Joga-se assim. Quando há paixão. Amor. Um diz: “amo-te”. O
outro responde: “amo-te mais”. E começa. Uma rotina feita de apego. Um jogo de
consolo. Onde cada um insiste. Nisso mesmo. Que ama mais.
Avançando juntos, nessa espécie de dança, leva-se a discussão
nos lábios que se beijam. E, porque se beijam, depressa se esquecem que
discutem. Seja sobre quem ama mais ou sobre qualquer outra coisa.
Há nas pontas dos dedos memória sensorial da pele do outro.
Enrolados sob os lençóis palatinos do casebre da vida, partilham-se desejos e
sonhos com igual pudor. Nenhum. A nudez é um estado de espírito selvagem, onde
se elevam os pedaços invertebrados das almas e se sente o nascer alado das
possibilidades do amanhã.
Este é um jogo de promessas. Promete-se o “para sempre”.
Promete-se que os cabelos brancos ainda terão as mãos enrugadas do outro para
um carinho poente. Promete-se que se ama. Promete-se que se ama mais. E
discute-se novamente a ideia.
No tabuleiro da vida, quando há paixão, amor, somos as peças
enfiadas na mesma casa, sonhando a glória vindoura de se vencer, em conjunto, a
vida. Mas a vida está programada como os computadores, para ser imbatível e
sempre dona de verdades e mentiras que ninguém quer conhecer. E a vida ganha,
frequentemente, lançando-nos para casas distintas, onde se moem possibilidades
toscas.
É um constante lançar de dados. Jogos e jogos inusitados
sempre sobre a mesma ideia. Essa. A de que se ama mais. Tento dar mil onde
deste cem. E logo me caem um milhão de ações nos braços, como rosas, mas sem
espinhos.
As flores murcham e os amores têm folha caduca. Um dia,
alguém que insiste que ama mais, diz que não sente. Um dia, alguém já não diz
que ama mais. Arruma o tabuleiro na mala e vai, não para outra casa mas para
outro universo. Regressa de vez em quando, tão vazio de si, que é como se nem
entrasse pela porta. E acabou. Apenas para um. Acabou.
Lá longe, novos amores nascem. Discute-se, por lá, quem ama
mais. E insiste-se que nunca houve sentimento igual ou mais puro, nesse jogo
que se inicia e se leva a cabo.
O coração quebrado que ficou é uma bola de futebol,
pontapeada até ao limite e deixada no canto depois de 90 minutos que poderão
ser 90 anos, sem que ninguém se importe. No cantinho desse campo minado, a
pessoa que ficou ganhou a discussão. Ama mais. Ama provavelmente para sempre.
Ganhou o jogo.
O amor é uma merda. Porque é um jogo que só se ganha quando
se perde tudo.
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