trinta minutos, com três pessoas numa mesa. Das três, duas estudaram uma lista de piadas tristes e insultos gratuitos. Uma não sabe o que é moderar. Nenhuma das três sabe o que é moderação. E desconfio que nenhum dos quatro – eles e o espetador que assiste – sabe o que é um debate. A cenografia é fantástica, a dança de interrupções é clássica, a sinfonia é moderna, mas com um toque de ancestralidade arcaica. Há poesia nos segundos de silêncio e escrevem-se enredos fictícios interessantíssimos sobre o passado que nunca existiu e o futuro que nunca vai existir. Mas, não te assustes! Ali, nem uma ideia! Nem uma estratégia. Nem um plano. Nem uma solução! Trama novelesca da mais pura, debitada por atores políticos, que assim justificam o nome de atores... embora lhes falte o nível, o charme e o talento. Mas dá para o gasto, já que fazem muito teatro e pouca arte!
A televisão aproveita o teatro para o seu espetáculo. Repete o espetáculo. Disseca-o. Apresenta-o dentro de contexto, fora de contexto, com texto, sem texto, com pretexto e sem pretexto. A imprensa repete. As rádios repetem. Diz que disse e... espetáculo! Lemos. O assunto é diverso. Alunos que acham um espetáculo que o ano letivo tenha começado há um trimestre e ainda não tenham professores. E pacientes que acham um espetáculo a consulta urgente estar agendada para daí a um ano e três meses. Acredita! Portugal é sempre a andar...Portugal já nem pára para parir! É ver mães a dar à luz na autoestrada.
Espetáculo! Assim vamos andando, de espetáculo em espetáculo.
E, depois, o Canal Parlamento, merecedor substituto do Big Brother, num formato que combina o confinamento em espaço fechado de um conjunto de gente intolerável e intolerante com a tirania da Voz do Masterplan, criando as regras para o malabarismo triste que fazemos com o salário para tentar pagar contas e impostos. É do que de mais puro já foi feito no contexto dos Reality Shows! Um espetáculo!
Sim. Podes acreditar! Portugal é um espetáculo! Para um país que não apoia a cultura nem os artistas, até chega a ser estranho! Mas Portugal é espetáculo! Tudo o que devia ser sério é espetáculo. Tudo o que devia ser levado com profissionalismo e idoneidade é espetáculo. Só o espetáculo é que não é espetáculo. Porque os artistas querem fazer cultura. Porque os artistas querem fazer arte. Porque os artistas querem – imploram - para que venha um espetáculo. Mas Financiamento? Seria um espetáculo! Mas, espetacularmente, já nem há um ministério exclusivo para a cultura... então...
Portanto...sim! Portugal?! É... espetáculo!
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