Este texto não é patrocinado. Podia ser, mas não é. Porque não precisa de o ser para que eu insista que quero fazê-lo. Porque tenho mil motivos para o fazer e mais um, que surge sempre inesperado, quando julgo que já terminei a lista.
Enquanto o escrevo, bebo um copo de vinho tinto. Não é um copo de vinho qualquer. É deles! Um vinho feito com amor e uvas também. Um vinho chamado Lili, que é a cadelinha da Adega e ao qual, definitivamente, sendo preciso ou não, ninguém põe trela. Deixamos o vinho verter, livre, pela garganta. É intensamente suave. Uma espécie de amigo-de-todas-as-horas, que gostamos que convidar para jantar e para depois do jantar e enquanto fazemos o jantar... aquele que gostamos de apresentar aos outros amigos, porque se dá bem com toda a gente.
Beber os vinhos da Adega é provar um sabor de família. Os vinhos contam a história da Sofia e da Ana, ilustradoras exímias de rótulos e portadoras do sonho que é também dos pais. Os vinhos contam a história da Catarina e do David e sabem à sua coragem incomum, trazendo a força das decisões que vão além dos limites da caixa. Os vinhos contam a história da simpática Lili, que cumprimenta toda a gente com uma simpatia canina e um abanar de cauda. Mas os vinhos deles também contam a história do meu avô e da minha avó. Dos meus irmãos. Dos meus pais. Das vindimas e das festas na aldeia. Dos pedidos meninos às estrelas que, em Alfafar, se viam melhor. E conta a história das vindimas que viveu a Fernanda e das que viveu o Raul. E conta a história do Júlio e do Carlos e do Zé e da Vanessa. E conta a história de todos os nomes que mergulharam nos copos e sorriram.
A Adega, como eu, é menina da cidade. Na verdade é a única Adega lusa que o é. Da cidade. E, além da história das gentes, os vinhos contam também essa história. De Alenquer à Tapada da Ajuda, com sabor de Tejo e Colina, eles trazem Lisboa lá dentro. Engarrafada, como o ar de Fátima, mas de uma forma mais plena e honesta. E a experiência é, não me entendam mal, quase religiosa, porque há muito mais do que madeiras e travos de fruto vermelho nos sabores. Há plenitude, entendimento, vontade, trabalho e doses infindáveis de sentidos e sentimentos. É assim que, numa velha oficina, se iniciou a artesã arte do engarrafamento de poesia líquida.
Dou mais um gole no meu Lili. E mais uma vez descubro-lhe a tenacidade envolvente da viagem em que me leva. Sou menina. Sou mulher. Sou cidade. Um tanino – talvez lento – que abriu melhor aqui e que quer brindar a vida, porque a ama.
A sala das barricas é a minha favorita. Adoro a forma como os sapinhos do logótipo tentam trepar pela madeira, como se consagrassem a poção que têm dentro. Adoro o cheiro agridoce da madeira e do vinho. A sensação fresca de algo que aguarda, no casulo, pelo momento certo para sair. Lembra-me a vida. Lembra-me Saramago e o seu conselho: Não tenhas pressa, mas não percas tempo. Nenhum tempo se perde. Tempo não é coisa que se perca quando – humanos – já temos tão pouco!
Eu, por exemplo, hoje usei o meu para isto. Para escrever este texto sobre a Adega, que não é uma adega mas A Adega, porque encontro nela referência, não só para os vinhos, mas para a vida e o mundo.
A Adega é o local onde sabemos que vamos encontrar um abraço de simpatia e um copo cheio nos dias mais árduos. A Adega é o espaço que nos ensina o valor da família, do sonho, do trabalho, do cuidado com os outros. E é por isso que este texto não precisa de ser patrocinado... e não o é! Porque há pessoas e locais que merecem a referência. Porque há sentimentos que têm sabores e cheiros e experiências sensoriais agarradas. Porque esta adega, a Adega, é assim...
E... vá... embora este texto não
seja patrocinado, eu cedo aos pedidos mudos de quem conhece o espaço e já me
viu nele... Aqui fica um movimento circular de mão sobre a nuca. Momento Publicitário.
Mas deixo também um segredo...
A parte importante não é a publicidade... é o momento!
Pensem nisto. Ou melhor, não pensem! Visitem a Adega Belém... e vão entender!