Nunca mais te vou dizer que te amo. Às vezes, não o direi
por me lembrar, no último segundo, que não posso dizê-lo. Mas não vou dizer.
Não o direi por respeito. Não o direi porque não faz sentido. Nunca mais te vou
dizer que te amo. Mas não será porque não te amo.
Um dia, talvez o diga a outra pessoa. Num momento pleno de
intimidade, sentindo paixão vibrante no corpo que se cansa da solidão. Sim! Um
dia talvez diga a outra pessoa que a amo. Mas nunca mais vou amar. E não vou
dizê-lo de propósito. Apenas porque me escapa a memória para o desejo de
dizer-to. Apenas porque os lábios, desertos de ti, ainda decoram essas palavras
e as murmuram, sem som, no quedar das noites. Alguém lhes dará som. Às
palavras. Mas nunca mais vou dizê-las a quem, de direito, as cultiva.
Claro que as palavras ditas têm peso. E temo ouvir, de
volta, um “também te amo”. Não farei por cativar amores no meu deserto.
Tentarei explicar que sou a chama que aquece as mãos nas noites de Inverno, mas
não o sol que ilumina os dias. E talvez, só eu sei como o espero, as mãos
aquecidas saibam que eu não passo disso mesmo. Do calor notívago de uma paixão
que esmorece, com prazo de validade estipulado e dezenas de senãos colados à
sola do pé. Mas, se alguém o disser - “também te amo” – talvez eu sinta vontade
de corrigir o teor frio das palavras que disse. Porque nunca mais vou querer
ser dona das culpas completas de todos os erros do mundo.
Vendo-te passar, as minhas mãos agarradas a essas mãos
desiludidas, talvez se libertem. Porque a extensão do meu corpo me dói. Peça
mal encaixada num puzzle qualquer. Que não me preenche e não me define. Que me
deixa mais vazia de mim do que alguma vez estive, mesmo nas noites sós. E
talvez te cumprimente com dois beijos no rosto e um cumprimento alegre à mão que
estende a tua. E talvez finja que não há, no meu peito, um lugar cativo que é
teu. Mais uma vez, talvez sinta o desejo de dizer as palavras que nunca mais
vou dizer. Mas não temas. Não as direi. Nunca mais as direi. Quero que vivas em
paz. Vou sorrir apenas.
Sorrindo. Avançarei pelos dias sorrindo. Descobri o segredo
da felicidade. Essa escolha inusitada que as pessoas teimam em não fazer. E
escolho ser feliz todas as manhãs. Afastando a tristeza com um gesto: “hoje
não, amanhã!”. Mas parece-me que todos os dias são amanhãs. Achas que estou à
tua espera. Mas nunca mais vou estar à tua espera. Tal como nunca mais te direi
que te amo. Estou só à espera da morte. Avanço para ela, um dia de cada vez. Um
segundo de cada vez. Um pensamento de cada vez. Cada vez que me lembro que
nunca mais te vou dizer que te amo.
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