Este é um texto que prefiro que não leias. Tenho muitos, é
claro, que gostaria que evitasses, que ignorasses, que não visses. Mas este,
este digo-te desde já: prefiro que não o leias.
Tenho medo que, se o leres, não possas olhar da mesma
maneira para ti e para mim e para o mundo. Estou a tentar proteger-te. Não o
leias...
Neste texto quero contar as tuas maravilhas. A maravilha dos
teus sorrisos ou dos olhares sérios que se perdem e voam além dos horizontes do
visível, para irem acordar os fantasmas das ilusões sadias. A maravilha das
tuas mãos leves e calejadas, feitas para amar, feitas para ferir, feitas para
serem a dualidade da existência. Quero falar sobre o teu rosto. O teu rosto sem
simetrias perfeitas, sem belezas inigualáveis mas que marca e fixa e prende. O
teu rosto que tem uma subtileza fria de ausências e abstracções.
É muito difícil descrever-te. Não sou espelho. Não sou
lente. Não sou objectiva Vejo-te através de um olhar cego de perfeições. De
perfeições que começam no teu rosto, no teu sorriso, nas tuas mãos...
Sinto-me pássaro preso. Sinto-me ser sem vontade. Sinto-me
só de te ver como não te vês. De te ver como ninguém te vê.
És assim: a lua, quando está cheia. O mar, quando está
bravo. O vento, quando está forte. És assim: o dia, quando amanhece. O sol,
quando vai alto. A saudade, quando te vais.
Este é um texto que não queria que lesses. Preferia que
pensasses em ti nos moldes da insensatez, como se tudo estivesse errado e
fosses apenas mais um dos erros do mundo. Mas tu estás certo. Por mais que eu
quisesse que te visses nessa redução que te tornava igual a mim. Tu estás
certo. Certo como a brisa nos dias mais quentes de Verão. Certo como o sol nos
dias mais frios de Inverno.
Agora que o sabes, eu aprendi. Tu vais. Vais onde eu não
posso ir, com alguém que não sou eu. Vais rumar à felicidade porque a mereces
mais do que ninguém. E, acredita, eu desejo-te o melhor do mundo. Mas,
egoistamente, quem me dera que não soubesses quão bonito és. Quem me dera que
não tivesses lido este texto.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet