«Só os monstros sentem a dor de ninguém querer saber da dor que sentem.» (Marina Ferraz)
sexta-feira, 15 de setembro de 2006
domingo, 10 de setembro de 2006
Diário da desolação
Hoje acordei e olhei a janela. A manhã estava calma e o sol de Verão brilhava insistentemente do outro lado da janela apesar de eu já lhe ter pedido para dar lugar às chuvas de Outono.
Cá dentro sentia o mesmo vazio de ontem e do dia anterior, a mesma angústia do último mês, a mesma dor de sempre. Mesmo assim o novo dia teimara em surgir.
Espreguicei-me e cumpri a já sagrada rotina, sem nada de novo ou emocionante.
Vesti as primeiras calças de ganga que apanhei e a T-shirt que tinha ficado no cimo da gaveta, sem sequer reparar se estava bem ou não, olhei penosamente para a mochila, desejando ardentemente que as aulas já tivessem começado, ocupando a minha cabeça com algo mais do que certezas arrebatadoras e cruéis.
Passo o dia em correrias desenfreadas, andando a maior parte do tempo de um lado para o outro, fingindo-me ocupada para me convencer a mim mesma de que o cansaço constante em que me encontro tem razão de ser e volto para casa, taciturna, desolada e perdida, em busca de um pouco de conforto.
O caderno, em cima da secretária, já não me inspira nem me chama. Limita-se a ficar ali, à espera que um dia eu volte a ser quem era e tenha finalmente vontade de escrever romances que, ao contrário da minha vida, acabam sempre bem…
Deito-me na cama e desato a chorar todas as lágrimas reprimidas durante o dia. Não posso chorar à frente de ninguém, só o posso fazer no meu solitário quarto, onde sei que ninguém me irá procurar, até porque ninguém quer saber.
Depois de chorar horas a fio, sinto-me inútil e humilhada, como se aquelas lágrimas não fossem apenas um desabafo.
Entretanto, sinto medo. Tudo à minha volta me assusta, qualquer ruído, qualquer sombra, qualquer movimento e eu fico ali, aterrada e julgando-me louca.
Acabo por adormecer e estou tão cansada que nem sei se sonho ou não. Já não ligo aos sonhos, perdi a vontade de os lembrar, perdi a vontade de acreditar neles.
Só sei que na manhã seguinte vou acordar e achar que fui forte por ultrapassar todos os medos sozinha no meu quarto e por me proibir de chorar junto aos outros.
A verdade, a terrível verdade, é que amanhã quando acordar e vir o sol brilhar do outro lado da janela, vou ter vontade de chorar outra vez e vou sofrer de novo.
Mas, enquanto durmo, quem sabe se não peço um pouco de chuva para poder chorar lá fora, sem ninguém se aperceber!
Cá dentro sentia o mesmo vazio de ontem e do dia anterior, a mesma angústia do último mês, a mesma dor de sempre. Mesmo assim o novo dia teimara em surgir.
Espreguicei-me e cumpri a já sagrada rotina, sem nada de novo ou emocionante.
Vesti as primeiras calças de ganga que apanhei e a T-shirt que tinha ficado no cimo da gaveta, sem sequer reparar se estava bem ou não, olhei penosamente para a mochila, desejando ardentemente que as aulas já tivessem começado, ocupando a minha cabeça com algo mais do que certezas arrebatadoras e cruéis.
Passo o dia em correrias desenfreadas, andando a maior parte do tempo de um lado para o outro, fingindo-me ocupada para me convencer a mim mesma de que o cansaço constante em que me encontro tem razão de ser e volto para casa, taciturna, desolada e perdida, em busca de um pouco de conforto.
O caderno, em cima da secretária, já não me inspira nem me chama. Limita-se a ficar ali, à espera que um dia eu volte a ser quem era e tenha finalmente vontade de escrever romances que, ao contrário da minha vida, acabam sempre bem…
Deito-me na cama e desato a chorar todas as lágrimas reprimidas durante o dia. Não posso chorar à frente de ninguém, só o posso fazer no meu solitário quarto, onde sei que ninguém me irá procurar, até porque ninguém quer saber.
Depois de chorar horas a fio, sinto-me inútil e humilhada, como se aquelas lágrimas não fossem apenas um desabafo.
Entretanto, sinto medo. Tudo à minha volta me assusta, qualquer ruído, qualquer sombra, qualquer movimento e eu fico ali, aterrada e julgando-me louca.
Acabo por adormecer e estou tão cansada que nem sei se sonho ou não. Já não ligo aos sonhos, perdi a vontade de os lembrar, perdi a vontade de acreditar neles.
Só sei que na manhã seguinte vou acordar e achar que fui forte por ultrapassar todos os medos sozinha no meu quarto e por me proibir de chorar junto aos outros.
A verdade, a terrível verdade, é que amanhã quando acordar e vir o sol brilhar do outro lado da janela, vou ter vontade de chorar outra vez e vou sofrer de novo.
Mas, enquanto durmo, quem sabe se não peço um pouco de chuva para poder chorar lá fora, sem ninguém se aperceber!
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
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