Foi então que tu olhaste para mim. Olhaste para mim e fechaste a porta. Era hora de partir. Tu sabias isso. Eu também. Assumiste-o apenas quando eu ainda o negava.
Havia no meu peito mais medo do que amor. Era tanto o medo que só me apercebi do que sentia quando fechaste a porta e dei por mim sozinha entre a nudez e a escuridão. Porque eu sabia que não a voltarias a abrir. Nunca mais.
De um modo simplista pensei trajar negro novamente. Mas não havia sequer um sentido em fazê-lo. O meu mundo já não tinha cor sem ti. Não havia sol. Não havia luz. Havia apenas um conjunto de pessoas a preto e branco, movendo-se num mundo morto. Não havia ar. Não havia sequer um vislumbre de felicidade. Era esta a minha certeza, depois da porta ter batido.
Assim, em vez de nascer na minha roupa, o meu luto nasceu em olhares vazios e na solidão crescente do meu coração meio-morto. Nenhum toque podia ser mais do que um ataque à minha pele e nenhuma palavra podia ser suave aos meus ouvidos. O mundo embruteceu, como se toda a humanidade tivesse desvanecido. Não havia lugar para mim. Talvez porque nunca tinha havido lugar para nós.
Foi só hoje que, a medo, me levantei da cama. Ainda está escuro. Ainda está frio. Ainda é Inverno. Os meus passos nus no chão ecoam medo pelo quarto. Só quero abrir a porta outra vez. Quero não estar à espera de te ver do outro lado, como se estivesses à minha procura, como se tivesses estado sempre aí.
Quero dar conta da lonjura da minha própria solidão. Saber que a minha pele não pode esperar para sempre pelo teu toque e que os meus ouvidos não podem obedecer apenas ao teu chamamento.
Tu olhaste para mim. Sabias que era hora de partir. Não mo disseste. Fechaste a porta atrás de ti e foste embora como se eu não importasse. Porque eu não importava. Eu nunca importei.
Fechaste a porta e eu prometi-te o meu luto. O meu luto foi a minha vida. E, durante um ano, a minha vida não foi vida. Então, hoje, pintei novamente as ruas do meu mundo, ouvi outras vozes, senti outros toques. Ainda assim, quero que saibas que tu serás sempre tu. Mais uma moldura sem foto na parede vazia do meu passado. Mais uma peça do meu tempo perdido em lágrimas secas. Mais uma pessoa que não soube ver que eu posso ser mais do que um olhar e uma porta fechada.
Havia no meu peito mais medo do que amor. Era tanto o medo que só me apercebi do que sentia quando fechaste a porta e dei por mim sozinha entre a nudez e a escuridão. Porque eu sabia que não a voltarias a abrir. Nunca mais.
De um modo simplista pensei trajar negro novamente. Mas não havia sequer um sentido em fazê-lo. O meu mundo já não tinha cor sem ti. Não havia sol. Não havia luz. Havia apenas um conjunto de pessoas a preto e branco, movendo-se num mundo morto. Não havia ar. Não havia sequer um vislumbre de felicidade. Era esta a minha certeza, depois da porta ter batido.
Assim, em vez de nascer na minha roupa, o meu luto nasceu em olhares vazios e na solidão crescente do meu coração meio-morto. Nenhum toque podia ser mais do que um ataque à minha pele e nenhuma palavra podia ser suave aos meus ouvidos. O mundo embruteceu, como se toda a humanidade tivesse desvanecido. Não havia lugar para mim. Talvez porque nunca tinha havido lugar para nós.
Foi só hoje que, a medo, me levantei da cama. Ainda está escuro. Ainda está frio. Ainda é Inverno. Os meus passos nus no chão ecoam medo pelo quarto. Só quero abrir a porta outra vez. Quero não estar à espera de te ver do outro lado, como se estivesses à minha procura, como se tivesses estado sempre aí.
Quero dar conta da lonjura da minha própria solidão. Saber que a minha pele não pode esperar para sempre pelo teu toque e que os meus ouvidos não podem obedecer apenas ao teu chamamento.
Tu olhaste para mim. Sabias que era hora de partir. Não mo disseste. Fechaste a porta atrás de ti e foste embora como se eu não importasse. Porque eu não importava. Eu nunca importei.
Fechaste a porta e eu prometi-te o meu luto. O meu luto foi a minha vida. E, durante um ano, a minha vida não foi vida. Então, hoje, pintei novamente as ruas do meu mundo, ouvi outras vozes, senti outros toques. Ainda assim, quero que saibas que tu serás sempre tu. Mais uma moldura sem foto na parede vazia do meu passado. Mais uma peça do meu tempo perdido em lágrimas secas. Mais uma pessoa que não soube ver que eu posso ser mais do que um olhar e uma porta fechada.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet