Foi simples assim. Dor, medo, desilusão. Mentiras sem começo
nem fim, caladas em silêncios, mortas em atitudes, sob capas de desprezo.
Foi simples assim. O usar e o deitar fora. Ter o coração
espezinhado, a vida rasgada, os olhos repletos de lágrimas e a alma dorida,
contrafeita e maltratada, ferida pelas mãos de quem nem faz ideia que depois da
doçura fica o amargo da solidão.
Foi simples assim. A saudade a apertar o corpo, o desengano
das horas, a mágoa de esperar um amanhã que já ficou num anteontem distante. E
a amargura dos sentidos, mortos no inóspito sentimento que ficou inteiro porque
alguém não quis metade.
De braço dado com a tristeza foi simples como desistir de
tudo, simples como aprender a viver meia vida, com meias vitórias e meios
sentidos. E caminhar descalça por pisos de sofrimento, beijando a esperança nas
esquinas apenas para a ver morta em becos de desengano.
Trazer a tortura ao colo, aceitar que não há no mundo lugar
para o vazio de nós. E caminhar, passo a passo, nos caminhos errados das
florestas de pesadelos reais, que se envolvem nas névoas dos boatos e da
mesquinhez alheia.
Foi simples assim. Como desistir de tudo. Como não esperar
nada além da morte. Como não desejar nada além do que ficou atrás das cortinas
negras do passado. Como não sentir nada além da taciturna dor de um amor que
foi e já não é.
Foi dor e medo e desilusão. Foi abandono e luta e mágoas sem
fim. Foi morte e desassossego, nos recantos de uma mente onde proliferam os
espinhos da vida. Foi a espera inusitada do que nunca veio, o cultivar do
vazio, o aceitar do fim.
Foi simples assim amar alguém. Simples como respirar o
desespero das horas. Simples como dormir sobre o chão rugoso do medo. E diriam, alguns, que foi como nunca
mais vai ser, porque não vale a pena.
Foi simples assim. Simples como a complexidade do mundo. E
sim, foi dor e medo e desilusão, todas juntas, ancoradas em feridas e sentidos
que não passaram de mágoas disfarçadas. Mas faria tudo outra vez. Porque o meu
amor é maior do que tudo o que, afinal, não foi simples.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet