Daqui e até ti. Até ao infinito de todas as coisas do
Universo não ser nada. Daqui até à distância incerta que o horizonte continua a
delinear, paisagem atrás de paisagem e história atrás de história. Daqui até ao
fim dos tempos. É esse o tamanho da ausência quando se ama alguém. É esse o
tamanho da distância que separa uma proximidade inútil que não quer ser mais do
que distância disfarçada de presença.
Daqui até tudo o que já fomos. Daqui até tudo o que podíamos
ter sido, até tudo o que podíamos ter tido, se tivéssemos tentado. Queres
tentar? Queres tentar fechar os olhos e procurar na distância o contentamento
do que fica além da fotografia rasgada e da roupa gasta pelo tempo?
Fecha os olhos, então. Fecha os olhos e cega. Não vejas a
minha dor. Não a conheças. Não te revejas nela. Fecha os olhos, simplesmente.
Assim não verás que é daqui até ti, esta saudade de infernos que me encheu a
alma.
Daqui até ao fim dos começos insensatos que ficam nos
bosques da sensatez imaginada. Não há sensatez nenhuma no amor, não há sensatez
que fique quando se ama alguém. O amor é louco e é loucura. Quem escolhe amar
escolhe isso mesmo. Sensata? Não! Não sou sensata. E também não sou desapegada.
Nem simples. Nem feliz. Sou louca. Louca pela ideia deste amor estúpido que
cultivei. Louca e complicada.
Queres ver como sou? Então fecha os olhos. Fecha os olhos ao
que disserem de mim e olha novamente para a pessoa que sabes que sou. Eu sou
cada sorriso e cada lágrima. Sou tanto e tão pouco. Fecha os olhos e vê-me:
despida e louca. Sem nada que me vista a alma dessas coisas que são tão
importantes para quem não quer amar nada nem ninguém. Verás nesse olhar cego
que sou complicada... e que sou uma idiota. Sabes que mais? Verás que sou eu.
Eu além deles e independentemente deles, completamente de rastos aos teus pés,
à espera de ser pisada outra vez.
Daqui até ao fim dos tempos. Daqui até ao fim da vida. Daqui
até ao fim do mundo. Tudo parte daqui. E tu tens os olhos fechados... não vês o
tamanho desta saudade de fel.
Fecha os olhos então. Eu vou fechar os meus também. E um
dia, um dia não vou voltar a abri-los... e continuarei a ser louca, e
continuarei a amar-te e a saudade continuará a ecoar... daqui até ti... daqui
até o infinito de todas as coisas.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet