segunda-feira, 28 de abril de 2014

Contra o vento



Aprendi a não lutar contra o vento. Se ele muda eu sigo. Vou com ele. Deixo-o abanar os alicerces da minha vida. Não preciso de o contrariar. De me agarrar à solidez dos passeios ou às muralhas de pedra firme. Se o vento muda, eu sigo. Vou com ele. Não vale a pena contrariar as suas vontades.

O vento soprou, durante milénios. Venceu exércitos e estradas e desfiladeiros, pela erosão das vontades incautas dos seus opressores. E nunca, em milhões de anos, deixou de seguir pelos caminhos que julga mais certos.

Se segue para o Norte ou para Sul, se para Este ou Oeste, fá-lo por sua vontade e contra quem quer que seja. Não tem medo e não tem pressa. Por entre os compromissos adiáveis, tem apenas a eternidade para ir onde quiser, no sentido que achar melhor.

Nesses caminhos, percorridos na constância inconstante do ser, deixa-se usar mas não deter. E faz girar as pás de mil moinhos e bater contra as paredes a roupa húmida, pendurada nas cordas de milhares de casas. Deixa-se usar na consciência de que homem algum poderia erguer um muro que lhe vedasse a passagem. Na consciência de que nada poderia alguma vez deter o seu intento ou travar o seu rumo.

E, se nem os penhascos e os desfiladeiros lhe travam o rumo, com a sua íngreme robustez de pedra, como poderia eu, ainda que tentasse, vencer-lhe o desejo, contrariar-lhe a rota, ir por outro caminho?

O vento muda e eu vou com ele. Sigo-o aonde ele vai. Sem olhar para os pontos cardeais dos meus desejos e sem segurar no peito a tenacidade intolerante que me faria seguir por outro caminho ou simplesmente ficar na estabilidade do local onde me sinto ganhar raízes.

Não tenho raízes mas apenas asas. Asas que abro e deixo que me levem onde quer que o vento vá, na crença inabalável de que ele sabe onde vai.

Aprendi a não lutar contra o vento. Se ele muda eu sigo. Vou com ele. E eu sei que, mudando, ele sopra em direcções que me podem levar de ti. É por isso que te estendo a mão. Não posso lutar contra o vento. Se ele muda, eu sigo. Mas podes segui-lo também. Podes vir comigo. Assim, mesmo que o vento mude, nunca haverá local onde não possamos estar juntos.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

3 comentários:

  1. Jessica A.12:27

    Amei seu texto, é realmente belo. :) ♥

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  2. Tudo o que o meu coração sente, vc transfoma em palavras. ♥ seus textos.

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  3. Tudo o que o meu coração sente, vc transfoma em palavras. ♥ seus textos.

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