Guarda o meu coração a sete chaves. Ele está quebrado e já
não serve para nada mas ainda é um coração. Guarda-o bem, onde não possam
usá-lo e torturá-lo mais. Nunca te pedi nada em troca do meu amor. Mas peço-te
hoje isto: fecha o meu coração a sete chaves no canto mais poeirento do lugar
mais inóspito de ti.
O meu coração já não vale os batimentos. Já não vale as
tentativas de reparo. O meu coração está irremediavelmente estragado. Mas,
mesmo quebrado e sem valor, o meu coração ainda é um coração e, independentemente
do número de cacos em que se divida, o meu coração ainda é teu.
Guarda-o a sete chaves. Não o carregues por aí, nas mãos, à
vista de todos. Mesmo sem verem, eles sabem. Eles sabem que eu desisti e sabem
que cada sorriso que me aflora o rosto é uma lágrima caída nas profundezas da
minha alma. Já não há nada que eu possa fazer para provar a mentira de que
estou bem. Mas tu podes guardar os pedaços do meu coração a sete chaves e
vender, por aí, a notícia de que já não os tens.
Fechado nos confins do segredo, o meu coração estará
quebrado mas seguro. E dirão por aí, já não que estou a sofrer mas que não
tenho coração. E está tudo bem. Talvez não tenha. Talvez seja melhor fingir que
os cacos do coração que eu tive viraram poeira e se arrastaram pelos ventos até
outro lugar que não o teu.
Guarda o meu coração a sete chaves. Mesmo que, olhando para
ele, não vejas o reflexo do que um dia ele foi. Mesmo que, segurando-o, não lhe
notes a alegria de viver em ti. Guarda-o a sete chaves e não tentes curá-lo com
regressos temporários e palavras doces. Guarda-o simplesmente. Fechado onde
ninguém veja as suas feridas. Enterrado onde não te pese nem te fira. Onde te
esqueças dele e não sintas dó de mim.
Depois de tudo ficam só estes pedidos, gritados na mudez de
um pensamento: Guarda o meu coração a sete chaves e sê feliz como ele não pode
ser.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet