Eu fui uma menina com um sonho. Fui. Juro que fui!
Podem perguntar à D. Maria dos Anjos, esse anjo da minha primária. Ela viu-me ser. Menina. Com um sonho. Composições feitas com temas diversos, muitas delas com o dedinho mágico de revisão da minha avó, chegavam-lhe às mãos. Algumas falavam da rosa vaidosa que morria e outros da beleza da aldeia e do ruído da cidade. Alguma delas a fez olhar para mim e dizer-me: “um dia, vais ser escritora”. E esse era o sonho. O sonho que ela já tinha ajudado a edificar, pedindo-me para escrever um “i”. A letra que definiu toda a minha vida, pondo pontos nos “is” sobre o que eu haveria de ser.
Eu fui uma menina com um sonho.
Também podem perguntar à minha mãe. A minha mãe contaria a história da tortura. Da criança, de caderno na mão, entrando no meio de toda e qualquer tarefa. “Dá-me um tema” era a minha versão pessoal do “Falta muito para chegar?”. Da criança que continuaria esta trama na adolescência. “Dá-me um tema” Desesperada, a mexer um tacho de arroz com ervilhas e cerca de mil temas depois, ela sugeriria a essa menina de 13 anos que escrevesse sobre ervilhas. Foi o dia em que concluímos que eu escreveria qualquer coisa. Foi o dia em que concluímos que eu não escreveria o expectável sobre qualquer coisa. Foi o dia em que concluímos que eu usaria qualquer coisa para falar da sociedade… e, em particular, ervilhas para falar da pobreza e da falta de oportunidades em regiões rurais.
Eu fui uma menina com um sonho.
Podem perguntar àquela professora do terceiro ciclo que, lendo-me, me disse que eu não sabia escrever. Mesmo depois de eu ter feito um texto que o meu irmão lera, exclamando a seguir “fogo, isto está mesmo bom!”. Também podem perguntar à minha professora de português do secundário, que leu um romance inteiro escrito à mão, pacientemente, elogiando cada página, se não pela literatura, pelo esforço. Ou a um dos meus explicadores de matemática, que se perdiam nos meus poemas, quando num gesto de ativa fuga aos números, eu os aliciava para as rimas. Entretanto, meu sonho era um cálculo simples… igual a infinito… e o único que aprendi com facilidade.
Eu fui uma menina com um sonho. Fui. Juro que fui! Até que, um dia, deixei de ser.
Em algum momento temos de definir onde começa a linha. Para mim, ela começou quando o meu sonho – esse de escrever – se transformou num objetivo – esse de escrever. Mudar a forma de pensar as coisas muda tudo. E é por isso que considero que o dia em que me sentei para criar este blog, decidindo, finalmente, dar as minhas palavras, não só com adultos significativos mas com o mundo, representa para mim o início de uma carreira como escritora.
(Eu sei, muitos vão dizer que não é um blog que representa o começo de uma vida profissional. Mas lembremos a tradição nacional onde muitos políticos traçam o início das suas referências em cursos universitários que nem fizeram.)
Eu sou uma mulher com um objetivo.
O meu sonho sobreviveu 10 anos sendo apenas isso. O meu objetivo, que o elevou, já tem 18. E, com ele - com o objetivo - defino o começo da carreira que chega, no último dia do mês de janeiro, à maioridade: data que assinala a primeira publicação neste blog.
Sobre o blog – que teve 3 nomes e muitos momentos - perguntam-me “porquê kkadreamsland”. Eu fui uma menina com um sonho. Uma menina que ficou conhecida, no seio familiar, como Kekeia, por demorar a dizer “Raquel”, o seu segundo nome. E, quando transformei o meu sonho num objetivo, criei este mundo dos sonhos, condensado em espaço digital, para guardar a menina que foi e a fazer sobreviver às agruras da vida. Não é a Kekeia que vos escreve. Nem é o sonho que alimenta o que me faz autora. Mas a Kekeia e o seu sonho foram a alavanca para o hoje. Deixo que evoluam e se transformem numa Marina e seu objetivo, mas não os esqueço e não os abandono. Alimento-os de memórias e sento-me à mesa nessa refeição. Observamos juntos o futuro e todas as suas possibilidades.
Eu fui essa menina. Com esse sonho.
Sou esta mulher. Com este objetivo.
O meu objetivo faz com que me levante todos os dias. É o causador da maior parte das minhas lágrimas. É o responsável pela maior parte dos meus sorrisos. É o motivo pelo qual espero nunca me reformar. É o motivo pelo qual gostaria de morrer com uma caneta na mão (ou de cabeça tombada sobre o teclado, o que é menos poético, mas mais realista).
Se o destino me for favorável, na minha ausência alguém me lerá.
Aí terei sido. Menina. Com um sonho. Mulher. Com um objetivo. E… finalmente… palavra. Com uma missão.
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