terça-feira, 8 de maio de 2012

Desvenda-me



Desvenda-me. Cor a cor. Peça a peça. Palavra a palavra. Gesto a gesto. Aprenderás com o tempo que sou a incógnita mais simples de todas as equações. Mas não posso mostrar-to. É algo que tens de descobrir sozinho...
Às vezes é só olhar melhor, ainda que para as mesmas coisas. Trago a transparência nos olhos e tenho a alma aberta, ainda que quebrada. Por isso olha para mim. Vê-me. Descobre os meus segredos com a suavidade de um toque ou de um suspiro.
Sou um enigma que só tu podes desvendar. Por isso decifra-me. Medo a medo. Ilusão a ilusão. É assim que poderás chegar ao fundo da minha alma. Passo a passo. Sem desistires de mim, sem desistires do que pode haver nos confins do que o mundo não vê em mim.
Não esperes que seja um livro aberto. Há muito nas entrelinhas do conto mal fadado com que pintei a história da minha vida. Mas podes interpretar-me. Mover-te qual personagem da história, conhecer o que ficou além do que eu própria sei. Hei-de te deixar chegar lá: ao lugar inóspito do meu coração onde nunca ninguém chegou. Hei-de te mostrar a incerteza e a dor.
Carinho a carinho. É assim que vais derrotar a minha insegurança. Matando os silêncios, trucidando as distâncias e abraçando o meu corpo de mulher perdida.
Toque a toque. Beijo a beijo. O sentir insensato dos teus lábios nos meus. É assim que vais quebrar a minha muralha. É assim que vais roubar a máscara de mulher forte e conhecer a menina carente. E talvez seja aí que, incerteza a incerteza, vais criar o adeus. Mas entende: é peça a peça, cor a cor, palavra a palavra que terás acesso ao melhor e ao pior de mim. E eu sou o que fica nessa realidade crua: o melhor e o pior. Não julgues tão facilmente!
Desvenda-me. Tenho a certeza de que consegues entrar no meu mundo de sonhos, onde geralmente só eu posso vaguear. Nesse mundo vais conhecer personagens e desejos. Personagens com vida própria e desejos que guardei pela certeza inabalável de que é impossível viver de sonhos. Vais conhecer nele a fada, a bailarina, a criança. Vais conhecer nele os rios de possibilidade e o horizonte que fica ao alcance de um toque. E, nesse mundo maravilhoso, também vais palmilhar os vales da minha loucura. Porque me perdi loucamente no desejo de viver na ilusão de uma vida melhor.
Podes decifrar-me. Sentido a sentido. Respiração a respiração. Sopro a sopro. Podes decifrar esse enigma que espantou universos e surpreendeu átomos. Esse ser que fez apaixonar umas pessoas e afastou outras.
Seja qual for o desfecho: desvenda-me. Cor a cor. Peça a peça. Palavra a palavra. Gesto a gesto. Decifra o que há de mais complexo em mim por entre a minha própria simplicidade. Não importa se depois fores embora, passo a passo. Só não quero que vás sem saberes quem eu sou.

Marina Ferraz

*Imagem retirada da Internet

5 comentários:

  1. Anónimo19:18

    BOM .....

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  2. Sophia Gil22:16

    ..."Por isso olha para mim. Vê-me." - verdade verdadeira! Mtas vezes olham para nós, mas não com olhos de ver... fingem ou simplesmente passa de um mero relance!!

    Gostei mt!!! ;)

    Sophia Gil

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  3. Anónimo20:57

    Muito perfeiito *-*

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  4. Fantástico!

    Adorei o texto e identifico me com ele! São poucas as pessoas k se dão ao "trabalho" de nos conhecerem e é tão fácil!

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  5. Anónimo15:54

    terei de desconstruír-te,peça a peça, dúvida a dúvida, incerteza a incerteza...serei capaz...é como um puzzle...adorei, afinal tenho o manual...muito boa a tua escrita, bjs

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