terça-feira, 25 de junho de 2013

Verão de mim


Eu nasci no nascer do Verão, entre os dias mais longos e as fogueiras mais desejadas. No dia em que eu nasci, o meu país celebrou com fogos de artifício e paradas de dança. Os céus tiveram estrelas verdes e vermelhas em explosões de cor e sentido. A praia encheu-se de gente que se atirou ao mar ou dançou noite fora.
No dia em que eu nasci, o Verão recebeu-me com a carícia do sol e as amoras silvestres começaram a nascer também por entre os recantos mais sombrios das florestas. E, embora o dia fosse de celebração, entre foguetes e fogos, entre danças e cortejos, ninguém soube que eu tinha nascido além daquele grupinho pequenino que se esquecera, por momentos, do Verão e dos cortejos e das fogueiras na praia. Para essas pessoas eu era a celebração do dia.
Carinhos e afagos. Comentários sobre quão bonita eu era, ali deitada num bercinho da maternidade. Parabéns para cá e para lá, em paradas de desassossego que tão pouco tinham a ver com os festejos daquele dia.
O mundo estava distraído com as festas. As pessoas mais próximas estavam distraídas com os meus olhos castanhos. Estavam todos tão entretidos que ninguém notou que, quando eu nasci, o Verão nasceu em mim e eu me acorrentei às maravilhas da Terra e da Água e dos elementos.
Celebrou-se nesse dia. Celebrou-se a vida. A minha vida. A vida da Natureza em redor. Celebrou-se tanto que o dia deu lugar à noite e a noite deu lugar a um novo dia. E, celebrando, ninguém soube que eu celebrava também. Celebrava uma vida de luas cheias e de Solstícios. Celebrava o dia em que poderia dar ao mundo metade do que o mundo me dá.
E então cresci. Houve muitos Verões. Muitas festas com fogueiras e fogos de artifício a banhar o meu aniversário. E a saudosa memória de que eu nasci com o Verão transformou-se aos poucos na consciência tácita de que eu não seria eu sem as fogueiras. De que eu não seria eu sem o sol. De que eu não seria eu se não houvesse Verão.
Foi há muitos Solstícios atrás que o mundo me recebeu, entre festas e procissões e cortejos. E eu era a amora silvestre dos confins da floresta. O mundo celebrou sem saber quem eu era. Sem saber que eu tinha nascido. Mas a Natureza acolheu-me nos braços e, num sorriso quente, destinou que, mesmo nos dias mais frios e intempestivos, eu seria para sempre parte do Verão.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

6 comentários:

  1. Jennyfer Aguillar12:04

    Ah que lindo,é você Ma,todo esse texto,toda essa essência.E o verão sempre estará presente em você.
    Tomo esse texto como um pouco meu pois a parte que diz "mesmo nos dias mais frios e intempestivos, eu seria para sempre parte do Verão"
    Você é meu Verão querida,mesmo nos piores dias,você me faz bem.Obrigada :)
    Parabéns!!!!
    Beijinhos Jenny ♥

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  2. Tânia15:46

    Um texto bonito e inspirador, e é bom ver, para variar, uma nota de esperança na tua escrita. :) A imagem também é linda!

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  3. Lindo texto, adorei,e o blog é perfeito já estou a seguir.
    Beijo

    mundodeariel.blogspot.com/
    www.facebook.com/meucantoomeumundoo

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  4. sempre alerta! thanks darling.gostei mesmo do texto be always creative.

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  5. és uma boa autora.acho que Deus deu-te este poder com as duas mãos,continua assim querida.

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  6. Anónimo16:45

    Gosto do vosso texto,inspirador e de grande qualidade.
    Já sou fã Marina,meus parabéns
    Clarissa M.

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