Conversas sem tom partem de pessoas sem noção. Cada vez mais
desinformadas pelo acesso a notícias falsas. Escritas por dedos oprimidos e
censurados. Não pela política. Pela economia, essa que também rege governos e
os leva a falar. Com tom e para as massas. Mas sem dizer nada.
Bem-vindos ao século XXI.
Relações interpessoais. Que começam com a troca de
fotografias das partes porque os piropos foram proibidos. Ou em sites de namoro
onde se escolhem encontros, deslizando dedos para a direita e para a esquerda,
numa montra que transforma os telemóveis em verdadeiras Red Light Districts
internacionais. E que se fazem na cama, correndo bem até alguém ganhar coragem
de abrir a boca. Usualmente para revelar conhecimentos ao nível da pré-primária
e vazios emocionais dignos de uma jarra de mesa.
Bem-vindos ao século XXI.
Pratos que se fotografam. Com meia dúzia de folhas de
alface. #healthylife. Enquanto se rói um hambúrguer de uma cadeia internacional
e se abocanham batatas fitas. Escravos de aparências. Mas mais das aparências
públicas do que das privadas. Que carece a nossa nudez de pudores quando não há
olhos. Medo dos juízos. Criadores de tendências falsas. Como as pestanas das
modelos que fazem anúncios de máscaras que custam mais do que a conta da luz. E
a conta da luz que sobe, o IMI que sobe, o IVA que sobe. Mas os toureiros não
pagam. Emprego de risco. Como o dos professores que sempre sobem ao estrado
imaginário sentido que entram para o caixão. E até a morte está cara.
Bem-vindos ao século XXI.
Famílias que se reúnem para as fotografias e se afundam no
silêncio dos smartphones à mesa. Partilham com estranhos toda a alegria do
silêncio que se faz. Conversam com essa solidão feita de likes. Não se
conhecem. Até alguém se suicidar. Aí, “era tão boa pessoa”. Pessoa mas objeto,
que logo se atiram às heranças como se fossem a alma do falecido. E, de
repente, zangas. Porque estar vivo é isso.
Bem-vindos ao século XXI.
Pessoas que ainda escrevem. Músicas ou canções ou quadros. E
que são apreciadas na medida em que os influencers gostem. De que as rádios
passem. De que as empresas internacionais divulguem. Ou que se perdem aos
bocadinhos. Monstros. Vejam lá bem.
Bem-vindos ao século XXI.
Copos de droga e veneno que se vertem. Ardem na pele. Antes
adormecessem os sentidos que se forçam a respirar no sufoco da suposta
liberdade. Antes dissessem assim: vou deitar um pouquinho. Acordem-me quando
acabar.
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