Se me perguntarem qual o meu maior medo não saberei dizer. A
vida não me criou na coragem e o mundo não me aclamou heroína. Sou humana.
Sabem os Deuses quantos medos me correm nas veias. Mas, se me perguntarem do
que mais tenho medo, não saberei dizer.
Acho que tenho medo de ter medo. Medo de não saber enfrentar
de cabeça erguida o que quer que venha. Tenho medo do silêncio e do
esquecimento. Tenho medo que a vida me ponha à prova nos vales da solidão e eu
não saiba bastar-me.
Às vezes é assim. Não importa se o mundo nos puxa e nos mói.
Não sabemos. E é nessa inconsciência que a loucura ganha raízes, nos perfura a
alma e nos corrói os sonhos até não sermos mais do despojos de tudo o que poderíamos
ter sido. E, por isso, também tenho medo de não saber...
Não deixar nenhuma rua por trilhar, nenhuma pedra da calçada
sem pegadas, nenhum vinho sem prova, nenhum sonho por realizar, nenhum amor por
viver. Queremos tanto. Somos tão plenos de desejos. O medo é natural. É-nos
inato como uma respiração. Todos nós temos medo de acordar um dia no Outono dos
tempos para descobrir que deitámos fora as oportunidades do mundo. A plenitude
está nisso mesmo: no desejo e na falha e em todas as coisas que ficam de
permeio.
Não sei do que mais tenho medo. Posso enumerar os meus amores
na singularidade e contar os amigos pelos dedos das mãos. Mas não posso dizer
que medos me assombram sem despertar outros fantasmas, de temores que foram e
de temores que estão por devir.
Venha o que vier... tenho medo. Tenho medo mas sou forte. E,
quando o medo me assombrar, sei que hei-de arranjar maneira de sobreviver.
Mas sobreviver é pouco. Não é? Acordar de manhã e rastejar
até à morte. Sobreviver é não viver de todo. E também tenho medo disso. Medo de
sobreviver a uma vida sem vida. Medo de acordar de manhã a esperar a noite e de
acordar um dia a desejar que a morte me tome nos braços.
Não sei do que tenho mais medo. Mas não preciso de saber. O
medo é apenas uma barreira em nós. Há-de estar sempre presente. Mas vale a pena
construir degraus de sonhos e superar as barreiras. Vale a pena desistir da
sobrevivência fria e procurar um pouco de fogo em nós.
Não é o medo que nos define. Não é o medo que nos move. A
maior expressão da coragem está em erguer a cabeça e admitir que tememos tudo
mas que, mesmo assim, não desistimos de nada.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
Não tem de quê.. se não tinha reparado, eu não dei o texto como meu, até porque tinha posto aspas ;) nem me lembrava de onde tinha tirado o texto, mas infelizmente não foi deste blogue que tirei... uma boa continuação *
ResponderEliminarSim, medo de ter medo!!! É a maior das verdades!!!
ResponderEliminarMas será que alguma vez vais escrever alguma coisa abaixo do nível "muito bom"? ; )
ResponderEliminarAdorei, como de costume.
Paula Lobo