Era dia de operação policial e mandava a rusga que se visse cada esquina, cada espaço, cada pessoa...
Os agentes da orgulhosa nação travaram a Liberdade, que passava. Disseram-lhe que se virasse e encostasse as mãos à parede. Era preciso revistá-la, ter a certeza que não andava por aí, com bens contrafeitos ou armas.
Não a pararam por acaso! A Liberdade, julgaram logo, tinha um aspeto exótico. Seria certamente estrangeira, tal como os Direitos Humanos, a Justiça e o Bom Senso, encostados à mesma parede, de olhos postos no chão. A Liberdade trazia traços próprios, inadequados e fora da caixa, vinha despida de politicamente corretos e cortesias desnecessárias. Quando a mandaram olhar as pedras da calçada, respondeu com dois impropérios secos e fitou quem, como ela, ali permanecia, segurando a parede, que bem pudera ser o muro que ela mesma tinha destruído em Berlim, há tantos anos...
Levaram-lhe as mãos aos bolsos. Deles, tiraram cravos contrafeitos, que certamente serviam de bala. Contentes, violentamente lhe colocaram os braços, antes estendidos, atrás das costas, agrilhoando-os com algemas de aço e insanidade. Levaram-na, no mesmo carro que o Bom Senso, a Justiça e os Direitos Humanos.
Ao chegarem ao posto, descreveram o acontecimento. Esta senhora... - assim se referiram a ela – é uma ameaça e faltou ao respeito às autoridades. E o agente foi fazendo perguntas aos colegas, para preencher o auto. O que lhe encontraram nos bolsos? – perguntou primeiro. Tinha cravos-bala contrafeitos nos bolsos. E o agente continuou: E ao verificarem os bolsos, encontraram Portugal? – os colegas abanaram veemente a cabeça. Não, Portugal não encontrámos...
E o Bom Senso riu-se. E a Justiça riu-se. E os Direitos Humanos riram-se. E a Liberdade riu também, porque era livre, ainda que a prendessem. E os agentes olharam para eles, questionando-os quanto ao riso. Porque se riem? Atiraram, secamente. A Liberdade sorriu abertamente, mas não disse nada. Mas o Bom Senso levantou os olhos do chão, fitou-os, fixando -os nos olhos e disse: É só porque, neste ponto, será ainda mais difícil encontrarem Liberdade se procurarem nos bolsos de Portugal...
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