sábado, 8 de setembro de 2012

Pormenores



Para o meu irmão

São pormenores. A maneira como pousas o braço sobre os meus ombros ou como me despenteias de propósito, em tom de brincadeira. As conversas sobre tudo e nada. A apresentação deste livro ou daquele programa que achas que poderei gostar.
São pormenores. Quando páras e olhas para mim com orgulho. Quando me aborreces por horas para me explicares que estou errada relativamente a algo e como, no fim de me fazeres chorar com as palavras duras que eu precisava de ouvir, abres um sorriso e me convidas para um café.
São pormenores. A forma como me defendes quando alguém me ataca ou diz mal de mim. O interesse que tens pelas pequenas coisas que eu faço. A tua felicidade nas minhas vitórias e o teu incentivo para eu continuar sempre.
São pormenores. O teu sorriso, de olhar pousado no vazio. A forma como seguras o cigarro entre os dedos e conversas por horas sem sequer te lembrares de o acender, como se até os vícios fossem secundários quando estás comigo.
São pormenores. O olhar atento, o pensamento distante, o sorriso que é capa e carapaça mas, ainda assim, também é verdade. A força, o discernimento, a luta constante contra o que julgas que está errado no Mundo.
São pormenores. A maneira interessada mas ausente como abres o jornal, o entusiasmo com que falas de jogos novos e te envolves nos interesses mais profundos da política e economia, como se soubesses um pouco de tudo. A forma como me deixas entrar nos espaços recônditos das tuas piores memórias e, ao mesmo tempo, me dás esperança num futuro melhor.
São pormenores. Quem olha para ti não vê. Não sabe que tens esse espírito que anima os lugares por onde passas ainda que por dentro não estejas bem. Não sabe que és capaz de passar da pessoa mais carinhosa do mundo à mais dura se assim tiver de ser. Quem olha para ti não sabe que és sensível e forte ao mesmo tempo, que passaste pelas provações do tempo e ainda estás de pé, disposto a fazer sorrir cada pessoa que por ti passe.
Quem olha para ti não sabe que tens uma alma rica. Que dás a mão aos amigos e até aos estranhos, se os vires mal. Quem olha para ti diz que te vê e não sabe que tu és um milhão de pormenores que te tornam especial.
Podem ser pormenores mas tu falas e eu acredito. Acredito que podes mudar o Mundo. Acredito que mesmo que a vida traga as piores coisas, é possível sobreviver. Acredito que existem heróis, como os da banda desenhada, e que esses heróis são justamente feitos desses pormenores que ninguém vê.
São pormenores... mas eu fecho os olhos e imagino-te assim: ao pormenor. E essa visão de ti é tão perfeita que, às vezes, por entre a saudade, esboço um sorriso e acredito, de coração, que tudo vale a pena. Sim! São pormenores. Eu sei os teus, tu sabes os meus e ambos sabemos que não há distância que possa roubar-nos as coisas que partilhámos no pormenor de um olhar.

Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet

8 comentários:

  1. Tenho um irmão mais velho que é a minha vida. Li todas as palavras emocionada, a senti-las com o amor e cumplicidade que espelham e entendo-as profundamente... maravilhoso.

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  2. Sentido e sincero!
    Linda declaração de amor filial.
    É raro fazê-lo, hoje em dia e é bom que alguém consiga descrever de maneira tão bela a ligação que une um irmão a uma irmã.
    Muito, muito, emocionante!

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  3. Tânia20:42

    Que homenagem maravilhosa. O teu irmão deve estar orgulhoso. E o teu talento para a escrita, como sempre, é mágico!

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  4. Sophia21:17

    Ao ler o teu texto, a tua declaração, homenagem fez-me lembrar uma música: "The reason"...em que não somos perfeitos, mas aos olhos de quem gostamos, tudo são pormenores!

    "A reason to start over new
    And the reason is you..."

    Parabéns pelo excelente texto e homenagem! * Sophia

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  5. jose lessa15:53

    Ao ler, ainda fico mais triste por não ter tido uma irmã....lindo

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  6. escreves com tanta alma...:)

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  7. Anónimo12:02

    mto boa
    #vtr

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