Mergulho em mim mesma. E sufoco nos meandros do ser. Entre a
pele e a muralha que a enrijece, como se temesse o agravo do que vem. Não sei
se ela se ergue para te impedir de entrar ou para me impedir de sair.
Presa nos meandros de mim, percebo que só posso amar-me
odiando o mundo. E que, se amar o mundo, o ódio se fará recuar até ao que fica
dentro, no local onde sufoco.
Mergulho em mim. Há corais de todas as cores no fundo do
oceano da minha alma. Mas muitos são negros como a noite. Ecoam a desgraça e o
descontentamento. Libertam bolhas de mágoa e desespero. Cumprem as profecias do
que nunca se fez ouvir entre os cantos inusitados das videntes.
Ouve-se a voz. Monstro. E mergulho. Tenho um fascínio fora
de época por esse monstro que, preso nas profundezas de mim, vai fazendo a sua
voz presente através da inusual compreensão do que me enrijece a muralha.
Não sei. Não sei se o muro é prisão. Talvez seja. Mas tão
segura é esta prisão que não quero, não ambiciono, a liberdade.
Atrai-me a clausura independente que me afasta de tantos
quantos ostentam mentiras nos rostos. Sorrisos. Ser triste é uma bênção. Ser só
é uma bênção. A dor vem da expetativa da felicidade, do amor, de todas essas
palavras que se despem e prostituem feito promessas.
Mergulho em mim. E sufoco no vislumbre do que trago dentro.
Metade é cansaço e o resto é rarefeito. Reparto os sentidos em migalhas e sinto
pouco mais do que apatia.
Há a muralha. Olhando para ela, há quem diga que não tenho
nada. E agarro as palavras nas mãos como diamantes. Tenho isto. Sempre tive
isto. E só.
Mergulho dentro de mim. É um sufoco que me agrada. Esse ódio
que me mura a pele. Esse amor que não faz sentido.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
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