O oceano ecoa o teu nome. Pedi o silêncio, para poder dormir
esta noite. Mas ele ecoa o teu nome na rebentação das ondas. Chama por ti.
Acorda-me os sentidos.
Não lhe bastou o que nos fez. Não lhe bastou atirar-me para
os teus braços e colar os meus lábios aos teus, destruindo tudo o que eu levara
tanto tempo a construir. Não lhe bastou condenar-me outra vez, com esse encanto
devoto de um amor sem retorno. Ele ecoa o teu nome em cada onda que rebenta na
areia húmida da praia.
Dou por mim a culpar o mar. Quem mais teria culpa da minha
infelicidade? Quem mais poderia ter enfeitiçado a minha alma? E surge o som da
calúnia nos meus lábios pagãos, que amam a água. Como pode o meu mar ter-me
traído?
O oceano ecoa o teu nome na noite. E o seu som chega até mim
tal como música. Cada acorde com a naturalidade corrente de um sem fim de
saudosas ilusões. Durmo, sim. De lágrimas nos olhos e desespero no peito. Com o
teu nome nos ouvidos e no coração.
E, a cada onda, sinto no meu peito o desapego da realidade e
o desejo cada vez mais forte de me afogar no mar salgado das minhas lágrimas.
Ouço o mar chamar por ti. E sei que é ilusão. Ainda assim, quero viver de
ilusões ou não viver de todo.
O oceano ecoa o teu nome. E sou eu que lhe respondo,
tentando fazê-lo entender que não podes ouvi-lo, da mesma forma que não podes
ouvir os gritos desesperados da minha alma. E o mar chora comigo. Lágrimas de
sal. Lágrimas de saudade. E eu tento consolá-lo com palavras vãs.
O oceano chama por ti. Ecoa o teu nome por entre o negrume
da noite. Dormir e sonhar. Afogar-me nesse mar e morrer com o teu nome nos
lábios que sorriem. O oceano ecoa o teu nome e não o ouves. Mas eu ouço-o e
invento palavras para que ele te perdoe. E, de alguma maneira, embora chame
desesperadamente por ti, o mar perdoa-te todas as noites, exactamente como a
minha alma aprendeu a perdoar-te todos os dias, sem sequer entender porquê...
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet