Para o meu irmão
São pormenores. A maneira como
pousas o braço sobre os meus ombros ou como me despenteias de propósito, em tom
de brincadeira. As conversas sobre tudo e nada. A apresentação deste livro ou
daquele programa que achas que poderei gostar.
São pormenores. Quando páras e
olhas para mim com orgulho. Quando me aborreces por horas para me explicares
que estou errada relativamente a algo e como, no fim de me fazeres chorar com
as palavras duras que eu precisava de ouvir, abres um sorriso e me convidas
para um café.
São pormenores. A forma como me
defendes quando alguém me ataca ou diz mal de mim. O interesse que tens pelas
pequenas coisas que eu faço. A tua felicidade nas minhas vitórias e o teu
incentivo para eu continuar sempre.
São pormenores. O teu sorriso, de
olhar pousado no vazio. A forma como seguras o cigarro entre os dedos e conversas
por horas sem sequer te lembrares de o acender, como se até os vícios fossem
secundários quando estás comigo.
São pormenores. O olhar atento, o
pensamento distante, o sorriso que é capa e carapaça mas, ainda assim, também é
verdade. A força, o discernimento, a luta constante contra o que julgas que
está errado no Mundo.
São pormenores. A maneira
interessada mas ausente como abres o jornal, o entusiasmo com que falas de
jogos novos e te envolves nos interesses mais profundos da política e economia,
como se soubesses um pouco de tudo. A forma como me deixas entrar nos espaços
recônditos das tuas piores memórias e, ao mesmo tempo, me dás esperança num
futuro melhor.
São pormenores. Quem olha para ti
não vê. Não sabe que tens esse espírito que anima os lugares por onde passas
ainda que por dentro não estejas bem. Não sabe que és capaz de passar da pessoa
mais carinhosa do mundo à mais dura se assim tiver de ser. Quem olha para ti
não sabe que és sensível e forte ao mesmo tempo, que passaste pelas provações
do tempo e ainda estás de pé, disposto a fazer sorrir cada pessoa que por ti
passe.
Quem olha para ti não sabe que
tens uma alma rica. Que dás a mão aos amigos e até aos estranhos, se os vires
mal. Quem olha para ti diz que te vê e não sabe que tu és um milhão de
pormenores que te tornam especial.
Podem ser pormenores mas tu falas
e eu acredito. Acredito que podes mudar o Mundo. Acredito que mesmo que a vida
traga as piores coisas, é possível sobreviver. Acredito que existem heróis,
como os da banda desenhada, e que esses heróis são justamente feitos desses
pormenores que ninguém vê.
São pormenores... mas eu fecho os
olhos e imagino-te assim: ao pormenor. E essa visão de ti é tão perfeita que,
às vezes, por entre a saudade, esboço um sorriso e acredito, de coração, que
tudo vale a pena. Sim! São pormenores. Eu sei os teus, tu sabes os meus e ambos
sabemos que não há distância que possa roubar-nos as coisas que partilhámos no
pormenor de um olhar.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet