Provavelmente nunca darei nome a uma rua. Mas nunca pensei ter medo de que viesse a surgir uma rua em minha homenagem. Até hoje...
Em Mem Martins existe uma rua. Com o nome de uma escritora. Consagrada. Amada. A Menina do Mar da nossa praia. A Fada Oriana do nosso imaginário. O Cavaleiro da Dinamarca da nossa peregrinação. O Rapaz de Bronze dos jardins da nossa mente. “Porque os outros se mascaram, mas tu não...”. Falo, claro, de Sophia de Mello Breyner.
Provavelmente, se abrirem o vosso GPS e digitarem o nome, buscando a localização da rua, não vão encontrá-la... mas ela está lá! Provavelmente, se abrirem o Google Maps e a procurarem, não vão encontrá-la... mas ela está lá! E continua a estar, numa homenagem que foi perdendo uma letra aqui, um conector ali... exibindo a placa onde se lê Sofia de Melo Breyner.
São dois erros, num nome só... um “ph” que vira “f”, um “l” que se perdeu no caminho, um nome que não é o mesmo, embora o seja... dois erros em três palavras (se descartarmos a preposição) e, mesmo se não a descartarmos, metade do nome está errado!
Imaginei, por momentos, que a decisão do nome das ruas fosse muito informal, e que por entre copos de cerveja e larachas com os amigos num tasco qualquer, o responsável tenha olhado e pensado que o absinto o iluminara com uma Oriana verde, anotando o nome num guardanapo e registando-o assim.
Bem.... eu não sabia, confesso, onde se registavam os nomes das ruas. Fez-me sentido, perante a situação, que fosse no contexto mais ébrio e informal. Mas fui pesquisar. Parece que, afinal, a decisão é ponderada pela câmara municipal de cada concelho que, muitas vezes em parceria com as juntas de freguesia, delibera o nome em reunião oficial, consultando e buscando o parecer de entidades históricas e culturais antes de proceder aos registos oficiais de toponímia e à respetiva comunicação em cartórios, havendo depois a afixação do nome e a sua publicação em edital. Nem que apenas uma pessoa fosse parte de cada uma das fases do processo, estaríamos, portanto, a falar de cinco pessoas que não viram nenhum dos erros num dos nomes mais emblemáticos da nossa literatura!
Provavelmente nunca uma rua terá o meu nome. Mas, até hoje, se me perguntassem, não me importaria que a vida desse uma volta que gerasse essa homenagem. Seria giro ter uma rua, num tempo em que para se ter casa já é preciso, quase, entrar pelos mundos do meretrício... Só que, subitamente, todos os meus traumas regressaram. Se eu não consigo que nem os profissionais do telemarketing me liguem sem me chamar o nome errado... imagine-se!
Então, antes que venha o dia de haver uma rua “Mariana” Ferraz, e sendo que sei o país em que vivo... por favor, peço encarecidamente, não deem o meu nome a uma rua!
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