Setembro. Foi em Setembro que eu nasci na consciência de
quem sou. Foi em Setembro que aprendi a amar o que fica dentro, fora e além de
mim. Intempestiva como as marés e saudosa como os ventos, foi em Setembro que
aprendi que posso permanecer de pé mesmo se tiver lágrimas nos olhos e um
coração dorido.
Setembro. Foi em Setembro que abracei as palavras pela
primeira vez e foi em Setembro que decidi, na alvorada da minha infância, que
seria uma escritora de coração. E foi em Setembro que me condenei a viver uma
vida de papéis brancos e de caneta na mão, com as mágoas nas pontas dos dedos e
a saudade infiltrada nos locais mais inóspitos da alma. Mas também foi em
Setembro, numa tarde chuvosa de Setembro, que uma vez, uma única vez, me
ofereci para desistir de tudo o que já tinha construído com palavras.
Foi só uma vez, acreditem em mim! Foi só uma vez, em
Setembro. No calor do momento, um grito e um gesto. Um pensamento certeiro nas
palavras atiradas ao ar. Foi só uma vez mas eu quase desisti das palavras por um
amor maior. Foi em Setembro: os meus lábios não souberam calar o medo num
beijo. E eu perguntei se devia deixar de escrever. Falava a sério, embora só o
tenha dito uma vez e sem querer, porque o perguntei a alguém que me fazia viver
em poesia, que era poesia, que eu amava como a poesia.
Setembro. Foi em Setembro que ganhei a consciência do fim.
Foi em Setembro que aprendi que algumas pessoas não podem ficar. Que outras não
querem ficar. Que a morte ou o tempo se anunciam e a nossa alma quebra. Foi em
Setembro. A consciência roubou-me a felicidade. A criança morreu em mim e os
contos de fadas foram morar para o horizonte distante que se tornou,
entretanto, a minha maior fantasia.
Setembro. Foi em Setembro que conquistei mais um sonho. Foi
em Setembro que avancei sem medos, fugindo de tudo o que me magoara. E foi em
Setembro que, anos depois voltei, disposta a enfrentar tanto quanto tinha
deixado para trás.
Eu nasci com a alma de Setembro porque foi nos muitos
Setembros da vida que eu aprendi a rir, a chorar, a sofrer, a amar, a seguir. E
é por isso que o velho calendário na parede marca sempre o mesmo mês, como se o
tempo se suspendesse nas memórias que ali guardei.
Setembro. O meu Setembro de fel e amargura. O meu Setembro
de felicidade e contentamento. Sim! Foi em Setembro. Foi em Setembro que eu me
tornei tudo o que sou!
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet (Shay Mitchell)
lindoo
ResponderEliminarlindo...
ResponderEliminarUm magnífico setembro, apesar de mitigado. Um belo mês que representa tanto para a autora.
ResponderEliminarSe o que se inicia for tão cheio de emoções como os que se contam aqui, imagino que se poderá contar com muitos mais textos tão belos.
Setembro foi um mês de grandes decisões!!! :D Parabéns pelo texto!!!
ResponderEliminarFoi em Setembro que te conheci. Foi esse mês que te trouxe até mim e fez do meu mundo, um mundo melhor. E agora, na tua companhia, os outros meses vão passando até que comemoro mais um ano que passa quando chega Setembro. Mais um Setembro que chega, é verdade, mais um mês que me dá a oportunidade de passar bons momentos contigo e com os teus lindos textos que adoro ler!
ResponderEliminarBeijinho enorme mana :)*
Muito lindo,gostei muito.Seus textos são sempre muito bons,sucesso sempre
ResponderEliminarO teu ciclo de vida choca inevitavelmente com Setembro. Foi também em Setembro que te conheci, já há uns aninhos hihihi. No entanto, gosto de encarar o mês como o despontar para uma nova fase, para uma nova vida, ou simplesmente uma outra versão da que existia antes, já que em Setembro se inicia sempre um novo ciclo, nem que seja de aulas xD
ResponderEliminarGostei muito do texto, principalmente por ser sentido.
Um beijinho