segunda-feira, 2 de abril de 2012

Rumores


Há rumores pela cidade. Talvez não os ouças. Talvez não queiras ouvi-los. Mas há rumores a percorrer as ruas, cantando na voz do vento. E não consigo fugir-lhes. Perseguem-me, atormentam-me. E são mentira. Não são?! Diz-me que sim...
Ontem o vento contou-me que apagaram o brilho dos teus olhos. E, feito menina, chorei de dor, enquanto gritava que não podiam roubar-te a luz do olhar, da mesma forma que não podiam roubar o brilho das estrelas. Mas, depois, olhei para o céu. Apagaram as estrelas, meu amor. Há apenas o nevoeiro e a luz amarelada de uma cidade adormecida.
E o vento ri-se, enquanto espalha o rumor. "Apagaram o brilho dos teus olhos". Ele não sabe o que diz! Não sabe que o brilho dos teus olhos é esperança. Não sabe que, quando os teus olhos já não brilharem, o mundo chega ao fim...
Há rumores nas ruas desta cidade deserta. E risos cruéis. E gritos de alegria. Há fantasmas do passado. Portas fechadas e sonos profundos. E ninguém entende. Como é possível que ninguém entenda quando eu vi num primeiro olhar? Não podem apagar-te o brilho que trazes nos olhos. Não podem fazê-lo sem destruírem o que restou de bom nesta vida sem vida que trago sem ti. Não podem fazê-lo sem desequilibrar o universo...
Tentei explicar ao vento quem tu és. O vento não ouve. Não quer saber. Sopra somente, em gritos mudos. Espalha o rumor pelas praias, pelos vales, pelas serras e pelo que fica além do infinito. "Apagaram o brilho dos teus olhos".
Mas eu não acredito. Não posso crer! Ninguém poderia jamais roubar o brilho dos teus olhos. Ninguém poderia roubar-te a essência de seres feliz. Há rumores... rumores de que apagaram as estrelas, rumores de que inverteram as marés, rumores de que morreu um imortal. E que assim seja! Posso viver na escuridão das estrelas apagadas, no frio de marés invertidas e num mundo de efemeridades. Mas não! Não podem ter apagado a luz do teu olhar. O teu olhar que me é estrela, mar, maré e imortal. O teu olhar não pode ter perdido o brilho!
Há rumores pela cidade. Sopram na voz do vento e entranham-se na pele das pessoas que passam na rua. Dizem que apagaram o brilho dos teus olhos. Não sei se os ouves. Espero que não! Porque eu, que os ouço, encontrei o brilho das lágrimas para os meus olhos e é com ele que brindo os rumores de que os teus perderam o brilho.
Não ouças o rumor. Não ligues ao vento mesquinho e sem idade que se habituou a percorrer as ruas, sem se importar com ninguém. Olha para mim. Eu não acredito. Não acredito nestes rumores nem em quaisquer outros. Tu és tu: com a tua essência perfeita, a tua alma completa e o teu brilho nos olhos. E, se algum dia for diferente, correrão rumores de que o meu coração partido parou... correrão rumores de que o vento roubou, em palavras, a derradeira sombra de vida em mim... e esses, acredita, serão verdade!


Marina Ferraz

*Imagem retirada da Internet (Starry Night - Van Gogh)

3 comentários: