Um dia, viste uma estrela cadente. À medida que os teus
passos te levavam das nossas palavras para os braços que te embalavam, já sem
toque de carinho, apenas com a memória. Afastavas-te de mim e viste uma estrela
cadente. E soubeste, se não o sabias antes, que havia algo no firmamento que o
dizia. Que o ditava. Eu era tua. Tu eras meu. Isto era certo.
Olhando para o mesmo céu, numa distância que nos doía, demos
por nós a sentir o que não se diz. Que é tão errado cobiçar o que já tem braços
em redor. E tão errado querer viver o carinho que fica além dos braços que nos
embalam. Mas o errado só o é quando o firmamento não quer que seja certo. E
havia a estrela cadente. A que viste. E te disse. Eu era tua. Tu eras meu.
Lutando contra tudo. Contra nós mesmos. Achámos o lugar onde
a estrela tinha caído e chamámos-lhe casa. Nela, fizemos rituais de café na
cama. Nela, fizemos do amor um verbo que se sente e se faz. De mãos dadas,
demos por nós a embater contra o mundo. Primeiro. E, depois, um contra o outro.
Éramos o mundo um do outro. Imprimimos tanta força nessa demanda pela
plenitude, que erodimos a rocha que nos ligava. E perdemos, estou certa, muitas
estrelas cadentes, enquanto deixávamos cair tudo o que nos tornava certos um
para o outro.
Até que os braços que te enrolavam, com o toque de um
carinho que não sentias, eram os meus. E a distância te chamava, como sopro na
distância, era a voz feminina da liberdade. Fingiste que esse murmúrio era
estrela e que o universo dizia outra coisa. E foste. Primeiro para o abraço
libertador da solidão; depois para quem, numa solidão igual à tua, te fez
sentir menos só. E são esses braços que te envolvem, com o toque do carinho que
eu quero dar-te e não posso.
Desejo-te esses braços e esse carinho, com uma honestidade
tão pura que me tolda os olhos e me deixa cega. Mas ainda olho o céu, à procura
da permissão egoísta que me deixe sonhar com a ideia de poder envolver-te mais
uma vez. Olho o céu. E lá está ela. A estrela cadente. Para recordar que as
pessoas mudam depressa, mas os astros não. O firmamento dizia. Ditava. Eu era
tua. Tu eras meu. Isto era certo.
A estrela passou. Ficou a mágoa em mim. E uma ausência
difícil de engolir. Porque quero ardentemente a tua felicidade e não pude
dar-ta, parece errado agora senti-lo. Mas há a estrela cadente. E o destino é o
que é.
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