Perguntaram-me. O grande amor da
tua vida é ele, não é? E a minha vontade foi dizer que não. Que o grande amor
da minha vida sou eu. Mas mordi a língua. Porque sei, no meu âmago, o quanto já
me odiei. Porque sei que faço escolhas – ainda! – que não são grandes provas de
amor para comigo mesma. Porque sei que as faço, muitas vezes, por amor... então
respondi apenas “não”.
Todas as manhãs me levanto. Por
ela. Todos os dias enfrento dificuldades que poderia evitar. Por ela. Todas as
noites me deito e agradeço. Por ela. É o nome dela que trago sempre nas pontas
dos dedos e na ponta da língua. É ela que tenho, qual órgão vital, determinando-me
os passos. Sei eu, sabe ela, sabem eventuais deuses... já perdi tanto por ela,
para me dar apenas a ela...
Se ela me diz: muda-te... eu
mudo-me. Se ela me diz: abandona... eu abandono. Se ela me diz: perde... eu
perco. Tenho-a na minha vida como uma ditatorial forma de estar. Foi com ela
que ergui todos os muros. Foi com ela que derrubei todos os muros. Andei com ela
por estradas e trilhos cheios de silvas... e só eu sangrei, porque a levei
dentro, para a proteger.
Vivo por ela, morreria por ela.
Recuso-me a usar a palavra amor como fazem os pobres de espírito. Mas amo-a. E
sinto que ela me ama. E sinto que ela é a forma mais pura de amar o mundo e as
pessoas do mundo, nascidas, vivas, mortas ou ainda por nascer. O seu nome
soa-me ao mesmo que o amor. E define o amor. E é amor.
Então, a vontade da mentira
passa. Não me apetece dizer que eu sou o grande amor da minha vida. Porque eu
só me amo na medida em que a amo. E porque a tenho em mim. E porque vivo com
ela até na solidão dos dias.
Perguntaram-me. O grande amor
da tua vida é ele, não é? Respondi apenas “não”.
Porque ela me disse: não
precisas de dizer mais. Mas foi também ela que me permitiu escrever este texto.
Que me sussurrou. Diz o que quiseres, sem reservas e sem medos. Fala-lhes de mim,
outra vez... e nem te importes que venham dizer que te estás a repetir, porque
tens esse direito.
Aqui estou. Eu e este amor. O
grande amor da minha vida é a Liberdade. Porque é só amando a Liberdade que
consigo amar-me. Porque é só amando a Liberdade que consigo amar os outros. Não
falo de amor facilmente, mas é fácil dizer que a amo e que, sem ela, não quereria
sequer estar viva.
Por isso não. O grande amor da
minha vida não é ele. O grande amor da minha vida é ela. E estou grata. Porque há
quem escolha amá-la comigo. Porque há quem escolha amá-la em mim... Porque ela
me ensinou a amar... no âmago do amor, além do amor, apesar do amor...
Marina Ferraz
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