
Quero que me abraces, um abraço simples, daqueles que até um amigo pode dar. Quero encostar a cabeça no teu ombro e sentir o teu cheiro, desejar beijar-te e conter os meus desejos, calá-los como se não fossem importantes ou, simplesmente, como se não os sentisse.
Abraça-me simplesmente como se não me visses há muito tempo e tivesses saudades minhas. Aperta-me contra ti e diz uma daquelas expressões só tuas que quase sempre me fazem rir. E se, ao ouvi-la, em vez do habitual sorriso, me vires chorar, deixa que o abraço continue num espaço infinito e finge que as minhas lágrimas são de felicidade.
Abraça-me nesse horizonte de coisas proibidas. Deixa-me fechar os olhos e ver somente o que vai dentro de mim. Encontrar, por entre este emaranhado de pensamentos e modos de sentir fúteis, a minha alma. Porque eu só encontro a minha alma nos teus abraços, quando o coração, mono existencial de batalhas à tanto tempo perdidas, começa a bater mais forte contra a minha vontade e te dá a derradeira certeza de que ainda não te esqueci.
Eu dei-te a minha alma, a minha vida... tudo o que quero que me dês é esse abraço que fica suspenso em promessas que os olhares proferem e que os nossos corpos jamais cumprem.
Envolve-me no teu abraço e leva-me até mim. Leva-me àquele local onde o tempo está parado em ampulhetas de saudade e o espaço se comprime até caber nas minhas mãos.
Envolve-me nesse abraço que só tu sabes dar que, enquanto me abraças julgando sentir o meu corpo, eu voo para além do mundo e encontro, algures, o que perdi em cada um dos abraços que eu quis e tu não me soubeste dar.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet