O mundo cai na sua estúpida e utópica perfeição, enquanto
nós, meros fantoches, somos guiados para um palco e humilhados sob o olhar
curioso de gente que apenas sabe como nos magoar. Não há quem mande flores,
quem bata palmas, apenas quem nos humilhe, quem nos atraiçoe e quem, mesmo sem
saber, nos vira as costas quando precisamos de um abraço.
Por vezes ficamos á espera que nos tragam flores em vez de
plantarmos um jardim, ficamos à espera de um sorriso em vez de dizer algo que
faça os outros sorrir e depois sofremos porque ninguém faz nada por nós.
Nada nos é fiel neste mundo! Nem mesmo as folhas brancas nas
quais escrevo a minha poesia. Na verdade, essas vão-me matando aos poucos,
vão-me roubando a alma, vão deixando a minha dor impressa como se o que sinto
se pudesse ler.
Eu sei que não podem... as palavras não podem explicar a
dor, as pessoas não podem entender os corações alheios e, acima de tudo as não
podem entender os corações lendo essas palavras que nada explicam.
Eu não me sinto como um mero fantoche do mundo, sou também
escrava das palavras e da poesia, sou escrava deste estúpido defeito que me
leva a escrever o que sinto em vez de me deixar ser triste sozinha, longe de
tudo o que é mau.
A poesia não me ajuda, ao contrário do que todos pensam,
deita-me abaixo, lembra-me o que perdi, do que desisti e prova-me que, bem no
fundo, preferia que a vida fosse mais matemática do que literária.
Na matemática tudo é fácil porque tudo é certo. Tudo tem uma
solução e, quase sempre, apenas uma, sem necessidade de escolher através deste
nosso céptico coração que escolheu, há muito tempo, apenas acreditar que não se
pode acreditar em nada.
Mas, para mim, a vida é poesia e a poesia, tal como o fado,
traz mensagens tristes, taciturnas, melancólicas, que os corações mais maduros
e mais saudáveis não podem descortinar.
Basta-me pois esconder nos números aquilo que não posso
explicar com palavras, esperando e desejando, que a vida seja como uma soma em
que os medos e a tristeza não podem entrar e sorrir á vida mesmo quando esta
não me sorrir.
Pois, tal como sempre ouvi dizer: "Os mais fortes são
aqueles que plantam o seu jardim, ao invés de esperar que alguém lhes traga
flores" e a poesia, sendo o meu mundo e o meu castigo, será para sempre,
sem sombra de duvida, o jardim que tenho de plantar...
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet