"Estar contigo ou não estar contigo é a medida do meu tempo." (Jorge Luís Borges)
Os minutos passaram, no compasso inadiável do relógio. Os
minutos eram feitos de segundos. Os segundos foram séculos. Tu não estavas. E o
tic-tac dos ponteiros ecoava lentamente pelos corredores, atormentando os
recantos de mim com perguntas que não podem ser formuladas.
Avancei na escuridão do tempo. Apenas eu. Os ponteiros não
se moviam com a prontidão louca da minha mente. Ter saudades era parar o tempo.
E o tempo, fiel a princípios relativos, arrastou-se na minha saudade, cantando
uma canção que não ouviste. Uma canção que pedia por ti, para me animares a
alma e os ponteiros do relógio, então quase parado.
Devagarinho, como se tivessem medo do segundo a seguir, os
ponteiros moveram-se. Levaram dias a passar uma só hora. Troçaram de mim. Mas
eu não fiz caso. Olhei para cada movimento cortante dos ponteiros negros. Fixei
cada oscilar do velho pêndulo. Ouvi cada "tic", cada "tac",
separados por um infinito de segundos, como se os sons não quisessem juntar-se
num ritmo lógico e real. Eles não queriam tocar as badaladas nem dar um pouco
de paz à minha alma que se quebrava no parar do tempo.
Os minutos passaram. Eram feitos de segundos que duraram
séculos. Tu não estavas. Eu não estava em mim. O tempo não avançava. E a alma,
de massacrada pela distância, disse à saudade que olhasse para o nosso passado e
não para um presente onde o relógio, quase parado, se recusava a trazer-me um
futuro onde estivesses.
Lentamente, passo a passo, com movimentos que podiam nem se
notar, o relógio deixou chegar, ao fim de eternidades de loucura, o momento de
te ver. E, em tocando as badaladas, os teus passos trouxeram o animo que
faltava. Sorri. A saudade morreu e eu sorri. A saudade morreu e o relógio
avançou.
Os minutos passaram, no compasso inadiável do relógio. Os
minutos eram feitos de segundos. Os segundos foram milésimas de segundo. Tu
estavas. E o tic-tac dos ponteiros ecoava pelos corredores, numa correria
louca, como se quisessem chegar primeiro, sei lá eu aonde.
Sem demoras, o tempo avançou, numa lógica irrealista que
transformava alvoradas em pores do sol e noites sem estrelas em manhãs
enevoadas. Correu. O tempo não soube andar. Correu. Tinha pressa, sei lá porquê.
Amar era avançar o tempo. Tu estavas.
Entre os dias que pareceram segundos, chegou a hora do amor
ser saudade. Chegou a hora do tempo adormecer. E chegou o momento em que um
"adeus" apressado fazia os ponteiros parar a corrida rumo ao futuro
para passarem a demorar-se, outra vez, na espera interminável do amanhã.
Foi entre as horas que passaram num bater de coração porque
tu estavas e as horas que duraram eternidades na tua ausência que eu construí
uma verdade sobre o tempo. E a verdade é esta: É o amor que move os ponteiros.
É a saudade que os pára ou os demora. E és tu que me moves nesses tempos em que
o tempo passa. Se ele passa depressa ou devagar, é uma incógnita que se desfaz
em poeira. O tempo avança num ritmo que não é nosso. E não podemos detê-lo nem
acelerá-lo. Mas temos tempo para o tempo. E, por entre essas horas que passaram
num só segundo, já criámos eternidades que ninguém nos pode roubar.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet