Fotografia de Hélio Silver
Modelo: Flo
Eu gosto de sexo. Como uma viagem
aventureira. Gosto. Gosto de sexo.
Poderão dizer-me: toda a gente
gosta de sexo. Mas eu acho que não. A maioria das pessoas gosta do prazer. E
gostar de sexo é muito diferente.
Eu gosto de sexo. Gosto da
sensação do toque na pele. Do despudor de pedidos feitos com os olhos. Das mãos
lançadas na busca pela servidão do outro. Da vontade de ser escravo, da vontade
de ser mestre, da vontade de ser.
Gosto do enrolar das línguas sem
linguagem e da linguagem obscena sem idioma. Gosto da universalidade
linguística do toque. Dos cabelos segurados nas amarras dos dedos e puxados sem
acanhamento. Gosto dos beijos no pescoço. Da manipulação do corpo em
coreografias novas e singulares. Do abrir do corpo. Da invasão do corpo. Da oferta
platinada de dois corpos que se dão e se fundem, numa dança de afastamentos e
reencontros sucessivos.
Gosto da toma do controlo. Da
cedência do controlo. Da imagem de fora, criada pela mente que se faz voyeur de
nós. De ver, de fora, toda essa dança de idas e regressos, sem sair do lugar.
Gosto de ouvir que pertenço a
alguém e de sentir que alguém me pertence. Por uns minutos… até o prazer nos
fazer esquecer que existe diferença entre nós e o outro, convencendo-nos que
somos peças de um engenho só… ou até a vida nos convencer novamente do que já
sabemos: que ninguém é de ninguém.
Gosto de sexo. Dos sabores do
sexo. Das suas sensações. Dos seus aromas. Da forma como ele cria sobre a pele
uma camada fina de suor e, debaixo dela, uma intensidade insaciável de desejo. Gosto
da expressão luxuriante do olhar quando o gozo gera descontrolo e enuncia o
fim. E da maneira quase obscena como se sente o corpo vibrar nessa perceção do
prazer do outro.
Gosto quando acaba. Do corpo mole,
da cabeça onde todos os pensamentos são derretidos numa mancha sem significados
nem sentidos porque pensar parece fútil e desnecessário. E gosto. Não sabia que
gostava. Mas descobri. Gosto que me abracem a seguir. Gosto da descoberta
insensata de que esse desconhecido era, na verdade, apenas mais uma coisa que
eu ainda não tinha feito e não algo irrealista, inventado para pintar as
comédias românticas de Hollywood.
O sexo é exatamente como uma
viagem de aventura. Daquelas que se fazem de mochila às costas e onde queremos
ver, sentir, provar tudo. Daquelas que não se fazem com toda a gente. Daquelas
que não valem a pena ao lado de quem quer só o prazer das quatro paredes de um
resort com SPA e piscina. Daquelas que queremos fazer com quem nos entende e
também quer ver, sentir, provar tudo. Daquelas que queremos fazer com quem vai
andar ao nosso ritmo e mostrar o seu, respeitar a nossa sofreguidão e mostrar a
sua, sentir as nossas limitações sem se importar com elas. Daquelas que
queremos fazer com quem também gosta de sexo.
Eu gosto. Gosto muito. De sexo. E
é justamente por isso que só o faço quando sinto, em cada um dos meus poros,
que gosto de alguém.