Se eu morresse amanhã. O que seria eu se morresse amanhã? Um
emaranhado de memórias soltas na memória de poucos. Uma presença ondeando pelos
corredores, na forma de fantasma triste. Se eu morresse amanhã? O que seria eu,
se morresse amanhã?
As pessoas conheceram-me triste e chorosa. Com os olhos
cheios de lágrimas e o coração preenchido por amores e ódios. Não vivi uma vida
de parcos sentidos. Creio que me lembrariam assim, como se eu própria tivesse sido
a reencarnação dos sentimentos. Dirão que fui amor e ódio. Dirão que fui mágoa,
saudade, cepticismo, pessimismo, muitas outras palavras cheias de
"ades" e "ismos". O que seria eu, se morresse amanhã?
Levei a vida a chorar. Ainda assim, sonhando, gosto de
imaginar que, em morrendo, não sou lágrimas. Que não sou o choro inusitado de
quem por mim passou e foi tocado por esta ou aquela razão. Gostava que me
sorrissem, quando o corpo liberto de alma já não puder sorrir. Gostava que me
sorrissem as lágrimas choradas e que cantassem as mais belas canções de embalar,
nesse meu sono eterno. E, talvez, embalada por essas canções, nesse sono, eu
sorrisse também. Afinal. O que seria? O que seria eu, se morresse amanhã?
Não fiz sempre o bem nos passos sem pegadas que dei pela
vida. Em alguns momentos fui crua e cruel, em alguns momentos fui louca e
loucura. Discuti com o vento sobre tudo e nada. Atirei ao ar punhais de
palavras que feriram sempre, certeiros, muitas pessoas que não o mereciam. Feri
sempre mais quem me amava. Feri sempre mais aqueles que, de uma forma distorcida,
eu própria queria mais. E afastei, com gestos e palavras muitos daqueles com
quem queria partilhar a efémera eternidade humana. Mas o que é que isso faz de
mim? O que seria eu se morresse amanhã?
Na mente de muitos não passei, talvez, da tonta que tentou
demais. E talvez o tenha sido, sim. Foram muitas as tentativas vãs pela
perfeição. O corpo perfeito, a alma perfeita, o coração perfeito, as palavras
perfeitas, os resultados perfeitos. De que valeria tudo isto se eu morresse
amanhã? De que valeriam as perfeições se, depois de tudo, eu for apenas a tonta
que tentou o inalcançável, caminhando pela loucura imperfeita do
descontentamento?
Se eu morresse amanhã. O que seria eu se morresse amanhã? O
que seria eu para aqueles a quem, de uma ou outra forma, marquei a vida? O que
lembrariam de mim? Passaria de um emaranhado de memórias soltas, difusas,
descontentes? Não quero ser uma presença ondeando pelos corredores, qual
fantasma triste. Não quero ser esse espectro imperfeito de luta constante pelo
inalcançável. Não quero ser a louca que chorava. Não quero sê-lo... mas talvez
o fosse. Tanta luta, tanto sofrimento. E para quê?
Amanhã ou num dos muitos amanhãs da vida virá a hora desse
adeus sem retorno. E, hoje... hoje importa-me viver. Rir. Sorrir. Brincar.
Amar. Ser imperfeitamente eu. Só assim não importa saber o que seria se
morresse amanhã. Assim, mesmo sem o saber, sei o que sou hoje... e, hoje, sou
feliz.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
Simplesmente o melhor hehe,está na minha lista de preferidos. O texto todo é incrível,me representa e... é tudo.
ResponderEliminarParabéns querida.
Beijinhos Jenny ♥♥
Muito bom texro,as palavras,a reflexão. Muito bom mesmo
ResponderEliminarPalmas pelo blogger.
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