O grito - Edvard Munch
louca. essa noção de diferença incompreendida que se esbate e escorre nos olhos dos outros como um véu de demência, de loucura, de estupidez até.
quem somos, além de loucos a correr em direcções cruzadas, embatendo contra tudo, contra todos, os que nos tocam no caminho? louca. louca como foram todos os que fizeram a diferença.
afinal, não é loucura viver fechado. não é loucura correr para consumir e desperdiçar banalidades. não é loucura destruir o mundo em que vivemos, sem qualquer preocupação. não é loucura a guerra. não é loucura a morte fortuita de tantos quantos "não interessam". não é loucura porque são todos igualmente loucos e ser louco tornou-se normal.
louca. sê sempre louca, onde quer que vás. fala com o ar, com o fogo, com a terra e com a água. invoca o espírito daqueles que, como tu, foram loucos no seu tempo. sê sempre louca. louca de acreditares na felicidade, nos contos de fadas, num mundo melhor.
vão chamar-te muitas coisas. louca. crente. criança. porque todos eles se esqueceram. mas nós não.
louca. nunca serás como eles. nunca te ajoelharás aos mesmos deuses, à mesma ironia de não haver deuses, à sociedade que corre eternamente rumo ao fim da sanidade. sê sempre louca! louca na tua maneira de o ser. loucamente envolvida pelo que realmente importa. sê louca como és e, talvez um dia, louca, crente, criança, a nossa loucura possa superar a de todos eles e o mundo se torne um lugar melhor para viver.
Marina Ferraz